Tuesday, March 06, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - Largada na corrida sucessória


Largada na corrida sucessória


Pedro J. Bondaczuk


A campanha sucessória paulista entra, hoje, na fase de definições, com a realização da convenção estadual do PMDB para homologar a chapa Orestes Quércia-Almino Afonso para a disputa de 15 de novembro próximo. Graças a uma hábil manobra do presidente nacional da agremiação, deputado Ulysses Guimarães, as últimas arestas foram aparadas durante a semana e o partido (conforme previmos reiteradamente) conseguiu se unir novamente. Agora é a hora de se deixar de lado eventuais ressentimentos e questões de menor importância, porque a batalha mal está começando.

De acordo com as pesquisas de opinião mais conceituadas, a liderança, hoje, das preferências do eleitorado paulista está com o postulante do PDS, deputado Paulo Maluf. Mas um fato deve ser ressaltado: o vice-governador Orestes Quércia, se não aumentou o seu porcentual desde que as primeiras prévias foram realizadas, também não o diminuiu. Permanece rigorosamente nos mesmos 24% registrados no mês de março, mesmo com a desunião que se vinha verificando no PMDB. Apenas esse fato já é suficiente para viabilizar a sua candidatura.

O empresário Antônio Ermírio de Moraes, por outra parte, foi colhido por dois fatos ocorridos à sua revelia, fazendo com que sua campanha enfrentasse sérios obstáculos. O primeiro foi a estranhíssima posição assumida pelo PFL paulista ao emprestar seu apoio ao político que é exatamente a antítese de tudo o que o partido prega, em âmbito nacional, e que foi a razão maior da sua própria criação, Paulo Maluf. O segundo, foi a atitude ambígua do prefeito paulistano, Jânio Quadros, que não somente não emprestou apoio ao postulante do PTB ao governo do Estado, como ainda, num rompante inexplicável, se desligou de vez da agremiação. Isso fez com que a cotação de Antônio Ermírio baixasse consideravelmente, embora ninguém, em sã consciência, que tenha a mínima noção política, possa afirmar que sua candidatura esteja irremediavelmente inviabilizada.

Na verdade, esses acontecimentos, normais em vésperas de campanha, especialmente quando se trata de um pleito atípico em relação a todos os anteriores desde o de 1964, onde inexistem a sublegenda e o voto vinculado, nem sempre têm alguma significação no resultado final. É até bom para o candidato ter estes problemas no começo, pois assim ele permanece alerta e tem condições de mudar os rumos da sua comunicação com o público, visando a reverter o eleitorado a seu favor.

Dos quatro candidatos, o que vem encontrando maior tranquilidade para trabalhar o seu nome é o petista Eduardo Matarazzo Suplicy. A agremiação, desde o primeiro instante, cerrou fileiras em torno do seu nome. E embora muitos analistas considerem-no um "azarão", como se diz na linguagem turfística, ele não é, em absoluto, "carta fora do baralho". Certamente deverá explorar bem a autêntica guerra entre Orestes Quércia, Paulo Maluf e Antônio Ermírio. E de mansinho, como quem não quer nada, pode até surpreender e se tornar o sucessor do governador Franco Montoro.

Quanto ao prefeito paulistano, Jânio Quadros, é duvidoso que não venha a apoiar ninguém. Sua situação é bastante cômoda. Ele tem tempo para esperar que o quadro sucessório fique mais claro, ganhe contornos mais definidos a favor de um ou de outro dos candidatos, para então emprestar o seu apoio ao favorito. O ex-presidente pode ter cometido alguns erros em sua vida pública (uma das mais longas do País), mas nunca ficou "em cima do muro". Não será nestas eleições que agirá dessa forma, esteja certo o leitor.

Falar em favoritismo, nesta altura do ano, quando a campanha real, de fato, envolvendo todo o tipo de propaganda política, ainda nem começou, baseado apenas em pesquisas de opinião, é uma temeridade, para não dizer uma tolice. Se nem mesmo os políticos ainda se definiram quanto ao apoio em favor de algum dos lados, como esperar que o eleitor, sem conhecer nenhuma das quatro propostas, pode se definir? Não que essas prévias não tenham algum valor. Elas têm a função de verdadeiros termômetros, que medem a "temperatura" de cada competidor orientando os partidos para que prossigam num determinado rumo ou alterem o curso, de conformidade com os resultados de sua pregação política.

Amanhã, a candidatura do PMDB deverá ganhar, definitivamente, as ruas e os palanques por todo o Estado. Será a partir de então que sua força poderá ser avaliada de fato. Não se pode negar que o vice-governador demonstrou grande habilidade em contornar os obstáculos que em princípio se apresentavam à sua postulação, levando suas pretensões, com grande segurança, até a convenção. Doravante, não irá mais atuar praticamente sozinho, contando somente com o seu próprio "staff". Terá ao seu dispor todo um partido, que embora seriamente ameaçado em sua hegemonia, é, na atualidade, a maior agremiação política brasileira. E isso tem um peso muito maior do que muita gente possa pensar. A disputa será árdua, ninguém tem dúvida disso e vencerá somente aquele que melhor souber se comunicar com o eleitor, qualquer que seja a sua ideologia ou sua plataforma de governo.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 6 de julho de 1986)

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