Sonhos desnecessários
Pedro J. Bondaczuk
Os projetos ambiciosos que o
prefeito Jacó Bittar trouxe em sua bagagem de volta da Alemanha e da
França, onde passou dez dias conhecendo várias cidades e sua
infraestrutura, sublimam uma vontade amarrada à crua realidade
construída pela administração municipal, paralisada em seus
excessos e perplexa diante da inapetência do PT frente ao Executivo.
O prefeito teve a oportunidade de verificar as administrações
públicas de países do Primeiro Mundo funcionando. Lá, os projetos
são executados sem hiatos provocados pela mudança de governo e com
a eficiência decorrente da fiscalização popular.
Nos sonhos do prefeito Jacó
Bittar estão a implantação do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT),
projeto simpático aos olhos do governador Orestes Quércia também,
a compra de 100 ônibus destinados à Empresa Municipal de Transporte
e Trânsito e a aquisição de "tatus" para perfuração de
redes de esgoto.
Os projetos descritos pelo
prefeito demandam recursos volumosos que, por sua vez, dependem de um
sistema de operação e infraestrutura para serem viabilizados. A
questão é saber se a Prefeitura, hoje, tem condições para
viabilizar tudo isso. A resposta exige pouco raciocínio. Com uma
administração inoperante, vagarosa até mesmo para tapar buracos,
limpar terrenos baldios (ou exigir de seus proprietários a limpeza),
ineficiente para fazer as empresas permissionárias de transporte
coletivo cumprirem seus contratos com o Poder Público e dividida
internamente, novos projetos podem ser armadilhas. Ainda mais se sua
importância é discutível a curto prazo.
Se esses planos são
consequência da viagem à Europa, o prefeito demonstra que o passeio
poderia ser substituído por visitas às universidades brasileiras
onde se estudam tais projetos. O sistema de abertura de rede de
esgoto através da máquina "shield" (o "tatu") é
conhecido dos engenheiros e técnicos brasileiros, que detêm
tecnologia para isso. O metrô de superfície foi ambicionado também
pela administração do ex-prefeito José Roberto Magalhães
Teixeira, que contou com subsídios da Fepasa para iniciar o plano de
aproveitamento dos ramais ferroviários desativados, podendo ser
estendido com ramais para vários pontos da cidade. E a compra de
ônibus é uma necessidade que qualquer usuário dos transportes
urbanos conhece.
A dúvida está exatamente
direcionada à capacidade da atual administração em implementar
tais projetos com sucesso. Se a Prefeitura do PT quer a todo custo a
Empresa Municipal de Transporte e Trânsito, a compra de 100 ônibus
para municiá-la e, a médio prazo, a implantação do metrô de
superfície, deveria equacionar esses objetivos a partir da
elaboração do Plano Diretor de Urbanismo, muito prometido e
propagado em sua intenção no início do governo do PT no ano
passado, mas até agora irrealizado. Ocorre que se não houver esse
Plano Diretor para dimensionar e nortear o crescimento da cidade e de
sua infraestrutura para os próximos anos, a simples aquisição de
100 ônibus serviria para transformar em caos, definitivamente, o
centro da cidade e as vias de fluxo do sistema coletivo. Hoje, nos
horários de pico, a cidade fica intransitável. Imaginem com mais
100 veículos, sem um planejamento correto.
Campinas tem prioridades,
entre elas o sistema de transporte. Mas o seu dia a dia prova que a
administração pública é ineficiente até mesmo para a manutenção
dos bairros, onde as Administrações Regionais não explicaram quais
são suas funções. E a administração de uma cidade começa
exatamente pela conservação de seus bairros, onde vivem os
cidadãos.
(Editorial publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 25 de abril de 1990)
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