Sunday, May 20, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - Voto de confiança


Voto de confiança



Pedro J. Bondaczuk


O prefeito eleito de Campinas, Antonio da Costa Santos, começa, nos próximos dias, a tomar pé da real situação do Município, através da sua equipe de transição, composta, certamente, por técnicos da maior competência, seriedade e envergadura, com vistas à sua posse em 1º de janeiro de 2001. Simultaneamente, negocia com a atual Câmara Municipal a aprovação de um orçamento que não seja muito restritivo, pelo menos não tão apertado quanto se propala que virá a ser.

É certo que os primeiros dias da nova administração não serão um "mar de rosas". E nem poderiam ser, dadas as circunstâncias e o atual momento que a cidade vive. Por maior sucesso que o novo administrador venha a ter em suas negociações com os vereadores, é possível afirmar, com alta dose de segurança, que o seu primeiro ano de mandato vai ser repleto de obstáculos, de tensões, de descontentamentos e de cobranças.

Principalmente se for levada em conta a enorme dívida do Município, acumulada nas últimas três ou quatro administrações e que, bem ou mal, vem sendo "rolada", embora não paga, o que limita demais a capacidade de investimento do Poder Executivo. É preciso, também, ter em mente a vigência da nova Lei de Responsabilidade Fiscal, que condiciona (em boa hora) toda e qualquer despesa feita pelo prefeito à existência de recursos para a cobertura desses gastos. Trata-se de novidade, em termos de gestão pública, em nosso País, à qual os administradores recém eleitos vão ter que se submeter e se adaptar.

Ademais, há muito mais necessidades do que verbas para a sua satisfação, o que é do conhecimento de todas as pessoas razoavelmente bem informadas. E isso ocorre não apenas em Campinas, mas em qualquer cidade do mundo, do porte da nossa, destaque-se. Compete ao administrador consciente e responsável, portanto, definir prioridades e fazer o dinheiro disponível render o máximo possível, seja qual for o seu montante.

É necessária, por isso, grande dose de paciência e de compreensão, por parte da população, que não pode, e nem deve, sair por aí exigindo grandes coisas do novo prefeito, tão logo ele assuma o cargo, como se fosse possível, num toque de mágica, resolver todas as questões do Município de uma só vez. Milagres até que existem, mas são extremamente raros e não fazem parte de nenhuma cartilha política.

Há que se considerar, por exemplo, que o novo secretariado, a ser empossado junto com Antonio da Costa Santos --- cuja composição, até aqui, vem sendo mantida no mais absoluto sigilo ---, vai precisar, como o próprio prefeito, de um certo tempo, para que cada titular das várias secretarias possa tomar pé da situação e ficar completamente inteirado das suas atribuições e dos instrumentos de que vai dispor para pôr em prática os seus planos de governo. A equipe vai necessitar de entrosamento. Precisará cercar-se de auxiliares confiáveis, competentes e operosos, para depois traçar toda uma estratégia de trabalho. Convenhamos, isto não se faz da noite para o dia.

Espera-se, sim, do novo prefeito, trabalho, trabalho e trabalho. E uma grande, uma imensa, uma inesgotável capacidade de diálogo com os mais variados setores da sociedade. Além disso, é desejável que faça uma administração absolutamente límpida e transparente e, sobretudo, de olhos voltados tão só e exclusivamente para os legítimos interesses da cidade, sem privilegiar (ou prejudicar) "a", "b" ou "c", por quaisquer motivos. Que saiba separar, no exato limite da prudência, partido de governo. Ele é o chefe do Poder Executivo e não o PT. Compete-lhe, portanto, "sempre" a última palavra em toda e qualquer decisão.

Além disso, precisa ter sempre em mente que a campanha eleitoral já acabou. E que não vai (e não deve) governar somente para os que lhe garantiram a consagradora vitória nas urnas. Tem que buscar, permanente e incansavelmente, a conciliação, dentro dos limites do possível, dos interesses de "todos" os campineiros, mesmo daqueles que optaram nas urnas pelo nome do seu adversário direto no Segundo Turno, ou dos cerca de 6% dos eleitores que se omitiram, ou anulando seus votos, ou votando em branco ou sequer comparecendo para votar.

Os cidadãos de Campinas têm pela frente uma possibilidade, fascinante, de participar efetivamente nas decisões de governo, definindo as prioridades da nova administração, através da elaboração do próximo orçamento, que se propõe a ser "participativo". Ou seja, aquele que será votado pelos vereadores no final de 2001, para ter efeitos em 2002. Trata-se de uma experiência nova, estimulante e altamente positiva para o campineiro, da qual se espera que não venha a se omitir.

À oposição, por seu turno, cabe papel dos mais relevantes e fundamentais numa democracia que se preze. Compete-lhe, sim, fiscalizar "com lupa" a nova administração. Mas sem ranços de sectarismos e sem espírito destrutivo e de vingança. É seu dever detectar todos os problemas possíveis, de qualquer natureza, é certo. Porém é, também, sua obrigação apontar as possíveis soluções. Deve opor-se a tudo o que, de fato, julgar errado. Mas agindo sempre com honestidade de propósitos, com sinceridade, com ética e com um sentido absolutamente construtivo. Caso contrário, estará se opondo não ao novo prefeito, nem ao PT e muito menos ao seu programa de governo, mas aos legítimos interesses da cidade, o que é inconcebível para quem tem o dever e a responsabilidade de representar determinado segmento da população.


(Editorial da Folha do Taquaral de 14 de dezembro de 2000).


Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk

No comments: