A violência nessa greve
Pedro J. Bondaczuk
A ação da liderança dos
funcionários municipais nessa greve que já soma oito dias, acentua
a possibilidade de atitudes radicalizadas que podem trazer prejuízos
mais sérios para a cidade. Pedir um reajuste total de 230% sobre os
salários de março só pode se constituir num delírio diante da
gravidade do momento por que passa o País. O limite dos recursos
municipais é do conhecimento da direção do sindicato que
representa os interesses dos funcionários, por isso, a insistência
em índices de reajuste e reposição salarial acima de todos os
parâmetros econômicos demonstra a insensibilidade de quem conduz
uma greve que afeta toda a cidade e não somente o quarto andar do
Palácio dos Jequitibás.
Nota-se que a direção
sindical utiliza-se de discursos nos quais revela-se a animosidade
pessoal e política contra o prefeito Jacó Bittar, hoje considerado
um adversário ideológico da militância petista mais radicalizada.
O comportamento de várias lideranças sindicais estimula ações
inconsequentes de muitos grevistas a ponto de violentarem o direito
constitucional de quem quer trabalhar.
O estímulo ao piquete, que
sempre resulta em violência física, assinala a possibilidade de
esvaziamento da greve diante do bom senso de muitos que concordam que
a situação econômica do País não permite à Prefeitura reajustar
os salários acima de índices racionais, sem considerar o total
fracasso da administração. Além de violar o direito de ir e vir de
qualquer cidadão, o piquete se transforma num ato condenável que
pode resultar em agressão física àqueles que tentam assegurar seu
direito como trabalhador.
Uma greve pode ser evitada se
as partes envolvidas demonstrarem razão e espírito público para
superar contradições e divergências que, em muitos casos, levam a
uma radicalização através da qual ambos os lados perdem. Porém, o
prejuízo maior fica com a cidade; a coleta de lixo e a varrição
param, os serviços de saúde ficam reduzidos a casos de emergência,
a atividade burocrática fica suspensa, enfim, toda a vida do
Município que depende direta e indiretamente da administração
sofre.
A greve dos funcionários é
inoportuna. Sua motivação resvala à divergência
político-ideológica e pessoal entre a direção sindical e a chefia
da administração. Prova disso foi a decisão da direção do
sindicato em aceitar reduzir de 230% para 125% sua reivindicação de
reposição salarial.
O valor subtraído é
significativo para se abrir mão com tanta facilidade. Ora, se podia
ser reduzido com essa rapidez e convicção, percebe-se que algo está
errado. O índice não deve ter sido objeto de reflexão madura
quando foi definido para a pauta de reivindicação.
Mas o prefeito Jacó Bittar e
seus assessores também têm culpa. Em oportunidades passadas, essas
lideranças estimularam greves, piquetes e atitudes outras que
ajudaram a mobilizar os funcionários municipais em movimentos
semelhantes. Hoje, o remédio que ensinaram volta-se contra eles. E
os argumentos que usam para negar as reivindicações dos
funcionários não devem nada às respostas dadas por outros
prefeitos. É o mundo dando voltas.
(Editorial publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 16 de maio de 1990)
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