Sunday, May 13, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - Os irresponsáveis


Os irresponsáveis

Pedro J. Bondaczuk

O jogo de braço entre a Prefeitura e as empresas permissionárias de transporte coletivo não se limita às cenas ameaçadoras para demonstrar força. A intenção dos empresários do setor em entregar as permissionárias, sob a alegação dos baixos preços das tarifas, ocorre diante de dados obscuros, mesmo porque nos últimos cinco anos a frota permanece inalterada, muitos dos veículos novos adquiridos nesse período foram posteriormente vendidos e substituídos por unidades usadas, enquanto a tarifa teve uma correção acima dos índices inflacionários nos últimos doze meses.

A Prefeitura, notável culpada nesse caso no sistema, até o momento deixa de cumprir seu papel e empurra com a barriga uma possível redução dos transtornos enfrentados pelos usuários diariamente. A fiscalização é falha e as negociações políticas e administrativas com os empresários são carregadas de disparates e acusações. Um joga a culpa para outro, sem assumir suas responsabilidades. Os empresários tentam de toda as formas esconder que os serviços prestados são péssimos. Mas declaram prejuízos e ameaçam boicotar, negando-se a assumir o risco natural do sistema capitalista, principalmente em se tratando de um contrato firmado com o Poder Público, para quem prestam serviço.

Tanto a Prefeitura como as empresas não expõem com clareza os dados que compõem a planilha de custos. Parece que esse material é escondido a sete chaves.

O potencial econômico da cidade é um dado desprezado pelos empresários do setor, que exploram linhas que num só dia propiciam 600 mil usuários dos transportes coletivos. A liquidez das empresas é peculiar. Porém, se esses fatores são causadores de prejuízo, em nenhum momento deveriam assumir contrato com o Poder Público para explorar o sistema. A renovação da permissão implica em compromisso público, tanto da parte da Prefeitura, como das empresas. E para confirmar a tese de que serviço público no Brasil é ineficiente, a administração municipal e a iniciativa privada representada nas permissionárias reforçam essa ideia, sem se esforçarem para encontrar uma fórmula consensual para o problema.

Se a Prefeitura quer mesmo a empresa municipal de transporte para começar a resolver essa questão, deveria desde já demonstrar competência para conviver com divergências administrativas e ideológicas sem sucumbir ao primeiro embate, como vem acontecendo desde a posse desse governo.

Essa novela acusa, todavia, um comportamento idêntico entre empresas permissionárias e Prefeitura: ambas olham o próprio umbigo e se despreocupam com o corpo da cidade, vitalizado pela população que o alimenta com os impostos e votos. A irresponsabilidade é flagrante, a mesquinhez é natural e a verdade é jogada fora, porque cada um deles diz uma coisa para criar um novo capítulo a preservar a tensão e a irritabilidade do usuário do sistema.

(Editorial publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 22 de abril de 1990)

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