Sunday, May 06, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - Sob os refletores


Sob os refletores

Pedro J. Bondaczuk

As administrações municipais petistas, em especial as das grandes cidades, tanto do Estado de São Paulo quanto do País --- como a capital paulista, Campinas, Ribeirão Preto, Recife, Porto Alegre, Belém etc. --- vão estar, ao longo de toda a campanha eleitoral do ano que vem, sob o foco direto dos refletores da opinião pública.

Os opositores do candidato do PT à Presidência da República, Luís Inácio Lula da Silva, estarão à procura, com possantes "lentes de aumento", de possíveis vacilações, erros administrativos ou eventuais deslizes éticos, para atacar o partido e a candidatura do atual primeiro colocado nas pesquisas eleitorais com vistas à sucessão do presidente Fernando Henrique Cardoso. Seus defensores, logicamente, procurarão mostrar o inverso: suas eventuais virtudes e prováveis acertos.

O eleitor brasileiro, frise-se, não costuma votar em siglas, nem em programas e muito menos em princípios ideológicos. Vota em pessoas. Para ele, esquerda e direita são a mesma coisa. Nunca entendeu e nem se importou com isso. Provavelmente continuará não se importando. O caso do PT, todavia, é um pouco diferente.

Há 21 anos, desde que o partido foi fundado, seus adversários sempre questionaram (pelo menos para consumo público) a capacidade administrativa dos políticos petistas, notadamente de Lula, que jamais exerceu qualquer função executiva e que tem apenas, no seu currículo, uma única passagem pela Câmara Federal, onde se destacou mais pelas críticas que fez aos "300 picaretas" do Congresso, do que por eventuais projetos ou ousadas iniciativas. Esse, aliás, foi o obstáculo decisivo, que não conseguiu superar, e que lhe impediu a conquista da Presidência da República nas três tentativas que fez. Por falta de melhor argumento, seus adversários atacam-no (e até aqui com sucesso) sempre nesse mesmo ponto: ressaltando que, até hoje, Luís Inácio nunca governou nada, sequer um único e reles município.

É certo que o PT tem, há algum tempo, várias e bem sucedidas experiências administrativas, de diversos de seus ilustres membros, tanto em âmbito municipal, quanto nos estaduais (como no Acre, no Mato Grosso do Sul e no Rio Grande do Sul, apesar das controvérsias que atualmente envolvem o governo de Olívio Dutra). Esses administradores, estejam certos, é que vão ser os grandes "cabos eleitorais" de Lula no ano que vem.

Nesse aspecto, cresce muito a responsabilidade da prefeita de Campinas, Izalene Tiene, que pegou o bonde andando e ainda está "tomando pé" da situação na cidade, pois substitui seu saudoso líder, amigo e camarada partidário Antonio da Costa Santos há menos de três meses. Com ou sem experiência, porém, ninguém irá perdoar eventuais vacilos dela ou quaisquer divisões em sua equipe de governo.

Por isso, conviria que, ao ensejo da mudança que acaba de efetuar em seu Gabinete --- unindo duas das mais importantes secretarias (a de Governo e a Chefia de Gabinete) numa só, demitindo seus respectivos titulares, Durval de Carvalho e Gerardo de Mello e substituindo-os por Lauro Câmara Marcondes --- fizesse ampla reforma em seu secretariado, se cercando de colaboradores da sua mais estrita confiança.

Eventuais futuras divisões em seu grupo de trabalho, que em períodos não eleitorais seriam consideradas normalíssimas, vão ser, com toda a certeza, aumentadas, ampliadas, exageradas ao extremo e usadas não apenas contra a prefeita, mas, e principalmente, contra o candidato petista à Presidência da República.

Não se trata, neste caso, de preconceito contra Lula. Ocorre que é ele quem está liderando todas as pesquisas de opinião. Ele que é, portanto, a "grande vidraça" a ser estilhaçada pelas "pedras" dos antagonistas. Seus adversários, por isso, não vão atacar os que estão por baixo, teoricamente sem chances de vitória. Isso não faria nenhum sentido. Vão querer, isto sim, derrubar o primeiro colocado.

Em um breve balanço dos onze meses da administração petista em Campinas --- mesmo dando-se o desconto da trágica perda de Toninho, do fato de nesse primeiro ano ter que administrar com um orçamento "engessado", aprovado pela Câmara anterior, e da absoluta falta de recursos para qualquer tipo de investimento --- o atual governo em pouco, ou em nada, difere do primeiro ano de mandato de Francisco Amaral.

Poderia (e deveria) ter feito um pouco mais do que fez. Debite-se sua relativa inércia ao preço a ser pago pelo noviciado. Mas o próximo ano será decisivo para Izalene e para o PT campineiro. Oxalá Deus os ilumine, para que cumpram metade que seja das promessas de palanque feitas pelo seu saudoso antecessor. Se fizerem isso, entrarão para a história no aspecto mais positivo possível e Campinas, certamente, irá agradecer.

(Editorial da Folha do Taquaral de 20 de novembro de 2001).


Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk

No comments: