Saturday, May 05, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - Esconder o sol com a peneira


Esconder o sol com a peneira


Pedro J. Bondaczuk

Todas as semanas procurará a delegacia da Ciesp divulgar pesquisas a respeito do comportamento do mercado de trabalho e da produção quanto às indústrias localizadas nesta região. Trata-se de iniciativa louvável, capaz de proporcionar a todos nós uma imagem correta de como vem funcionando o parque fabril após a implantação do Plano Collor, quando se efetuou o bloqueio de 80% de todo o meio circulante existente no País, a ponto da própria Caixa Econômica Federal, na última semana, não ter numerário disponível sequer para o pagamento de saques devidos a encargos sociais.

A bem da verdade, a situação no setor das indústrias desta região de Campinas reflete em gênero, número e grau, esse quadro de preocupações e incertezas conhecido em todo o Estado de São Paulo.

Por sinal, as classes empresariais e dos trabalhadores, agora afinadas no mesmo crivo de apreensões, têm levado ao conhecimento das altas autoridades da República as variadas nuances de um estado nada satisfatório. Assim, não exagerou a Ciesp de Campinas na declaração de que apenas 25% das indústrias aqui instaladas operam no momento em clima de normalidade.

Também é perfeitamente válido o informe de que a produção e as vendas caíram a níveis bem baixos, enquanto grande parte da mão de obra compromissada está aí em compasso de espera, aguardando efetiva melhora. Portanto, não evidenciou o levantamento efetuado sinais de indicadores positivos a curto prazo. Evidentemente, há que se descartar a hipótese de qualquer espécie de pânico no setor, porém, devemos convir, esse panorama gera toda a sorte de especulações. E isto não é nada bom para Campinas, cidade que se destaca pela importância de seu parque industrial.

Se a própria ministra Zélia Cardoso de Mello reconhece a existência de um processo de recessão branda, por toda a parte; se os técnicos do IBGE admitem também a possibilidade da economia brasileira mergulhar no corrente ano numa recessão sem precedentes, muito superior àquela registrada em 1981, diante de uma situação realmente séria, há necessidade das forças vivas do trabalho e da produção, distribuídas pelos principais Estados da Federação, formarem agora um elo de pressões sobre o governo, isto na tentativa de reverter a fisionomia do quadro existente no momento. O aspecto recessivo não constitui apenas fenômeno constatado na região de Campinas. De uma forma ou de outra, todo o parque industrial de nosso Estado foi atingido com vigor pelas implicações do Plano Collor. Sejamos francos nesse particular: sem dinheiro, em caixa ou em circulação, não se pode movimentar toda essa estrutura capaz de proporcionar trabalho e progresso ao País inteiro.

Estamos chegando já a um ponto bem crítico. Todas as tonalidades de recessão assinaladas no setor industrial de Campinas, pelo visto, não se afiguram boas conselheiras para o alcance das metas desejadas quanto ao desenvolvimento e prosperidade de toda esta região. Assim, não há mesmo como esconder o sol com a peneira.

(Editorial publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 28 de abril de 1990)

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