Pacto para evitar a recessão
Pedro J. Bondaczuk
O pacto social, tão falado
desde 1984, quando Tancredo Neves iniciou a sua cruzada nacional pela
redemocratização do País, volta a estar na crista da onda, com a
reunião marcada para hoje, em Brasília, entre representantes da
classe trabalhadora, do empresariado e do governo, com o objetivo de
se chegar a um entendimento que torne menos dolorosa a luta contra a
inflação.
De uns tempos para cá, foi
passada, para a opinião pública, a impressão, que acabou por se
arraigar, de que o brasileiro é incapaz de se unir por uma causa
comum. Sempre que se menciona a possibilidade de um acordo, as
pessoas fazem, via de regra, um gesto característico de dúvida,
como se isso não passasse de um absurdo, de uma utopia. E qual a
razão dessa incredulidade?
Há quem sem apegue apenas às
palavras, sem se deter em seu significado. Muitas e muitas ficaram
desgastadas pelo uso e passaram a ser encaradas até com preconceito.
Essas duas palavrinhas, “pacto social”, estão nessa condição,
tantas foram as tentativas frustradas anteriores.
Mas seria mesmo impossível um
entendimento entre os brasileiros? Por qual razão, se em coisas
banais, como a torcida por nossa seleção, por exemplo, se formam as
tais “correntes pra frente” e outras formas mais de união de
pensamentos e até de ação?
O País não é dos atuais
governantes, nem de seu partido, nem dos seus seguidores, mas de
todos nós, que vivemos e trabalhamos nele e lutamos para construir
nesta terra um futuro melhor para nossos filhos. Todos estamos no
mesmo barco e se ele estiver furado, as consequências nefastas serão
gerais.
Portanto, não deve haver
preconceito quanto a um entendimento somente porque ele foi proposto
por políticos que eventualmente não sejam da nossa corrente. Até
porque, caso não se obtenha um pacto, o governo dispõe de
instrumentos para fazer valer o seu plano de ajuste econômico, no
qual está apostando tudo. Portanto, que não se duvide, pactuadas ou
não, novas medidas serão adotadas para manter as taxas
inflacionárias em patamares bem-comportados.
E estas, certamente, tenderão,
somente, a acentuar a recessão que já se manifesta, com
consequências sociais muito dolorosas. Se espanhóis, mexicanos e
israelenses obtiveram seus pactos, qual a razão objetiva para que
não cheguemos, também, a uma solução desse tipo? Ser
intransigente neste instante, recusar-se a ceder um pouco, em dar
anéis para não perder os dedos, é mais do que teimosia: descamba
para o terreno da burrice.
Não foi por acaso que um
político astuto e de larga visão, como foi Tancredo Neves, propôs
esse caminho para a recuperação do País. Perdemos, inutilmente,
cinco anos com choques, os mais variados, que só conseguiram
desarrumar ainda mais a nossa bagunçada economia. Que não se perca
o bonde da história por causa de tolos preconceitos e da postura de
querer levar vantagem em tudo e acabar, na verdade, ficando sem nada,
de tanga.
(Artigo publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 5 de setembro de 1990)
No comments:
Post a Comment