Monday, March 05, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - A greve na Prefeitura


A greve na Prefeitura

Pedro J. Bondaczuk

A greve deflagrada pelos funcionários públicos municipais, pela segunda vez no governo do PT, é sintoma evidente das agruras sofridas pela administração diante de uma folha de pagamento de pessoal inchada e dos efeitos do Plano Collor. Logo no primeiro dia de paralisação, previa-se uma situação de confronto entre os funcionários e o prefeito Jacó Bittar. Este se mantém intransigente em sua contraproposta, fundamentado nos informes técnicos e orçamentários fornecidos pela Secretaria das Finanças. Os funcionários, através do sindicato, permanecem irredutíveis em suas reivindicações até encontrarem um sinal de flexibilidade nas negociações com o comando da administração.

A aparência dá a entender que essa é mais uma greve. Não é. A paralisação ocorre num momento em que a imagem do prefeito está desgastada e seu grupo rompido politicamente com a direção sindical. Os dirigentes do sindicato não escondem a decepção com a conduta administrativa da Prefeitura em relação às questões trabalhistas e salariais. A visão corporativa e paternalista do sindicato reforça a cegueira frente ao excesso de funcionários servindo à máquina. Há ainda outro componente: ao aceitar o confronto com o sindicato, o prefeito Jacó Bittar reforça a legitimidade dessa entidade classista e faz sucumbir, de vez, a Associação dos Servidores que, nas administrações passadas, catalisava a liderança do movimento trabalhista na Prefeitura.

Esses fatores desenham uma relação política complexa entre a Prefeitura administrada pelo PT e a manifestação sindical estimulada pelo mesmo partido. O aprendizado da greve traz prejuízos à cidade que agora está, outra vez, ameaçada de ficar sem os serviços públicos essenciais ao seu cotidiano. Além disso, caso não haja acordo entre as partes, a maioria dos funcionários deverá reduzir ainda mais o ritmo de trabalho nas repartições públicas, geralmente caracterizado pela lentidão e burocracia.

O prefeito Jacó Bittar tem na greve um argumento convincente para conceder um reajuste salarial ao funcionalismo mesmo após a decretação do Plano Collor, que trouxe em seu bojo o congelamento de preços e salários. Porém, por força constitucional, Estado e municípios são autônomos para aplicar sua política salarial. Sobra, portanto, ao prefeito o argumento da falta de recursos para atender a uma folha de pagamento que consome algo em torno de 70% da arrecadação. Com esse valor, nenhuma prefeitura consegue um desempenho satisfatório.

Se isso ocorre deve-se, antes de tudo, à falta de uma vigorosa política de reforma administrativa, o enxugamento da máquina e a redução drástica dos recursos gastos com a folha de pagamento. Sem adotar esses critérios, a administração pública neste governo tende a se tornar impotente por completo, cercado por um número exagerado de funcionários trabalhando descontentes, com baixos salários e despreparados. De quase nada adianta a administração anunciar grandes projetos de aquisição de ônibus ou de planejamento urbano se não tornar eficiente a máquina. Para tomar essas medidas, o governante vai precisar de muita coragem política.

(Editorial publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular em 11 de maio de 1990)



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