Saturday, March 10, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - Sucessão nas ruas


Sucessão nas ruas

Pedro J. Bondaczuk

A campanha sucessória para a Presidência da República está virtualmente nas ruas --- quando mal chega à metade o mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso --- depois de superado o primeiro turno das eleições municipais.

A sucessão torna-se tema político obrigatório, com uma antecedência poucas vezes vista na história recente do País, o que não deixa de ser um risco para o atual governo, pois pode comprometer alianças nas votações de importantes reformas que se impõem, como a administrativa, a previdenciária e a tributária, entre outras.

Em condições normais, o assunto tenderia a vir à baila somente em fins do ano que vem ou nos primeiros meses de 1998. Essa antecipação ocorre por causa das discussões em torno da emenda constitucional sobre a reeleição para todos os cargos executivos (prefeitos, governadores e presidente da República).

Em princípio, pelo menos a julgar pelas declarações de deputados e senadores, a maioria parece ser favorável à tese, embora haja claras divisões em partidos importantes que compõem a base de apoio de FHC, como é o caso do PMDB, onde o senador José Sarney diverge da cúpula partidária, certamente de olho em seu próprio retorno ao poder, o que tem insinuado amiúde.

Há quem, mesmo se dizendo a favor da reeleição, entenda (e com boa dose de razão) que é prematuro discutir o assunto agora, achando --- como nós --- que tal discussão neste momento tende a abrir a campanha sucessória antes do tempo ideal e, por consequência, esvaziar os dois últimos anos do atual mandato.

É possível que o presidente tenha calculado esse risco e se disponha a corrê-lo. Talvez queira aproveitar um momento que entende como favorável, em decorrência do sucesso do Plano Real, para tentar garantir logo outros quatro anos na Presidência, mesmo se arriscando a perder dois. Se der certo, terá valido a pena.

Convém lembrar, porém, que a simples aprovação da emenda que permite a reeleição não garante que Fernando Henrique Cardoso seja automaticamente reeleito. Terá que enfrentar uma campanha --- que promete ser árdua e bastante disputada --- como qualquer outro candidato. E pelo visto, terá concorrentes de peso, com grande cacife eleitoral.

Quem irá julgar se FHC merece ou não um novo mandato será a população. Para que consiga o sucesso que pretende, precisará atacar de frente, com urgência, problemas inadiáveis, dos quais o maior é, sem dúvida, o desemprego. De qualquer forma, o processo sucessório está nas ruas e ninguém conseguirá detê-lo daqui para a frente.

Se a reeleição for uma tese vitoriosa, o presidente terá a oportunidade de postular mais quatro anos no poder (sem a certeza, reitere-se, de conseguir). Se não...Eu não correria esse risco!


(Artigo publicado na página 3, Opinião, do Correio Popular, em 8 de outubro de 1996)


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