Epidemia de violência
Pedro J. Bondaczuk
A violência foi uma das
marcas deste ano em Campinas, como ademais ocorreu em várias outras
partes do País e do mundo. Trata-se de uma das características
destes tempos de dificuldades e incertezas, uma espécie de vírus,
de epidemia, de doença espiritual, manifestação de insanidade
mental e de desamor.
Além da miséria e da crise
social, o tráfico e consumo de drogas, o uso excessivo de bebidas
alcoólicas e as deficiências de educação envolvendo inúmeras
pessoas, por razões diversas, podem ser apontados como algumas das
causas para tamanha fúria, embora não as únicas.
A violência manifestou-se
tanto através de assaltos e roubos de casas, automóveis, motos,
estabelecimentos comerciais e pessoas, quanto por homicídios,
tentativas de assassinato e agressões, geralmente pelos motivos mais
fúteis e banais.
Os episódios contra a vida e
o patrimônio se repetiram ao longo do ano numa quantidade
assustadora, a ponto da segurança ser hoje a principal preocupação
do campineiro, seja qual for sua classe social ou faixa de renda,
conforme mostram várias pesquisas.
Seria até desnecessário
citar exemplos, já que estes abundam por toda a parte, no dia a dia
da cidade. Todavia, em uma espiada apressada apenas nesta edição do
"Correio", constatamos que um vendedor foi morto quando
praticava um assalto à casa de um comerciante no Jardim Londres,
armado com faca e revólver de brinquedo. Dois travestis foram
baleados na cabeça por desconhecidos na Rodovia Dom Pedro (um morreu
e outro está em estado grave no Hospital Mário Gatti). Bandidos
praticaram assalto em Souzas e fugiram com viatura roubada da Polícia
Militar. E vai por aí afora.
Mudam personagens, vítimas e
circunstâncias, mas episódios brutais como estes, ou outros até
mais graves, sucederam-se ao longo de todo 1996, sem trégua, em
quantidades bastante superiores à média de anos anteriores.
Isto sem contar a violência
que não vem a público, a escondida ou não denunciada, até mais
cruel por ser muitas vezes continuada sem que a vítima possa se
defender, praticada em casa contra (ou pela) mulher, contra filhos,
sobrinhos ou irmãos. Estão neste caso as agressões sexuais, os
espancamentos de menores e outras atrocidades do gênero.
Neste ano, por exemplo, o
episódio de Lorena Bobbit --- que se tornou conhecida no mundo todo
por haver cortado o pênis do marido, John Wayne Bobbit, nos Estados
Unidos --- foi reproduzido em pelo menos quatro oportunidades no
País. E ontem, um caso semelhante verificou-se em Campinas, com um
vidraceiro, que teve o órgão reimplantado no Hospital da Unicamp.
Além de providências, como a
punição rigorosa para os que cometem delitos contra a vida e
patrimônio alheios (a impunidade é o maior estímulo para o crime)
e medidas de prevenção, algumas óbvias, como um policiamento
ostensivo nos locais considerados focos potenciais de criminalidade,
a violência desenfreada que atinge as grandes cidades requer
reflexão de toda a sociedade.
O princípio primário para a
cura de qualquer doença é que ela seja diagnosticada sem equívocos.
Só assim pode ser aplicada a terapia adequada ao caso. O mesmo
raciocínio vale em relação à violência, que só poderá ser
detida se o mal for detectado corretamente, em tempo e cortado pela
raiz.
(Editorial número um,
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 31 de
dezembro de 1996).
No comments:
Post a Comment