Ônibus mais caros
Pedro J. Bondaczuk
As tarifas de ônibus urbanos
em Campinas, que já eram muito caras a R$ 1,00 (se for levada em
conta a qualidade dos serviços prestados, extremamente deficiente),
vão se tornar ainda mais "salgadas" para os usuários
campineiros, nas próximas horas, com a entrada em vigor,
possivelmente ainda nesta semana, do reajuste de 30% determinado pelo
Poder Público.
Trata-se de taxa muito
elevada, altíssima, equivalente à inflação acumulada de uns três
a quatro anos, mesmo se for considerado o tempo em que o custo desse
serviço essencial não foi reajustado. É certo que as empresas vão
ter que atender algumas condições, impostas pelo prefeito Antonio
da Costa Santos, para que o novo preço das passagens passe de fato a
vigorar. Ainda assim, o atendimento à população vai ter que
melhorar muito, mas muito mesmo, para justificar o novo valor a ser
cobrado, que ainda assim será inacessível a muitos bolsos.
Uma das contrapartidas que os
empresários do setor têm que dar, para que o aumento entre em
vigor, é uma ampliação considerável da frota atual, que está
bastante defasada, desgastada e sobretudo envelhecida, não
proporcionando o conforto (e principalmente a segurança) que o
passageiro merece. E as viaturas terão que ser novas, saídas da
fábrica, e não recondicionadas, como geralmente as empresas
costumam fazer em circunstâncias como esta.
Outra imposição feita pela
Prefeitura é a contratação de cerca de 1.500 cobradores --- função
praticamente extinta com a introdução das chamadas "catracas
eletrônicas" --- o que terá, pelo menos, o mérito de absorver
um contingente considerável de desempregados. No aspecto social,
portanto, pontos para o prefeito.
Ainda assim, o cumprimento
integral dessas condições é insuficiente. É muito pouco para
justificar um reajuste desse porte, provavelmente sem paralelo no
País, desde a adoção do Plano Real. Até os aliados de Toninho
contestam o novo preço das passagens. Entendem que esse valor
poderia (e deveria) ser mais acessível ao bolso dos usuários, mesmo
com os investimentos a serem feitos em melhorias (se de fato forem),
para a introdução de 130 ônibus novos nas diversas linhas.
A cobrança de R$ 1,30 nas
passagens é extorsiva, numa cidade do porte de Campinas. Quem, por
exemplo, toma apenas um ônibus diariamente (e estes são raros), vai
despender, só para ir ao trabalho, em 22 dias úteis (excluindo
sábados e domingos), contando ida e volta, R$ 57,20. Se precisar (ou
se quiser) sair de casa nos fins de semana, vai gastar mais R$ 20,80.
E os trabalhadores que moram em bairros distantes (a maioria) e tomam
de duas a três conduções, vão gastar quase que o salário inteiro
apenas com a passagem de ônibus. Um absurdo! É nisso que ninguém
pensou. Ou se pensou, ignorou.
O reajuste torna-se mais
irreal, e politicamente pernicioso, se também for levado em conta o
momento atual que o País atravessa. Os salários da grande maioria
estão virtualmente "congelados", nesses sete anos de
vigência do Plano Real (exceção feita aos que ganham salário
mínimo, que todavia é insuficiente até para bancar a alimentação
de quem precisa sobreviver com tão parca remuneração).
Ademais, embora seja
redundante lembrar (já que sentimos essa dura realidade na própria
carne), o Brasil atravessa mais uma das suas cíclicas e já crônicas
crises. A atual é uma das piores da sua história, pois se apresenta
em "dose dupla". Ou seja, é causada (como a de 1998, por
exemplo, entre outras) pela extrema dependência brasileira de
capitais externos, mesmo os especulativos, e pela necessidade de
racionamento de energia elétrica, para evitar os temidos "apagões",
cujos reflexos nas atividades econômicas mal começam a ser
sentidos, com tendências a se agravar daqui até o final do ano.
O campineiro, no que diz
respeito a transporte público, é, há tempos, muito mal servido. As
únicas opções de que dispõe para a sua locomoção (a menos que
tenha carro próprio) são os ônibus e as peruas. A cidade não
conta, por exemplo, como São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre,
Belo Horizonte, etc., com serviço, mesmo que precário, de trens
urbanos. O chamado "Veículo Leve sobre Trilhos", o
dispendioso e abandonado VLT, não passou de um "mico".
Hoje, de possível solução, transformou-se em outro problema, e
grave. Suas estações, abandonadas e em ruínas, são esconderijos
de viciados e de marginais. E rios de dinheiro público foram, assim,
literalmente, jogados fora. Metrô? Nem falar! Não há sequer
cogitação de construir um na cidade, dado o volume de recursos que
teriam de ser investidos.
Quem conta com veículo
próprio --- e a cidade dispõe da segunda maior frota de automóveis,
per capita, do País --- não se sente motivado em deixar o seu carro
em casa, para ir ao trabalho e ao lazer de ônibus. Não quer se
expor ao desconforto e, principalmente, à insegurança. O risco de
ser assaltado num coletivo é muito grande. Com isso, o trânsito é
que sofre. A malha viária de Campinas é inadequada para tantos
veículos. E o ar da cidade está cada vez mais saturado de
poluentes, altamente tóxicos, que vão, aos poucos, minando a saúde
da população. Não demora, e vai estar irrespirável. É questão
de tempo.
Mas tudo indica que o reajuste
veio para ficar. Por isso, não adianta mais lamentar. O prefeito
deve arcar com alto ônus político, impossível, neste momento, de
quantificar. Certamente, sabe disso. Está ciente (ou deveria estar),
que a população que o elegeu vai cobrar eficiência, qualidade e
segurança nos serviços prestados pelas concessionárias, para
justificar o escorchante aumento no preço das passagens.
Compete-lhe, entre outras coisas, fiscalizar e cobrar as empresas,
para que cumpram aquilo que se dispuseram a cumprir.
(Editorial da Folha do
Taquaral de 14 de agosto de 2001).
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