Saturday, May 12, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - Desprezo ao município


Desprezo ao município

Pedro J. Bondaczuk

O fato do secretário estadual de Saúde, Nelson Rodrigues dos Santos, desconhecer os motivos de Campinas não receber os recursos do governo federal destinados ao Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde (SUD), em proporção ao número de habitantes do Município evidencia o quanto o governo do Estado, responsável pelo repasse dessas verbas, trata com desprezo político a demanda social aqui localizada. A área da Saúde não é a única a ter esse tratamento por parte do governo do Estado. A Educação e a Segurança se constituem em dois outros setores abandonados pelo governo do Estado. A rede estadual de ensino precisa de, no mínimo, 236 novas salas de aula para poder atender a toda a demanda em 1991. E não existe nenhum projeto para a construção dessa estrutura. Quanto à Segurança, exatamente no ano eleitoral, o comando da Polícia Militar anuncia que, no segundo semestre, irá aumentar o policiamento na região do Campo Grande, uma das mais carentes do Município e que apresenta alto grau de criminalidade.

A descentralização do sistema de saúde trouxe novos e quase intransponíveis obstáculos para a melhora do atendimento médico-hospitalar em Campinas. Se o governo federal, com a conivência explícita do Estado, jogou ao município a responsabilidade de administrar o sistema, até agora deixou de apresentar um mecanismo eficiente de distribuição dos recursos inerentes à nova incumbência da administração municipal. É o próprio secretário da Saúde, Gastão Wagner de Souza Campos, quem admite isso: todo investimento na Saúde vem sendo iniciativa do Município, pois o Estado repassa para Campinas apenas Cr$ 12 milhões em maio, quando em cidades como Santos e Bauru, que têm uma população bem menor, recebem a mesma quantia.

A aproximação política do prefeito Jacó Bittar com o governador Orestes Quércia deveria trazer melhores resultados. Se há efetivamente disposição de ambos os líderes políticos em dotar o Município de um sistema educacional, de saúde e de segurança condizente com as exigências da cidade, projetos nesse sentido poderiam ser apresentados para execução.

No caso da Educação, o governo do Estado joga uma queda de braço com as prefeituras que rejeitam o convênio para a municipalização do ensino. Esse projeto do Estado, na realidade, visa a destinar à administração das cidades conveniadas recursos para ampliação do espaço físico da rede escolar. Ou seja, parece que o governo do Estado quer dispensar de suas responsabilidades essa atribuição, sem a contrapartida em garantir que os recursos serão reajustados de acordo com as necessidades de cada município.

Interessante é notar que essas três áreas são críticas para qualquer administração pública, pois atendem às demandas sociais mais graves. Saúde, Educação e Segurança asseguram à maioria dos políticos densas informações e denúncias para a formulação de seus programas e discursos eleitoreiros. Mas sempre são discriminadas de fato.

(Editorial publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 8 de maio de 1990)


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