A tônica do abandono
Pedro J. Bondaczuk
Ainda em sua última edição
domingueira, com base evidentemente nesse estado de comportamento, o
Correio Popular abordou a situação de abandono em que se acha a
cidade, onde os buracos aumentam da noite para o dia em muitas ruas,
os sacos de lixo ficam amontoados por todos os cantos e os terrenos
baldios, por força das chuvas de verão, acabam por transformar-se
em sinônimo de matagal. O centro da cidade, por exemplo,
identifica-se faz tempo com os mercados persas, apresentando um
acúmulo de sujeira nos passeios. Por sinal, o conhecido Convívio só
vê mesmo a cor de água quando ela cai do céu. E se esse estado de
abandono existe no centro da cidade, então, o que falar dos bairros,
próximos ou distantes do perímetro central?
A Prefeitura, de fato, tem
evitado de dar o ar de sua graça por toda a parte, pouco importando
também a classificação dos bairros no conceito da coletividade
campineira. Assim, a tônica do abandono tanto acontece na região do
Campo Grande, como também na Cidade Universitária, junto ao
complexo da Unicamp. Aliás, quem tiver a oportunidade de visitar
este último bairro residencial ficará boquiaberto com a sua
fisionomia atual. O matagal tomou conta do bairro todo, acolhendo
confortavelmente as piores espécies de insetos. À plena luz do dia,
um verdadeiro exército de ratazanas, de todos os tamanhos, passeia
democraticamente pelas ruas e quintais das residências, colocando já
em risco a saúde dos moradores do bairro, ficando talvez a
Prefeitura à espera de um surto de leptospirose para a realização
do necessário serviço de capinagem naquela área.
Todavia, nada a opor à viagem
empreendida pelo prefeito Jacó Bittar à Europa, possivelmente para
conhecer novas técnicas de serviços públicos. Agora, convenhamos,
inútil qualquer iniciativa desse tipo, por sinal dispendiosa, caso
houvesse o firme propósito de manter em bom estado de conservação
as ruas e praças do Centro ou dos bairros. Apenas um pouco de boa
vontade seria suficiente para devolver a Campinas aquele aspecto de
cidade atraente e saudável. E a Prefeitura Municipal, afinal de
contas, está aí para servir ao público.
Há muito deixou Campinas de
ser uma cidade limpa, pagando agora um preço bem elevado pelo seu
crescimento invejável. Assumindo nos últimos tempos a postura de
autêntica metrópole, superando inclusive muitas capitais de
Estados, apesar de todo o seu volume de arrecadação, os serviços
de atendimento à cidade, por parte da Prefeitura Municipal, não
acompanharam o ritmo de progresso aqui registrado. O certo é que as
administrações anteriores se alternaram nos postos de mando,
enquanto as deficiências cresceram de proporções. Os reclamos da
população se sucedem, tanto no centro urbano, como ainda na região
periférica, tomando no momento o Palácio dos Jequitibás as
características de uma torre de marfim, onde o clamor público lá
não chega de modo algum.
(Editorial publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 21 de abril de 1990)
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