Wednesday, May 16, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - Epidemia de violência


Epidemia de violência


Pedro J. Bondaczuk


A violência foi uma das marcas deste ano em Campinas, como ademais ocorreu em várias outras partes do País e do mundo. Trata-se de uma das características destes tempos de dificuldades e incertezas, uma espécie de vírus, de epidemia, de doença espiritual, manifestação de insanidade mental e de desamor.

Além da miséria e da crise social, o tráfico e consumo de drogas, o uso excessivo de bebidas alcoólicas e as deficiências de educação envolvendo inúmeras pessoas, por razões diversas, podem ser apontados como algumas das causas para tamanha fúria, embora não as únicas.

A violência manifestou-se tanto através de assaltos e roubos de casas, automóveis, motos, estabelecimentos comerciais e pessoas, quanto por homicídios, tentativas de assassinato e agressões, geralmente pelos motivos mais fúteis e banais.

Os episódios contra a vida e o patrimônio se repetiram ao longo do ano numa quantidade assustadora, a ponto da segurança ser hoje a principal preocupação do campineiro, seja qual for sua classe social ou faixa de renda, conforme mostram várias pesquisas.

Seria até desnecessário citar exemplos, já que estes abundam por toda a parte, no dia a dia da cidade. Todavia, em uma espiada apressada apenas nesta edição do "Correio", constatamos que um vendedor foi morto quando praticava um assalto à casa de um comerciante no Jardim Londres, armado com faca e revólver de brinquedo. Dois travestis foram baleados na cabeça por desconhecidos na Rodovia Dom Pedro (um morreu e outro está em estado grave no Hospital Mário Gatti). Bandidos praticaram assalto em Souzas e fugiram com viatura roubada da Polícia Militar. E vai por aí afora.

Mudam personagens, vítimas e circunstâncias, mas episódios brutais como estes, ou outros até mais graves, sucederam-se ao longo de todo 1996, sem trégua, em quantidades bastante superiores à média de anos anteriores.

Isto sem contar a violência que não vem a público, a escondida ou não denunciada, até mais cruel por ser muitas vezes continuada sem que a vítima possa se defender, praticada em casa contra (ou pela) mulher, contra filhos, sobrinhos ou irmãos. Estão neste caso as agressões sexuais, os espancamentos de menores e outras atrocidades do gênero.

Neste ano, por exemplo, o episódio de Lorena Bobbit --- que se tornou conhecida no mundo todo por haver cortado o pênis do marido, John Wayne Bobbit, nos Estados Unidos --- foi reproduzido em pelo menos quatro oportunidades no País. E ontem, um caso semelhante verificou-se em Campinas, com um vidraceiro, que teve o órgão reimplantado no Hospital da Unicamp.

Além de providências, como a punição rigorosa para os que cometem delitos contra a vida e patrimônio alheios (a impunidade é o maior estímulo para o crime) e medidas de prevenção, algumas óbvias, como um policiamento ostensivo nos locais considerados focos potenciais de criminalidade, a violência desenfreada que atinge as grandes cidades requer reflexão de toda a sociedade.

O princípio primário para a cura de qualquer doença é que ela seja diagnosticada sem equívocos. Só assim pode ser aplicada a terapia adequada ao caso. O mesmo raciocínio vale em relação à violência, que só poderá ser detida se o mal for detectado corretamente, em tempo e cortado pela raiz.

(Editorial número um, publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 31 de dezembro de 1996).


Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk

No comments: