Presente de grego
Pedro J. Bondaczuk
O
temporal que desabou sobre Campinas na madrugada do Natal mostrou,
mais uma vez (talvez pela enésima dos últimos tempos), a
fragilidade da cidade para enfrentar fenômenos climáticos tão
simples, como uma chuva um pouco mais forte. Imaginem se aqui fosse
zona propensa a furacões ou tufões... A tragédia seria muito maior
e estaríamos lamentando a perda de vidas, em vez de apenas prejuízos
materiais.
Pelo
menos 2,4 mil pessoas, em dezenas de bairros, ficaram desabrigadas em
consequência de inundações, perdendo móveis e utensílios
adquiridos com enorme sacrifício, a maioria através de crediário,
muitos recém chegados das lojas para as festas natalinas. Foi um
Natal tristemente inesquecível para esses campineiros, especialmente
no Jardim São Marcos e no distrito de Barão Geraldo, entre outros.
Para
complicar, 60 mil pessoas tiveram que enfrentar a fúria das águas
no escuro, por falta de energia elétrica. Ainda mais esta! E não
foi a primeira vez que isso aconteceu.
Há
tempos foi noticiado pelo "Correio" que a administração
municipal havia lançado um Programa contra Enchentes, conhecido pela
sigla Procen, destinado exatamente a evitar o que afinal aconteceu.
A
maior parte das obras para evitar inundações, todavia, ficou
inacabada ou sequer saiu do papel. Córregos, que deveriam ter sido
limpos, permanecem repletos de sujeira e de entulho, transformados em
criadouros de mosquitos, pernilongos e ratos, expondo a risco a saúde
da população, especialmente de contrair a dengue ou a leptospirose.
Desde o
começo do ano, os órgãos de comunicação vinham alertando as
autoridades que, em decorrência do fenômeno climático natural
conhecido como "El Niño", a região Sudeste do País seria
afetada por fortes temporais.
Chegou
a haver uma reunião em Brasília, para definir medidas preventivas.
O que se vê, no entanto --- e não somente em Campinas, como em
outras tantas cidades --- é que mais uma vez se agiu da mesma forma
com que nossos políticos sempre agem quando não têm soluções
efetivas para determinados problemas: foram formadas "comissões"
para "estudar" a questão e tudo não passou disso.
Se
o temporal do Natal tiver sido uma amostra de como vai ser a
temporada chuvosa deste verão, a população que mora nas áreas
propensas a enchentes pode se preparar para mais prejuízos. E tomara
que estes, se acontecerem, sejam apenas patrimoniais, não redundando
em perdas de vidas, o que infelizmente não pode ser descartado.
Se
a Prefeitura está sem verbas para tocar obras emergenciais, por que
não convocou os campineiros para um mutirão destinado a prevenir os
efeitos das chuvas? Por que não lançou campanha pelos órgãos de
comunicação no sentido de conscientizar os moradores das áreas de
risco da necessidade de manterem os leitos dos córregos e ribeirões
desimpedidos de lixo, mato e entulho e as bocas de lobo limpas?
O
Poder Público desperdiça tanto dinheiro em anúncios institucionais
desnecessários (e muitas vezes até mesmo ilegais). Por que não
usar a verba de publicidade para prevenir tragédias mediante a
mobilização dos cidadãos?
(Editorial
número um, publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em
28 de dezembro de 1997).
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