Largada na corrida sucessória
Pedro J. Bondaczuk
A campanha sucessória
paulista entra, hoje, na fase de definições, com a realização da
convenção estadual do PMDB para homologar a chapa Orestes
Quércia-Almino Afonso para a disputa de 15 de novembro próximo.
Graças a uma hábil manobra do presidente nacional da agremiação,
deputado Ulysses Guimarães, as últimas arestas foram aparadas
durante a semana e o partido (conforme previmos reiteradamente)
conseguiu se unir novamente. Agora é a hora de se deixar de lado
eventuais ressentimentos e questões de menor importância, porque a
batalha mal está começando.
De acordo com as pesquisas de
opinião mais conceituadas, a liderança, hoje, das preferências do
eleitorado paulista está com o postulante do PDS, deputado Paulo
Maluf. Mas um fato deve ser ressaltado: o vice-governador Orestes
Quércia, se não aumentou o seu porcentual desde que as primeiras
prévias foram realizadas, também não o diminuiu. Permanece
rigorosamente nos mesmos 24% registrados no mês de março, mesmo com
a desunião que se vinha verificando no PMDB. Apenas esse fato já é
suficiente para viabilizar a sua candidatura.
O empresário Antônio Ermírio
de Moraes, por outra parte, foi colhido por dois fatos ocorridos à
sua revelia, fazendo com que sua campanha enfrentasse sérios
obstáculos. O primeiro foi a estranhíssima posição assumida pelo
PFL paulista ao emprestar seu apoio ao político que é exatamente a
antítese de tudo o que o partido prega, em âmbito nacional, e que
foi a razão maior da sua própria criação, Paulo Maluf. O segundo,
foi a atitude ambígua do prefeito paulistano, Jânio Quadros, que
não somente não emprestou apoio ao postulante do PTB ao governo do
Estado, como ainda, num rompante inexplicável, se desligou de vez da
agremiação. Isso fez com que a cotação de Antônio Ermírio
baixasse consideravelmente, embora ninguém, em sã consciência, que
tenha a mínima noção política, possa afirmar que sua candidatura
esteja irremediavelmente inviabilizada.
Na verdade, esses
acontecimentos, normais em vésperas de campanha, especialmente
quando se trata de um pleito atípico em relação a todos os
anteriores desde o de 1964, onde inexistem a sublegenda e o voto
vinculado, nem sempre têm alguma significação no resultado final.
É até bom para o candidato ter estes problemas no começo, pois
assim ele permanece alerta e tem condições de mudar os rumos da sua
comunicação com o público, visando a reverter o eleitorado a seu
favor.
Dos quatro candidatos, o que
vem encontrando maior tranquilidade para trabalhar o seu nome é o
petista Eduardo Matarazzo Suplicy. A agremiação, desde o primeiro
instante, cerrou fileiras em torno do seu nome. E embora muitos
analistas considerem-no um "azarão", como se diz na
linguagem turfística, ele não é, em absoluto, "carta fora do
baralho". Certamente deverá explorar bem a autêntica guerra
entre Orestes Quércia, Paulo Maluf e Antônio Ermírio. E de
mansinho, como quem não quer nada, pode até surpreender e se tornar
o sucessor do governador Franco Montoro.
Quanto ao prefeito paulistano,
Jânio Quadros, é duvidoso que não venha a apoiar ninguém. Sua
situação é bastante cômoda. Ele tem tempo para esperar que o
quadro sucessório fique mais claro, ganhe contornos mais definidos a
favor de um ou de outro dos candidatos, para então emprestar o seu
apoio ao favorito. O ex-presidente pode ter cometido alguns erros em
sua vida pública (uma das mais longas do País), mas nunca ficou "em
cima do muro". Não será nestas eleições que agirá dessa
forma, esteja certo o leitor.
Falar em favoritismo, nesta
altura do ano, quando a campanha real, de fato, envolvendo todo o
tipo de propaganda política, ainda nem começou, baseado apenas em
pesquisas de opinião, é uma temeridade, para não dizer uma tolice.
Se nem mesmo os políticos ainda se definiram quanto ao apoio em
favor de algum dos lados, como esperar que o eleitor, sem conhecer
nenhuma das quatro propostas, pode se definir? Não que essas prévias
não tenham algum valor. Elas têm a função de verdadeiros
termômetros, que medem a "temperatura" de cada competidor
orientando os partidos para que prossigam num determinado rumo ou
alterem o curso, de conformidade com os resultados de sua pregação
política.
Amanhã, a candidatura do PMDB
deverá ganhar, definitivamente, as ruas e os palanques por todo o
Estado. Será a partir de então que sua força poderá ser avaliada
de fato. Não se pode negar que o vice-governador demonstrou grande
habilidade em contornar os obstáculos que em princípio se
apresentavam à sua postulação, levando suas pretensões, com
grande segurança, até a convenção. Doravante, não irá mais
atuar praticamente sozinho, contando somente com o seu próprio
"staff". Terá ao seu dispor todo um partido, que embora
seriamente ameaçado em sua hegemonia, é, na atualidade, a maior
agremiação política brasileira. E isso tem um peso muito maior do
que muita gente possa pensar. A disputa será árdua, ninguém tem
dúvida disso e vencerá somente aquele que melhor souber se
comunicar com o eleitor, qualquer que seja a sua ideologia ou sua
plataforma de governo.
(Artigo publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 6 de julho de 1986)
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