Tuesday, May 08, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - Presente de grego


Presente de grego


Pedro J. Bondaczuk

O temporal que desabou sobre Campinas na madrugada do Natal mostrou, mais uma vez (talvez pela enésima dos últimos tempos), a fragilidade da cidade para enfrentar fenômenos climáticos tão simples, como uma chuva um pouco mais forte. Imaginem se aqui fosse zona propensa a furacões ou tufões... A tragédia seria muito maior e estaríamos lamentando a perda de vidas, em vez de apenas prejuízos materiais.

Pelo menos 2,4 mil pessoas, em dezenas de bairros, ficaram desabrigadas em consequência de inundações, perdendo móveis e utensílios adquiridos com enorme sacrifício, a maioria através de crediário, muitos recém chegados das lojas para as festas natalinas. Foi um Natal tristemente inesquecível para esses campineiros, especialmente no Jardim São Marcos e no distrito de Barão Geraldo, entre outros.

Para complicar, 60 mil pessoas tiveram que enfrentar a fúria das águas no escuro, por falta de energia elétrica. Ainda mais esta! E não foi a primeira vez que isso aconteceu.

Há tempos foi noticiado pelo "Correio" que a administração municipal havia lançado um Programa contra Enchentes, conhecido pela sigla Procen, destinado exatamente a evitar o que afinal aconteceu.

A maior parte das obras para evitar inundações, todavia, ficou inacabada ou sequer saiu do papel. Córregos, que deveriam ter sido limpos, permanecem repletos de sujeira e de entulho, transformados em criadouros de mosquitos, pernilongos e ratos, expondo a risco a saúde da população, especialmente de contrair a dengue ou a leptospirose.

Desde o começo do ano, os órgãos de comunicação vinham alertando as autoridades que, em decorrência do fenômeno climático natural conhecido como "El Niño", a região Sudeste do País seria afetada por fortes temporais.

Chegou a haver uma reunião em Brasília, para definir medidas preventivas. O que se vê, no entanto --- e não somente em Campinas, como em outras tantas cidades --- é que mais uma vez se agiu da mesma forma com que nossos políticos sempre agem quando não têm soluções efetivas para determinados problemas: foram formadas "comissões" para "estudar" a questão e tudo não passou disso.

Se o temporal do Natal tiver sido uma amostra de como vai ser a temporada chuvosa deste verão, a população que mora nas áreas propensas a enchentes pode se preparar para mais prejuízos. E tomara que estes, se acontecerem, sejam apenas patrimoniais, não redundando em perdas de vidas, o que infelizmente não pode ser descartado.

Se a Prefeitura está sem verbas para tocar obras emergenciais, por que não convocou os campineiros para um mutirão destinado a prevenir os efeitos das chuvas? Por que não lançou campanha pelos órgãos de comunicação no sentido de conscientizar os moradores das áreas de risco da necessidade de manterem os leitos dos córregos e ribeirões desimpedidos de lixo, mato e entulho e as bocas de lobo limpas?

O Poder Público desperdiça tanto dinheiro em anúncios institucionais desnecessários (e muitas vezes até mesmo ilegais). Por que não usar a verba de publicidade para prevenir tragédias mediante a mobilização dos cidadãos?

(Editorial número um, publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 28 de dezembro de 1997).


Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk

No comments: