Sob os refletores
Pedro J. Bondaczuk
As administrações municipais
petistas, em especial as das grandes cidades, tanto do Estado de São
Paulo quanto do País --- como a capital paulista, Campinas, Ribeirão
Preto, Recife, Porto Alegre, Belém etc. --- vão estar, ao longo de
toda a campanha eleitoral do ano que vem, sob o foco direto dos
refletores da opinião pública.
Os opositores do candidato do
PT à Presidência da República, Luís Inácio Lula da Silva,
estarão à procura, com possantes "lentes de aumento", de
possíveis vacilações, erros administrativos ou eventuais deslizes
éticos, para atacar o partido e a candidatura do atual primeiro
colocado nas pesquisas eleitorais com vistas à sucessão do
presidente Fernando Henrique Cardoso. Seus defensores, logicamente,
procurarão mostrar o inverso: suas eventuais virtudes e prováveis
acertos.
O eleitor brasileiro,
frise-se, não costuma votar em siglas, nem em programas e muito
menos em princípios ideológicos. Vota em pessoas. Para ele,
esquerda e direita são a mesma coisa. Nunca entendeu e nem se
importou com isso. Provavelmente continuará não se importando. O
caso do PT, todavia, é um pouco diferente.
Há 21 anos, desde que o
partido foi fundado, seus adversários sempre questionaram (pelo
menos para consumo público) a capacidade administrativa dos
políticos petistas, notadamente de Lula, que jamais exerceu qualquer
função executiva e que tem apenas, no seu currículo, uma única
passagem pela Câmara Federal, onde se destacou mais pelas críticas
que fez aos "300 picaretas" do Congresso, do que por
eventuais projetos ou ousadas iniciativas. Esse, aliás, foi o
obstáculo decisivo, que não conseguiu superar, e que lhe impediu a
conquista da Presidência da República nas três tentativas que fez.
Por falta de melhor argumento, seus adversários atacam-no (e até
aqui com sucesso) sempre nesse mesmo ponto: ressaltando que, até
hoje, Luís Inácio nunca governou nada, sequer um único e reles
município.
É certo que o PT tem, há
algum tempo, várias e bem sucedidas experiências administrativas,
de diversos de seus ilustres membros, tanto em âmbito municipal,
quanto nos estaduais (como no Acre, no Mato Grosso do Sul e no Rio
Grande do Sul, apesar das controvérsias que atualmente envolvem o
governo de Olívio Dutra). Esses administradores, estejam certos, é
que vão ser os grandes "cabos eleitorais" de Lula no ano
que vem.
Nesse aspecto, cresce muito a
responsabilidade da prefeita de Campinas, Izalene Tiene, que pegou o
bonde andando e ainda está "tomando pé" da situação na
cidade, pois substitui seu saudoso líder, amigo e camarada
partidário Antonio da Costa Santos há menos de três meses. Com ou
sem experiência, porém, ninguém irá perdoar eventuais vacilos
dela ou quaisquer divisões em sua equipe de governo.
Por isso, conviria que, ao
ensejo da mudança que acaba de efetuar em seu Gabinete --- unindo
duas das mais importantes secretarias (a de Governo e a Chefia de
Gabinete) numa só, demitindo seus respectivos titulares, Durval de
Carvalho e Gerardo de Mello e substituindo-os por Lauro Câmara
Marcondes --- fizesse ampla reforma em seu secretariado, se cercando
de colaboradores da sua mais estrita confiança.
Eventuais futuras divisões em
seu grupo de trabalho, que em períodos não eleitorais seriam
consideradas normalíssimas, vão ser, com toda a certeza,
aumentadas, ampliadas, exageradas ao extremo e usadas não apenas
contra a prefeita, mas, e principalmente, contra o candidato petista
à Presidência da República.
Não se trata, neste caso, de
preconceito contra Lula. Ocorre que é ele quem está liderando todas
as pesquisas de opinião. Ele que é, portanto, a "grande
vidraça" a ser estilhaçada pelas "pedras" dos
antagonistas. Seus adversários, por isso, não vão atacar os que
estão por baixo, teoricamente sem chances de vitória. Isso não
faria nenhum sentido. Vão querer, isto sim, derrubar o primeiro
colocado.
Em um breve balanço dos onze
meses da administração petista em Campinas --- mesmo dando-se o
desconto da trágica perda de Toninho, do fato de nesse primeiro ano
ter que administrar com um orçamento "engessado", aprovado
pela Câmara anterior, e da absoluta falta de recursos para qualquer
tipo de investimento --- o atual governo em pouco, ou em nada, difere
do primeiro ano de mandato de Francisco Amaral.
Poderia (e deveria) ter feito
um pouco mais do que fez. Debite-se sua relativa inércia ao preço a
ser pago pelo noviciado. Mas o próximo ano será decisivo para
Izalene e para o PT campineiro. Oxalá Deus os ilumine, para que
cumpram metade que seja das promessas de palanque feitas pelo seu
saudoso antecessor. Se fizerem isso, entrarão para a história no
aspecto mais positivo possível e Campinas, certamente, irá
agradecer.
(Editorial da Folha do
Taquaral de 20 de novembro de 2001).
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