Cobertor de pobre
Pedro J. Bondaczuk
Em
tempo de crise, como o atual, os orçamentos (domésticos ou
públicos) encolhem e ficam parecidos com cobertor de pobre: quando
se cobre a cabeça, se descobrem os pés e vice-versa. Principalmente
quando se trata de uma cidade, como Campinas, onde os problemas se
multiplicam de ano para ano, em decorrência do vertiginoso
crescimento populacional, as coisas se complicam ainda mais. As
necessidades aumentam, enquanto os recursos para o seu atendimento
tendem a minguar. E problema não resolvido é problema agravado.
A
cidade precisa de um número considerável de obras de infraestrutura
urbana, que a administração não consegue executar. E não é por
falta de vontade política ou de visão administrativa. O que não há
é dinheiro. Campinas precisa de asfalto nas ruas, por exemplo, em
inúmeros novos bairros surgidos de uns três a quatro anos para cá.
Carece de urgentes obras viárias, como anéis, túneis e viadutos,
que desafoguem o hoje caótico trânsito de suas estreitas ruas e
avenidas. Necessita de ampliação da sua hoje defasada rede de
esgotos, que garanta saneamento básico para a população. Requer a
construção de creches, escolas, praças esportivas, etc.etc.etc.
As
necessidades, como se vê, são múltiplas. Todavia, a Lei de
Diretrizes Orçamentárias, aprovada em abril passado, destina, para
esse ano, apenas 4,6% da receita total do Município para financiar
obras. Claro que esses recursos escassos não dão para nada. Tudo
isso tende a deteriorar ainda mais a já sofrível qualidade de vida
da população.
Não faz
muito, há cerca de vinte anos, Campinas era apontada como cidade
modelo para o País. Hoje, insere-se entre as comunidades urbanas com
maior quantidade de carências sociais. O que arrecada anualmente
sequer dá para cobrir as despesas mais prementes, como folha de
pagamentos do funcionalismo e o serviço de uma dívida monumental,
orçada por alguns em R$ 1,5 bilhão. Campinas pede socorro ao Estado
e ao governo federal, que há muito parecem ter esquecido, por razões
políticas, esta problemática metrópole.
(Editorial
publicado na página 2, Opinião, do jornal Notícia Metropolitana,
em 31 de julho de 2001).
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