Liberdade
de expressão
Pedro
J. Bondaczuk
Os
meios de comunicação, com todas as suas deficiências, naturais
quando se trata de alguma obra humana, são indispensáveis nas
sociedades contemporâneas. Não se concebe, hoje em dia, uma
civilização, que realmente mereça essa designação, sem
telefones, jornais, rádio, televisão e internet, com sua
multiplicidade de portais e de blogs, que não param de ser abertos.
O
norte-americano Leon Martel constatou que "a informação está
rapidamente substituindo a energia como principal recurso de
transformação da sociedade". E nem é preciso recorrer a
nenhuma citação de jornalistas, escritores, sociólogos,
antropólogos ou de qualquer outro tipo de intelectual para essa
constatação. A imprensa, fenômeno relativamente recente no mundo,
veio para ficar. É (ou deveria ser) a guardiã da cidadania. Para
que aja como tal, todavia, tem que ser absolutamente livre e
independente.
A liberdade de imprensa, antes de se constituir num direito de profissionais e de empresas ligadas ao setor, é um bem da sociedade. Exige mobilização constante, vigilância permanente e postura firme e lúcida diante de fatos que representem ameaça ou que efetivamente a atinjam.
A liberdade de imprensa, certamente, contribui para o fortalecimento das instituições democráticas de um país. O jornalista exerce, diariamente, um trabalho constante e ininterrupto em favor da sociedade. Afinal, esta tem o direito constitucional à informação, plena, limpa e, sobretudo isenta, seja de que natureza for. A Constituição promulgada em 5 de outubro de 1988 estabelece, no inciso IX, do artigo 5º, que “é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença”.
Compete, pois, à sociedade, através das suas instituições e agentes, garantir e defender a imprensa livre. E não somente isso. Cabe-lhe, ao mesmo tempo, combater a impunidade dos crimes praticados contra profissionais e veículos de comunicação, que visem tolher, de alguma forma, a sua liberdade.
A unanimidade internacional é que os meios de comunicação são fiscais do poder público. A melhor tradição da liberdade de imprensa é a de que o aparelho do Estado não pode impor embaraços à publicação de informações de interesse da população.
Destaque-se que os servidores têm todo o direito de reclamar, de cobrar retificações e até de exigir reparações quando prejudicados pelo mau jornalismo, que infelizmente existe é mister reconhecer, baseado na mentira, no exagero ou na distorção dos fatos. O Código Penal, porém, capitula esses crimes contra a honra, como a injúria, a calúnia e a difamação.
Este direito dos ofendidos, todavia, só vigora após a divulgação da notícia. Qualquer ato do poder público, de restrição prévia à informação, atropela a conquista histórica da liberdade de imprensa, de velar pelo interesse público.
O
profissional de comunicação, seja qual for a área em que atue, tem
um compromisso e uma responsabilidade muito grandes para com o
público que pretende atingir. O compromisso é o de adotar postura
voltada para a prestação de serviços à comunidade,
esclarecendo-a, orientando-a e atuando como o seu porta-voz. A
responsabilidade, por sua vez, decorre exatamente do item anterior.
Quanto
maior for a amplitude do meio que o comunicador utilizar, mais
responsável ele terá que ser quanto ao que disser ou que escrever.
Precisará, claro, ter muito critério e muita competência sempre.
Deverá ser guiado por um elenco de pressupostos que vão desde o
interesse à qualidade do que veicula; da técnica usada à utilidade
da comunicação, passando, por aí, o bom-gosto, a inteligência e
outras coisas mais, que o jornalista e/ou o radialista conhecem, ou
deveriam conhecer de sobejo.
Quem
não aceitar isso, espontaneamente, sem imposição ou pressões,
estará, evidentemente, em profissão errada. A mensagem que o
profissional de comunicação passar, embora possa ser endereçada a
um determinado público, bastante específico, terá influências as
mais variadas sobre tantas outras faixas da população. Tem que
atentar, sempre, para o que, como, com que objetivo e a quem
comunicar.
Um
comunicador irresponsável pode, até mesmo, provocar sublevação
popular, de conseqüências imprevisíveis, sem que sequer se dê
conta e mesmo que não seja essa a sua intenção (quase nunca é).
Veja-se, por exemplo, o que ocorreu nos países muçulmanos em
decorrência da publicação, por parte de um jornal dinamarquês, da
caricatura do profeta Maomé.
Que
benefício, e a quem, essa divulgação (no fundo, no fundo,
preconceituosa) trouxe? Qual a necessidade de se mexer com as crenças
e convicções alheias, mesmo as que consideremos ridículas e frutos
do atraso (não é o caso), utilizando, como pretexto, o direito da
liberdade de expressão? Convém ressaltar e sempre reiterar que um
comunicador tem a possibilidade concreta de influenciar idéias,
costumes, comportamentos e ações em uma sociedade. Quanto mais
liberdade tiver, portanto, maior será, em contrapartida, a sua
responsabilidade.
O
jornalista tem que ter em mente que os personagens das histórias que
traz a público – trágicas ou cômicas, coletivas ou individuais,
envolvendo ora atos sublimes e nobres, ora crimes escabrosos e
hediondos (estes, infelizmente, em maior quantidade) – não são
imaginários, como os criados pelos escritores de ficção:
romancistas, novelistas ou roteiristas de cinema. Envolvem seres
reais, de carne, osso, sangue e vísceras, com reações e emoções
contraditórias, com sonhos, recalques, desvios, alegrias e
decepções. Tem que se conscientizar que está lidando com
"pessoas", não com sombras ou conceitos.
Deve
ter em mente que a "matéria-prima" do seu trabalho é o
ser humano, com suas deficiências, virtudes, taras, grandezas,
interesses e mesquinharias. Não pode nunca se esquecer de que, a
mais leve insinuação, por mínima que seja, sobre desvios de
conduta de alguém, sua moral ou sua forma de pensar, trará
conseqüências, muitas vezes irreversíveis, para esse indivíduo.
Pode destruí-lo. Daí a necessidade do profissional de jornalismo
(repórter, editor, comentarista etc.) ser justo, imparcial e honesto
no que faz.
Comunicação,
porém, não é somente jornalismo. A televisão, em seus programas
de entretenimento, principalmente novelas e filmes, influencia
comportamentos, para o bem ou para o mal. Mencione-se, por exemplo, o
desvirtuamento que se vem fazendo, em determinados canais (e isso não
é de hoje) e em alguns horários nem sempre apropriados, da arte do
erotismo. Seu limite, em relação à pornografia, é sutil,
sutilíssimo e nem todos os expectadores têm critério ou maturidade
suficientes para fazer a distinção.
Não
defendo, evidentemente, nenhum tipo de censura. E, como já
ressaltei, a Constituição brasileira a proíbe. O que é necessário
é que o próprio comunicador, autor de novela, roteirista de filme
ou mesmo escritor de romances tenha autocrítica. Que pergunte, a si
mesmo, se tem algo inteligente, proveitoso, interessante e
construtivo a dizer (ou a escrever, claro). Se a resposta for
positiva, que o diga. Caso contrário...
Para
se destruir algo ou alguém, seja lá o que ou quem for, não é
preciso ser criativo, dispor de muita técnica ou ter um pouquinho a
mais de massa cinzenta que os mortais comuns. Construir, porém, é
tarefa de gigantes, de pessoas especiais, talentosas e de grande
visão. Será que é válido, por uma certa importância em dinheiro
(e não importa quanto), um intelectual se expor ao ridículo e
alterar (para pior) o comportamento de pessoas mais simples e menos
dotadas de capacidade de análise?
Pode-se,
grosso modo, destacar quatro funções básicas da imprensa livre. A
primeira, é fazer com que os líderes do governo, em seus três
poderes, prestem contas à população, da qual são originários e à
qual representam. A segunda, é divulgar assuntos que pedem a atenção
da opinião pública, não importa se positivos ou negativos. A
terceira é informar os cidadãos para que possam tomar decisões, em
suas vidas e seus negócios, conscientes e fundamentadas em fatos. E,
finalmente, quarta, é a de criar conexões entre as pessoas na
sociedade civil.
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