Wednesday, March 14, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - Pacto para evitar a recessão


Pacto para evitar a recessão



Pedro J. Bondaczuk


O pacto social, tão falado desde 1984, quando Tancredo Neves iniciou a sua cruzada nacional pela redemocratização do País, volta a estar na crista da onda, com a reunião marcada para hoje, em Brasília, entre representantes da classe trabalhadora, do empresariado e do governo, com o objetivo de se chegar a um entendimento que torne menos dolorosa a luta contra a inflação.

De uns tempos para cá, foi passada, para a opinião pública, a impressão, que acabou por se arraigar, de que o brasileiro é incapaz de se unir por uma causa comum. Sempre que se menciona a possibilidade de um acordo, as pessoas fazem, via de regra, um gesto característico de dúvida, como se isso não passasse de um absurdo, de uma utopia. E qual a razão dessa incredulidade?

Há quem sem apegue apenas às palavras, sem se deter em seu significado. Muitas e muitas ficaram desgastadas pelo uso e passaram a ser encaradas até com preconceito. Essas duas palavrinhas, “pacto social”, estão nessa condição, tantas foram as tentativas frustradas anteriores.

Mas seria mesmo impossível um entendimento entre os brasileiros? Por qual razão, se em coisas banais, como a torcida por nossa seleção, por exemplo, se formam as tais “correntes pra frente” e outras formas mais de união de pensamentos e até de ação?

O País não é dos atuais governantes, nem de seu partido, nem dos seus seguidores, mas de todos nós, que vivemos e trabalhamos nele e lutamos para construir nesta terra um futuro melhor para nossos filhos. Todos estamos no mesmo barco e se ele estiver furado, as consequências nefastas serão gerais.

Portanto, não deve haver preconceito quanto a um entendimento somente porque ele foi proposto por políticos que eventualmente não sejam da nossa corrente. Até porque, caso não se obtenha um pacto, o governo dispõe de instrumentos para fazer valer o seu plano de ajuste econômico, no qual está apostando tudo. Portanto, que não se duvide, pactuadas ou não, novas medidas serão adotadas para manter as taxas inflacionárias em patamares bem-comportados.

E estas, certamente, tenderão, somente, a acentuar a recessão que já se manifesta, com consequências sociais muito dolorosas. Se espanhóis, mexicanos e israelenses obtiveram seus pactos, qual a razão objetiva para que não cheguemos, também, a uma solução desse tipo? Ser intransigente neste instante, recusar-se a ceder um pouco, em dar anéis para não perder os dedos, é mais do que teimosia: descamba para o terreno da burrice.

Não foi por acaso que um político astuto e de larga visão, como foi Tancredo Neves, propôs esse caminho para a recuperação do País. Perdemos, inutilmente, cinco anos com choques, os mais variados, que só conseguiram desarrumar ainda mais a nossa bagunçada economia. Que não se perca o bonde da história por causa de tolos preconceitos e da postura de querer levar vantagem em tudo e acabar, na verdade, ficando sem nada, de tanga.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 5 de setembro de 1990)

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