Thursday, May 17, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - A violência nessa greve


A violência nessa greve


Pedro J. Bondaczuk


A ação da liderança dos funcionários municipais nessa greve que já soma oito dias, acentua a possibilidade de atitudes radicalizadas que podem trazer prejuízos mais sérios para a cidade. Pedir um reajuste total de 230% sobre os salários de março só pode se constituir num delírio diante da gravidade do momento por que passa o País. O limite dos recursos municipais é do conhecimento da direção do sindicato que representa os interesses dos funcionários, por isso, a insistência em índices de reajuste e reposição salarial acima de todos os parâmetros econômicos demonstra a insensibilidade de quem conduz uma greve que afeta toda a cidade e não somente o quarto andar do Palácio dos Jequitibás.

Nota-se que a direção sindical utiliza-se de discursos nos quais revela-se a animosidade pessoal e política contra o prefeito Jacó Bittar, hoje considerado um adversário ideológico da militância petista mais radicalizada. O comportamento de várias lideranças sindicais estimula ações inconsequentes de muitos grevistas a ponto de violentarem o direito constitucional de quem quer trabalhar.

O estímulo ao piquete, que sempre resulta em violência física, assinala a possibilidade de esvaziamento da greve diante do bom senso de muitos que concordam que a situação econômica do País não permite à Prefeitura reajustar os salários acima de índices racionais, sem considerar o total fracasso da administração. Além de violar o direito de ir e vir de qualquer cidadão, o piquete se transforma num ato condenável que pode resultar em agressão física àqueles que tentam assegurar seu direito como trabalhador.

Uma greve pode ser evitada se as partes envolvidas demonstrarem razão e espírito público para superar contradições e divergências que, em muitos casos, levam a uma radicalização através da qual ambos os lados perdem. Porém, o prejuízo maior fica com a cidade; a coleta de lixo e a varrição param, os serviços de saúde ficam reduzidos a casos de emergência, a atividade burocrática fica suspensa, enfim, toda a vida do Município que depende direta e indiretamente da administração sofre.

A greve dos funcionários é inoportuna. Sua motivação resvala à divergência político-ideológica e pessoal entre a direção sindical e a chefia da administração. Prova disso foi a decisão da direção do sindicato em aceitar reduzir de 230% para 125% sua reivindicação de reposição salarial.

O valor subtraído é significativo para se abrir mão com tanta facilidade. Ora, se podia ser reduzido com essa rapidez e convicção, percebe-se que algo está errado. O índice não deve ter sido objeto de reflexão madura quando foi definido para a pauta de reivindicação.

Mas o prefeito Jacó Bittar e seus assessores também têm culpa. Em oportunidades passadas, essas lideranças estimularam greves, piquetes e atitudes outras que ajudaram a mobilizar os funcionários municipais em movimentos semelhantes. Hoje, o remédio que ensinaram volta-se contra eles. E os argumentos que usam para negar as reivindicações dos funcionários não devem nada às respostas dadas por outros prefeitos. É o mundo dando voltas.

(Editorial publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 16 de maio de 1990)

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