Monday, May 07, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - Sonhos desnecessários


Sonhos desnecessários

Pedro J. Bondaczuk

Os projetos ambiciosos que o prefeito Jacó Bittar trouxe em sua bagagem de volta da Alemanha e da França, onde passou dez dias conhecendo várias cidades e sua infraestrutura, sublimam uma vontade amarrada à crua realidade construída pela administração municipal, paralisada em seus excessos e perplexa diante da inapetência do PT frente ao Executivo. O prefeito teve a oportunidade de verificar as administrações públicas de países do Primeiro Mundo funcionando. Lá, os projetos são executados sem hiatos provocados pela mudança de governo e com a eficiência decorrente da fiscalização popular.

Nos sonhos do prefeito Jacó Bittar estão a implantação do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), projeto simpático aos olhos do governador Orestes Quércia também, a compra de 100 ônibus destinados à Empresa Municipal de Transporte e Trânsito e a aquisição de "tatus" para perfuração de redes de esgoto.

Os projetos descritos pelo prefeito demandam recursos volumosos que, por sua vez, dependem de um sistema de operação e infraestrutura para serem viabilizados. A questão é saber se a Prefeitura, hoje, tem condições para viabilizar tudo isso. A resposta exige pouco raciocínio. Com uma administração inoperante, vagarosa até mesmo para tapar buracos, limpar terrenos baldios (ou exigir de seus proprietários a limpeza), ineficiente para fazer as empresas permissionárias de transporte coletivo cumprirem seus contratos com o Poder Público e dividida internamente, novos projetos podem ser armadilhas. Ainda mais se sua importância é discutível a curto prazo.

Se esses planos são consequência da viagem à Europa, o prefeito demonstra que o passeio poderia ser substituído por visitas às universidades brasileiras onde se estudam tais projetos. O sistema de abertura de rede de esgoto através da máquina "shield" (o "tatu") é conhecido dos engenheiros e técnicos brasileiros, que detêm tecnologia para isso. O metrô de superfície foi ambicionado também pela administração do ex-prefeito José Roberto Magalhães Teixeira, que contou com subsídios da Fepasa para iniciar o plano de aproveitamento dos ramais ferroviários desativados, podendo ser estendido com ramais para vários pontos da cidade. E a compra de ônibus é uma necessidade que qualquer usuário dos transportes urbanos conhece.

A dúvida está exatamente direcionada à capacidade da atual administração em implementar tais projetos com sucesso. Se a Prefeitura do PT quer a todo custo a Empresa Municipal de Transporte e Trânsito, a compra de 100 ônibus para municiá-la e, a médio prazo, a implantação do metrô de superfície, deveria equacionar esses objetivos a partir da elaboração do Plano Diretor de Urbanismo, muito prometido e propagado em sua intenção no início do governo do PT no ano passado, mas até agora irrealizado. Ocorre que se não houver esse Plano Diretor para dimensionar e nortear o crescimento da cidade e de sua infraestrutura para os próximos anos, a simples aquisição de 100 ônibus serviria para transformar em caos, definitivamente, o centro da cidade e as vias de fluxo do sistema coletivo. Hoje, nos horários de pico, a cidade fica intransitável. Imaginem com mais 100 veículos, sem um planejamento correto.

Campinas tem prioridades, entre elas o sistema de transporte. Mas o seu dia a dia prova que a administração pública é ineficiente até mesmo para a manutenção dos bairros, onde as Administrações Regionais não explicaram quais são suas funções. E a administração de uma cidade começa exatamente pela conservação de seus bairros, onde vivem os cidadãos.

(Editorial publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 25 de abril de 1990)



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