Estrada em construção
Pedro J. Bondaczuk
O sucesso pode ser comparado a
uma estrada em permanente processo de construção em um terreno
acidentado. Não se trata, pois, de rodovia absolutamente reta, que
seria fácil de construir. Às vezes, precisa contornar obstáculos
virtualmente irremovíveis, mediante curvas, o que a torna mais
extensa. Outras tantas, desemboca em pântanos, que precisam ser
drenados e aterrados. Há ocasiões em que se requer a construção
de pontes e viadutos, para atravessar rios ou abismos
intransponíveis. Não raro, se impõe que se façam túneis, em
montanhas que não apresentem possibilidades de desvios em curvas.
Há, pois, que se superar obstáculos, obstáculos e obstáculos,
muitos e incontáveis obstáculos para a construção dessa rodovia
sem-fim.
Ao contrário do que muita
gente pensa, o sucesso não é uma meta, um alvo, um fim, um objetivo
a ser alcançado. É o “caminho” para que isso ocorra. O
fracasso, por seu turno, vem a ser a desistência da superação dos
obstáculos que permita a continuidade da construção dessa estrada.
É o desânimo, o temor, a indolência, a falta de amor próprio e de
imaginação para se buscar (e encontrar) soluções.
O psicólogo norte-americano
A. Robbins, que foi conselheiro pessoal do ex-presidente Bill
Clinton, definiu da seguinte forma esse conceito sumamente subjetivo
e abstrato: “Sucesso é o processo contínuo de esforço para
tornar-se maior. É a oportunidade de continuar crescendo emocional,
social, espiritual, fisiológica, intelectual e financeiramente,
enquanto se contribui de uma forma positiva para os outros”.
Entre as tarefas tácitas,
implícitas que recebemos ao nascer, a mais importante, da qual
jamais podemos abrir mão, é a da construção de um homem, no
sentido mais grandioso e absoluto: biológico, emocional, social,
intelectual etc. Não me refiro a filhos. Não se trata, também, de
construir nenhuma Galateia, como se fôssemos poderosos Pigmaliões.
O homem que temos que construir somos nós mesmos. Podemos
arregimentar aliados, é verdade, mas a tarefa é nossa, pessoal,
individual e intransferível.
Compete-nos extrair, do âmago
do nosso ser, o máximo da imensa força de que a natureza nos dotou,
cujo alcance e intensidade sequer conhecemos. Só os descobrimos
quando precisamos dela. O esforço tem que ser sem tréguas para nos
tornarmos maiores e melhores a cada dia, a cada hora, a cada minuto
caso seja possível, por mais tênue e imperceptível que venha a ser
esse avanço.
Nem sempre (ou quase nunca)
essa progressão será simultânea em todas as direções. Se puder
ser, tanto melhor. Ora, poderemos progredir no terreno emocional, ora
no afetivo, ora no espiritual, ora no fisiológico, ora no biológico
(com o fortalecimento do nosso corpo), ora no social, e assim por
diante. O importante é não deter, jamais, essa evolução. É
caminhar, sempre e sempre, para frente, a despeito de tudo e de
todos.
Difícil? Sem dúvida! Mas
nunca podemos perder de vista o fato de que estamos construindo um
“homem vencedor”: nós mesmos! O fracasso, portanto, será fatal,
embora não seja (às vezes é) irreversível, posto que, enquanto
houver vida, sempre teremos chances de consertar erros, recobrar
forças, concertar alianças e tornar a avançar.
Meu pai costumava dizer,
sempre que eu o desobedecia ou que deixava de seguir algum de seus
conselhos, nitidamente lógico, sensato e construtivo: “Lembre-se
que só você vai dormir na cama que arrumar”. Ou seja, que as
consequências dos meus atos seriam arcadas por mim, apenas por mim,
e por mais ninguém.
A estrada do sucesso, porém,
nunca fica acabada. Sempre haverá montanhas a contornar, túneis a
perfurar, pontes e viadutos a construir, pântanos a drenar e a
aterrar. Nós é que acabamos antes dela. Se nos tornamos, de fato,
pessoas melhores e maiores, se nossa evolução foi ou não
suficiente para que nos considerem bem-sucedidos e dignos de
imitação, jamais saberemos. Pouco importa.
Caso contrário, ou seja, se
fracassarmos, ninguém precisará nos comunicar. Saberemos de antemão
e no momento exato em que nos recusarmos a continuar construindo (já
nem digo pavimentando) a nossa estrada. Poderemos, por exemplo, não
ter a visão óbvia de que determinadas montanhas não comportam
túneis e que, embora se prolongue o percurso, o mais sensato seria
as contornar. Ou achar que não temos recursos para construir
indispensáveis pontes que liguem os dois extremos de um abismo ou as
duas margens de um rio. Ou entender que é trabalhoso em demasia
drenar e aterrar pântanos.
Os motivos (ou pretextos) dos
fracassos são inúmeros, incontáveis e ninguém vai querer saber se
tínhamos ou não razão para desistir e bater em retirada, com “o
rabo entre as pernas”. É como se diz nos quartéis: “aos
perdedores, as batatas”. Ou seja, lhes são determinadas, sempre,
as tarefas mais comezinhas, humilhantes e banais, já que as
gloriosas e exemplares são destinadas aos que têm ganas de vencer.
Na vida, também é assim.
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