Voto de confiança
Pedro
J. Bondaczuk
O prefeito eleito de Campinas,
Antonio da Costa Santos, começa, nos próximos dias, a tomar pé da
real situação do Município, através da sua equipe de transição,
composta, certamente, por técnicos da maior competência, seriedade
e envergadura, com vistas à sua posse em 1º de janeiro de 2001.
Simultaneamente, negocia com a atual Câmara Municipal a aprovação
de um orçamento que não seja muito restritivo, pelo menos não tão
apertado quanto se propala que virá a ser.
É certo que os primeiros dias
da nova administração não serão um "mar de rosas". E
nem poderiam ser, dadas as circunstâncias e o atual momento que a
cidade vive. Por maior sucesso que o novo administrador venha a ter
em suas negociações com os vereadores, é possível afirmar, com
alta dose de segurança, que o seu primeiro ano de mandato vai ser
repleto de obstáculos, de tensões, de descontentamentos e de
cobranças.
Principalmente se for levada
em conta a enorme dívida do Município, acumulada nas últimas três
ou quatro administrações e que, bem ou mal, vem sendo "rolada",
embora não paga, o que limita demais a capacidade de investimento do
Poder Executivo. É preciso, também, ter em mente a vigência da
nova Lei de Responsabilidade Fiscal, que condiciona (em boa hora)
toda e qualquer despesa feita pelo prefeito à existência de
recursos para a cobertura desses gastos. Trata-se de novidade, em
termos de gestão pública, em nosso País, à qual os
administradores recém eleitos vão ter que se submeter e se adaptar.
Ademais, há muito mais
necessidades do que verbas para a sua satisfação, o que é do
conhecimento de todas as pessoas razoavelmente bem informadas. E isso
ocorre não apenas em Campinas, mas em qualquer cidade do mundo, do
porte da nossa, destaque-se. Compete ao administrador consciente e
responsável, portanto, definir prioridades e fazer o dinheiro
disponível render o máximo possível, seja qual for o seu montante.
É necessária, por isso,
grande dose de paciência e de compreensão, por parte da população,
que não pode, e nem deve, sair por aí exigindo grandes coisas do
novo prefeito, tão logo ele assuma o cargo, como se fosse possível,
num toque de mágica, resolver todas as questões do Município de
uma só vez. Milagres até que existem, mas são extremamente raros e
não fazem parte de nenhuma cartilha política.
Há que se considerar, por
exemplo, que o novo secretariado, a ser empossado junto com Antonio
da Costa Santos --- cuja composição, até aqui, vem sendo mantida
no mais absoluto sigilo ---, vai precisar, como o próprio prefeito,
de um certo tempo, para que cada titular das várias secretarias
possa tomar pé da situação e ficar completamente inteirado das
suas atribuições e dos instrumentos de que vai dispor para pôr em
prática os seus planos de governo. A equipe vai necessitar de
entrosamento. Precisará cercar-se de auxiliares confiáveis,
competentes e operosos, para depois traçar toda uma estratégia de
trabalho. Convenhamos, isto não se faz da noite para o dia.
Espera-se, sim, do novo
prefeito, trabalho, trabalho e trabalho. E uma grande, uma imensa,
uma inesgotável capacidade de diálogo com os mais variados setores
da sociedade. Além disso, é desejável que faça uma administração
absolutamente límpida e transparente e, sobretudo, de olhos voltados
tão só e exclusivamente para os legítimos interesses da cidade,
sem privilegiar (ou prejudicar) "a", "b" ou "c",
por quaisquer motivos. Que saiba separar, no exato limite da
prudência, partido de governo. Ele é o chefe do Poder Executivo e
não o PT. Compete-lhe, portanto, "sempre" a última
palavra em toda e qualquer decisão.
Além disso, precisa ter
sempre em mente que a campanha eleitoral já acabou. E que não vai
(e não deve) governar somente para os que lhe garantiram a
consagradora vitória nas urnas. Tem que buscar, permanente e
incansavelmente, a conciliação, dentro dos limites do possível,
dos interesses de "todos" os campineiros, mesmo daqueles
que optaram nas urnas pelo nome do seu adversário direto no Segundo
Turno, ou dos cerca de 6% dos eleitores que se omitiram, ou anulando
seus votos, ou votando em branco ou sequer comparecendo para votar.
Os cidadãos de Campinas têm
pela frente uma possibilidade, fascinante, de participar efetivamente
nas decisões de governo, definindo as prioridades da nova
administração, através da elaboração do próximo orçamento, que
se propõe a ser "participativo". Ou seja, aquele que será
votado pelos vereadores no final de 2001, para ter efeitos em 2002.
Trata-se de uma experiência nova, estimulante e altamente positiva
para o campineiro, da qual se espera que não venha a se omitir.
À oposição, por seu turno,
cabe papel dos mais relevantes e fundamentais numa democracia que se
preze. Compete-lhe, sim, fiscalizar "com lupa" a nova
administração. Mas sem ranços de sectarismos e sem espírito
destrutivo e de vingança. É seu dever detectar todos os problemas
possíveis, de qualquer natureza, é certo. Porém é, também, sua
obrigação apontar as possíveis soluções. Deve opor-se a tudo o
que, de fato, julgar errado. Mas agindo sempre com honestidade de
propósitos, com sinceridade, com ética e com um sentido
absolutamente construtivo. Caso contrário, estará se opondo não ao
novo prefeito, nem ao PT e muito menos ao seu programa de governo,
mas aos legítimos interesses da cidade, o que é inconcebível para
quem tem o dever e a responsabilidade de representar determinado
segmento da população.
(Editorial da Folha do
Taquaral de 14 de dezembro de 2000).
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