Os irresponsáveis
Pedro J. Bondaczuk
O jogo de braço entre a
Prefeitura e as empresas permissionárias de transporte coletivo não
se limita às cenas ameaçadoras para demonstrar força. A intenção
dos empresários do setor em entregar as permissionárias, sob a
alegação dos baixos preços das tarifas, ocorre diante de dados
obscuros, mesmo porque nos últimos cinco anos a frota permanece
inalterada, muitos dos veículos novos adquiridos nesse período
foram posteriormente vendidos e substituídos por unidades usadas,
enquanto a tarifa teve uma correção acima dos índices
inflacionários nos últimos doze meses.
A Prefeitura, notável culpada
nesse caso no sistema, até o momento deixa de cumprir seu papel e
empurra com a barriga uma possível redução dos transtornos
enfrentados pelos usuários diariamente. A fiscalização é falha e
as negociações políticas e administrativas com os empresários são
carregadas de disparates e acusações. Um joga a culpa para outro,
sem assumir suas responsabilidades. Os empresários tentam de toda as
formas esconder que os serviços prestados são péssimos. Mas
declaram prejuízos e ameaçam boicotar, negando-se a assumir o risco
natural do sistema capitalista, principalmente em se tratando de um
contrato firmado com o Poder Público, para quem prestam serviço.
Tanto a Prefeitura como as
empresas não expõem com clareza os dados que compõem a planilha de
custos. Parece que esse material é escondido a sete chaves.
O potencial econômico da
cidade é um dado desprezado pelos empresários do setor, que
exploram linhas que num só dia propiciam 600 mil usuários dos
transportes coletivos. A liquidez das empresas é peculiar. Porém,
se esses fatores são causadores de prejuízo, em nenhum momento
deveriam assumir contrato com o Poder Público para explorar o
sistema. A renovação da permissão implica em compromisso público,
tanto da parte da Prefeitura, como das empresas. E para confirmar a
tese de que serviço público no Brasil é ineficiente, a
administração municipal e a iniciativa privada representada nas
permissionárias reforçam essa ideia, sem se esforçarem para
encontrar uma fórmula consensual para o problema.
Se a Prefeitura quer mesmo a
empresa municipal de transporte para começar a resolver essa
questão, deveria desde já demonstrar competência para conviver com
divergências administrativas e ideológicas sem sucumbir ao primeiro
embate, como vem acontecendo desde a posse desse governo.
Essa novela acusa, todavia, um
comportamento idêntico entre empresas permissionárias e Prefeitura:
ambas olham o próprio umbigo e se despreocupam com o corpo da
cidade, vitalizado pela população que o alimenta com os impostos e
votos. A irresponsabilidade é flagrante, a mesquinhez é natural e a
verdade é jogada fora, porque cada um deles diz uma coisa para criar
um novo capítulo a preservar a tensão e a irritabilidade do usuário
do sistema.
(Editorial publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 22 de abril de 1990)
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