O
elixir da juventude
Pedro J. Bondaczuk
O espírito, essa nossa porção misteriosa e imaterial, que nos
anima e dá vida, ao contrário do seu invólucro de carne, o corpo,
nunca envelhece. Mantém o viço e frescor enquanto vivermos. Claro
que, inadvertidamente, podemos matá-lo prematuramente. Mas não há
idade para a elaboração de nossas obras e a conquista de nossos
ideais. Compete-nos alimentar nosso espírito com boas ideias e
nobres sentimentos e iluminá-lo com a beleza. Em vez de permitir que
se envenene com ressentimentos, cobiça, inveja e outras tantas
coisas mesquinhas e destrutivas, devemos nutri-lo com bons livros,
boa música, amizades sinceras e um grande e indestrutível amor.
Dessa forma, nosso espírito conservará, sempre, o viço da
juventude. É do escritor Aníbal Machado esta feliz e precisa
afirmação, colocada na boca de um dos seus personagens: “O
espírito só tem uma idade: ou é sempre jovem ou não é espírito”.
E o corpo, há como evitar que envelheça? Não! O que existe é a
possibilidade de, mediante hábitos saudáveis de vida, retardar, e
apenas por certo tempo (mas não muito) o envelhecimento. Depois que
este se instala, todavia, não existe forma de reverter o processo. É
irreversível. Há milênios, no entanto, a humanidade sonha com
produtos milagrosos que não somente retardem, mas revertam a
velhice, deixando, quem os consuma, eternamente jovens. Há uma
infinidade de lendas a propósito. Uma delas é a que se refere à
fonte da juventude. Foi em busca dela, por exemplo, que o
conquistador espanhol, Juan Ponce de Leon, descobriu, em 1512, o
território que hoje se constitui no Estado norte-americano da
Flórida. Não era o que queria. Não encontrou sequer o mais remoto
vestígio da tão ansiosamente buscada fonte da juventude e por uma
razão simplérrima: esta, obviamente, não existe e nunca existiu.
Muita gente, todavia, ainda hoje, com todo o aparato de informação
e comunicação que existe, ainda crê na sua existência. Há várias
lendas a respeito da tal fonte. Dela manaria uma água miraculosa com
a capacidade de rejuvenescer quem a beba. Caso existisse, de fato, e
alguém a descobrisse, já imaginaram a fortuna que o sortudo
descobridor ganharia? Afinal, quem não quer conservar o viço, a
beleza, a disposição e o vigor da juventude? Da minha parte,
gostaria de tudo isso, mas sem perder a sabedoria que os muitos anos
que vivi me conferiram e, sobretudo, esse bem inestimável que é a
experiência. Se tiver que fazer simplesmente mera troca, prefiro
continuar como estou. Afinal, modéstia a parte, nem estou tão
acabado assim.
Uma das narrativas que dão conta da existência da tal da fonte da
juventude – a tal que Ponce de Leon nunca descobriu – diz que ela
teria sido descoberta na Península Arábica, pelos árabes,
obviamente, e, no entanto teria sido roubada por bárbaros (não no
sentido que os jovens empregam esta palavra, ou seja, de magnífico,
mas no de quem pratica barbáries). Os ladrões desse preciosíssimo
bem foram, claro, amaldiçoados. Ninguém abençoa quem nos suprima o
que é precioso. Quem os amaldiçoou? Foi o líder da aldeia em que a
fonte da juventude havia sido descoberta. Deve ter sido uma maldição
daquelas!
Os ladrões fugiram de barco, levando esse manancial com eles (só
não entendo como alguém poderia transportar uma fonte. Mas como se
trata de lenda... tudo é possível). Em alto mar, como consequência
da maldição (maldiçãozona!), a embarcação afundou, matando os
fugitivos. Desde então, há quem acredite que esse miraculoso
manancial, por não ser natural e conter águas muito puras, não foi
contaminado pelo mar. Flutua no oceano e um dia irá bater em alguma
praia (se é que ainda não bateu). Sequer me admiro que haja quem
acredite em absurdo como este. Afinal, se acreditam em Papai Noel,
coelhinho da Páscoa e nos políticos de Brasília, por que não
haveriam de acreditar nisso também?!
Outra lenda diz que a fonte da juventude se encontra (vejam só!) no
Ártico. Suas águas misturaram-se às do oceano sem perderem seu
poder. Essa versão diz que a pessoa que se banhar nua, em noites de
lua cheia, nas águas mornas da parte do Ártico mais próxima do
Polo Norte, se tornará imortal e eternamente jovem. Aviso aos
navegantes: a temperatura, ali, pode passar dos 50 graus centígrados
abaixo de zero. Você se habilitaria a tomar banho, nu, lá, mesmo
assim? Eu é que não!
Uma terceira versão diz que a fonte da juventude está no oceano
(mas não identifica em qual), e numa ilha que não consta em nenhum
mapa. Essa outra lenda garante que quem beber a sua água será
teletransportado ao passado, ao tempo em que era bebê, retomando a
vida desde o princípio. Quando começar a envelhecer, basta tomar
novamente o miraculoso líquido para iniciar tudo de novo, quantas
vezes quiser. Creiam-me, leitores, não estou brincando com vocês,
há pessoas que acreditam em tudo isso!
Antes de se espalharem as lendas sobre a fonte da juventude,
falava-se, e há muito tempo, de um hipotético elixir da juventude,
boato que ninguém sabe onde, quando e nem com quem surgiu, mas que
passou de pai para filho, por milhares de gerações, até chegar aos
nossos dias. Para os alquimistas (aqueles que juravam saber como
transformar chumbo em ouro), esse supostamente mágico líquido
encontrava-se no “ouro potável”. Suas propriedades curariam
qualquer doença e regenerariam organismos envelhecidos, prolongando
a vida. O miraculoso elixir tinha, também, o nome de “águas dos
filósofos”. Muito charlatão deve ter ficado milionário vendendo
este suposto produto mágico a uma infinidade de trouxas.
Responda-me na bucha: você quer manter o espírito sempre jovem
(pois o corpo não tem jeito)? Ame. Ame sempre, muito e
profundamente. Ame sem peias e sem reservas. Ame física, mental e
psicologicamente. Ame da manhã até a noite. Ame na infância,
juventude, maturidade e velhice. Nunca se canse da amar.
Asseguro-lhes, pacientes leitores, que não há processos de
envelhecimento, por mais severos que sejam, que resistam a esse
potentíssimo elixir da juventude chamado de “Amor”!
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