Sucessão nas ruas
Pedro J. Bondaczuk
A campanha sucessória para a
Presidência da República está virtualmente nas ruas --- quando mal
chega à metade o mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso ---
depois de superado o primeiro turno das eleições municipais.
A sucessão torna-se tema
político obrigatório, com uma antecedência poucas vezes vista na
história recente do País, o que não deixa de ser um risco para o
atual governo, pois pode comprometer alianças nas votações de
importantes reformas que se impõem, como a administrativa, a
previdenciária e a tributária, entre outras.
Em condições normais, o
assunto tenderia a vir à baila somente em fins do ano que vem ou nos
primeiros meses de 1998. Essa antecipação ocorre por causa das
discussões em torno da emenda constitucional sobre a reeleição
para todos os cargos executivos (prefeitos, governadores e presidente
da República).
Em princípio, pelo menos a
julgar pelas declarações de deputados e senadores, a maioria parece
ser favorável à tese, embora haja claras divisões em partidos
importantes que compõem a base de apoio de FHC, como é o caso do
PMDB, onde o senador José Sarney diverge da cúpula partidária,
certamente de olho em seu próprio retorno ao poder, o que tem
insinuado amiúde.
Há quem, mesmo se dizendo a
favor da reeleição, entenda (e com boa dose de razão) que é
prematuro discutir o assunto agora, achando --- como nós --- que tal
discussão neste momento tende a abrir a campanha sucessória antes
do tempo ideal e, por consequência, esvaziar os dois últimos anos
do atual mandato.
É possível que o presidente
tenha calculado esse risco e se disponha a corrê-lo. Talvez queira
aproveitar um momento que entende como favorável, em decorrência do
sucesso do Plano Real, para tentar garantir logo outros quatro anos
na Presidência, mesmo se arriscando a perder dois. Se der certo,
terá valido a pena.
Convém lembrar, porém, que a
simples aprovação da emenda que permite a reeleição não garante
que Fernando Henrique Cardoso seja automaticamente reeleito. Terá
que enfrentar uma campanha --- que promete ser árdua e bastante
disputada --- como qualquer outro candidato. E pelo visto, terá
concorrentes de peso, com grande cacife eleitoral.
Quem irá julgar se FHC merece
ou não um novo mandato será a população. Para que consiga o
sucesso que pretende, precisará atacar de frente, com urgência,
problemas inadiáveis, dos quais o maior é, sem dúvida, o
desemprego. De qualquer forma, o processo sucessório está nas ruas
e ninguém conseguirá detê-lo daqui para a frente.
Se a reeleição for uma tese
vitoriosa, o presidente terá a oportunidade de postular mais quatro
anos no poder (sem a certeza, reitere-se, de conseguir). Se não...Eu
não correria esse risco!
(Artigo publicado na página
3, Opinião, do Correio Popular, em 8 de outubro de 1996)
No comments:
Post a Comment