Esconder o sol com a peneira
Pedro J. Bondaczuk
Todas as semanas procurará a
delegacia da Ciesp divulgar pesquisas a respeito do comportamento do
mercado de trabalho e da produção quanto às indústrias
localizadas nesta região. Trata-se de iniciativa louvável, capaz de
proporcionar a todos nós uma imagem correta de como vem funcionando
o parque fabril após a implantação do Plano Collor, quando se
efetuou o bloqueio de 80% de todo o meio circulante existente no
País, a ponto da própria Caixa Econômica Federal, na última
semana, não ter numerário disponível sequer para o pagamento de
saques devidos a encargos sociais.
A bem da verdade, a situação
no setor das indústrias desta região de Campinas reflete em gênero,
número e grau, esse quadro de preocupações e incertezas conhecido
em todo o Estado de São Paulo.
Por sinal, as classes
empresariais e dos trabalhadores, agora afinadas no mesmo crivo de
apreensões, têm levado ao conhecimento das altas autoridades da
República as variadas nuances de um estado nada satisfatório.
Assim, não exagerou a Ciesp de Campinas na declaração de que
apenas 25% das indústrias aqui instaladas operam no momento em clima
de normalidade.
Também é perfeitamente
válido o informe de que a produção e as vendas caíram a níveis
bem baixos, enquanto grande parte da mão de obra compromissada está
aí em compasso de espera, aguardando efetiva melhora. Portanto, não
evidenciou o levantamento efetuado sinais de indicadores positivos a
curto prazo. Evidentemente, há que se descartar a hipótese de
qualquer espécie de pânico no setor, porém, devemos convir, esse
panorama gera toda a sorte de especulações. E isto não é nada bom
para Campinas, cidade que se destaca pela importância de seu parque
industrial.
Se a própria ministra Zélia
Cardoso de Mello reconhece a existência de um processo de recessão
branda, por toda a parte; se os técnicos do IBGE admitem também a
possibilidade da economia brasileira mergulhar no corrente ano numa
recessão sem precedentes, muito superior àquela registrada em 1981,
diante de uma situação realmente séria, há necessidade das forças
vivas do trabalho e da produção, distribuídas pelos principais
Estados da Federação, formarem agora um elo de pressões sobre o
governo, isto na tentativa de reverter a fisionomia do quadro
existente no momento. O aspecto recessivo não constitui apenas
fenômeno constatado na região de Campinas. De uma forma ou de
outra, todo o parque industrial de nosso Estado foi atingido com
vigor pelas implicações do Plano Collor. Sejamos francos nesse
particular: sem dinheiro, em caixa ou em circulação, não se pode
movimentar toda essa estrutura capaz de proporcionar trabalho e
progresso ao País inteiro.
Estamos chegando já a um
ponto bem crítico. Todas as tonalidades de recessão assinaladas no
setor industrial de Campinas, pelo visto, não se afiguram boas
conselheiras para o alcance das metas desejadas quanto ao
desenvolvimento e prosperidade de toda esta região. Assim, não há
mesmo como esconder o sol com a peneira.
(Editorial publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 28 de abril de 1990)
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