Tripé da crise
Pedro J. Bondaczuk
O principal foco da crise
brasileira, que se arrasta desde 1982, quando o País descobriu,
estarrecido, que o propalado “milagre econômico” foi uma balela,
fundamenta-se num tripé: ausência de um projeto nacional definido
que comprometa a maioria dos cidadãos, a incapacidade dos partidos
de interpretar os anseios e as necessidades da sociedade e o
crescente descrédito do Poder Executivo, que chegou a ser absoluto
durante o governo do presidente Fernando Collor.
Como se observa, as soluções,
propaladas ultimamente na imprensa, não passam, de remendos, de
tapa-buracos, de paliativos. É necessário que se chegue ao âmago
da questão, à sua raiz, para que o Brasil tenha condições de
aspirar o desenvolvimento autossustentado e não se limitar, como
agora, a apenas evitar de andar para trás.
Em termos econômicos, por
exemplo, o País não definiu a vertente que pretende seguir.
Alterna, caoticamente, um capitalismo nacional, com princípios
associativistas, mormente com os Estados Unidos e com um tímido
internacionalismo, no caso a abertura ampla para o mercado mundial.
Como se observa, tratam-se de
caminhos contraditórios e até conflitantes. Com isso, recursos
bastante escassos, tanto financeiros quanto humanos, acabam sendo
malbaratados, agravando em muito a crise.
No terreno político,
observou-se, durante as eleições presidenciais de 1989, a falta de
sintonia dos partidos tradicionais, os cinco mais antigos, com os
eleitores. Tanto é que as teses defendidas pelo PMDB, PDT, PT, PTB e
PFL não empolgaram os brasileiros, que acabaram por entrar no barco
furado de um até então incipiente e quase desconhecido PRN, que
pregava uma pretensa modernidade, vaga e mal definida.
Disputas entre caciques
dividiram as agremiações mais antigas e teoricamente já
consolidadas. Foi o caso, por exemplo, do PSDB, de onde saiu Itamar
Franco para se integrar na chapa de Fernando Collor.
Na verdade, a impressão que
os partidos passam à sociedade é a de não serem mais do que meras
siglas, muitas até mesmo de aluguel, onde ideologias, as mais
conflitantes e diversas, se acotovelam e findam por se acomodar.
O complemento do tripé que
caracteriza a crise nacional é a falta de credibilidade do Poder
Executivo, em parte agravada pela própria característica
institucional consagrada na Constituição promulgada em 5 de outubro
de 1988 – que por sinal ainda carece, em boa parte de seus
dispositivos, da competente legislação complementar que a
regulamente.
A nova Carta Magna é,
eminentemente, parlamentarista e, no entanto, o regime foi mantido
como presidencialista. Nessas circunstâncias, um presidente só
teria condições de terminar seu mandato, com relativo sucesso, em
duas circunstâncias. A primeira seria a de contar com maioria
absoluta no Congresso, que não foi o caso de Collor. A segunda, que
fosse um político negociador, como Tancredo Neves por exemplo, com
livre trânsito em todos os partidos e habilidade para forjar
alianças. Alguém que aliasse ao carisma um raro talento
diplomático. Que não se fiasse simplesmente nos 35 milhões de
votos obtidos nas urnas e não traísse a confiança depositada pelos
eleitores. Evidentemente, este homem nunca chegou a ser Fernando
Collor.
(Artigo publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 8 de outubro de 1992)
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