Friday, May 04, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - A tônica do abandono


A tônica do abandono


Pedro J. Bondaczuk


Ainda em sua última edição domingueira, com base evidentemente nesse estado de comportamento, o Correio Popular abordou a situação de abandono em que se acha a cidade, onde os buracos aumentam da noite para o dia em muitas ruas, os sacos de lixo ficam amontoados por todos os cantos e os terrenos baldios, por força das chuvas de verão, acabam por transformar-se em sinônimo de matagal. O centro da cidade, por exemplo, identifica-se faz tempo com os mercados persas, apresentando um acúmulo de sujeira nos passeios. Por sinal, o conhecido Convívio só vê mesmo a cor de água quando ela cai do céu. E se esse estado de abandono existe no centro da cidade, então, o que falar dos bairros, próximos ou distantes do perímetro central?

A Prefeitura, de fato, tem evitado de dar o ar de sua graça por toda a parte, pouco importando também a classificação dos bairros no conceito da coletividade campineira. Assim, a tônica do abandono tanto acontece na região do Campo Grande, como também na Cidade Universitária, junto ao complexo da Unicamp. Aliás, quem tiver a oportunidade de visitar este último bairro residencial ficará boquiaberto com a sua fisionomia atual. O matagal tomou conta do bairro todo, acolhendo confortavelmente as piores espécies de insetos. À plena luz do dia, um verdadeiro exército de ratazanas, de todos os tamanhos, passeia democraticamente pelas ruas e quintais das residências, colocando já em risco a saúde dos moradores do bairro, ficando talvez a Prefeitura à espera de um surto de leptospirose para a realização do necessário serviço de capinagem naquela área.

Todavia, nada a opor à viagem empreendida pelo prefeito Jacó Bittar à Europa, possivelmente para conhecer novas técnicas de serviços públicos. Agora, convenhamos, inútil qualquer iniciativa desse tipo, por sinal dispendiosa, caso houvesse o firme propósito de manter em bom estado de conservação as ruas e praças do Centro ou dos bairros. Apenas um pouco de boa vontade seria suficiente para devolver a Campinas aquele aspecto de cidade atraente e saudável. E a Prefeitura Municipal, afinal de contas, está aí para servir ao público.

Há muito deixou Campinas de ser uma cidade limpa, pagando agora um preço bem elevado pelo seu crescimento invejável. Assumindo nos últimos tempos a postura de autêntica metrópole, superando inclusive muitas capitais de Estados, apesar de todo o seu volume de arrecadação, os serviços de atendimento à cidade, por parte da Prefeitura Municipal, não acompanharam o ritmo de progresso aqui registrado. O certo é que as administrações anteriores se alternaram nos postos de mando, enquanto as deficiências cresceram de proporções. Os reclamos da população se sucedem, tanto no centro urbano, como ainda na região periférica, tomando no momento o Palácio dos Jequitibás as características de uma torre de marfim, onde o clamor público lá não chega de modo algum.

(Editorial publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 21 de abril de 1990)



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