Wednesday, May 02, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - Prioridade e contradição


Prioridade e contradição


Pedro J. Bondaczuk


O número insuficiente de ambulâncias na rede de saúde pública de Campinas provoca situações alarmantes, como a que aconteceu com Claudecir Apolônio, deficiente mental que ficou 15 dias à espera de socorro médico, em sua casa, por falta de um veículo adequado que o transportasse até um hospital psiquiátrico.

O drama da família do doente é vivido por muita gente. Qualquer pessoa numa situação econômica difícil, quando acometida de alguma doença que exija remoção urgente, depende de ambulâncias. Estas, além disso, são destinadas a salvar vidas, uma vez que conseguem transportar um paciente com rapidez para os centros médicos equipados. Mas a falta de ambulância é objeto de reclamação há anos. Tanto as autoridades municipais como a população sabem dessa carência. Ocorre que equipar um hospital adequadamente é tarefa cara, porém possível, desde que haja vontade para isso.

O governo do Estado sempre distribuiu, com objetivos eleitorais ou não, ambulâncias para os municípios. Campinas, cidade com uma periferia significativa e densamente habitada, apresenta prioridade na área de saúde pública. Por isso, dotar de equipamentos médico-hospitalares e ambulâncias a rede de saúde pública é imperioso. Bem como a ampliação do número de leitos nos hospitais.

A responsabilidade do governo do Estado cresce em relação à falta de ambulâncias, quando se sabe que há quase vinte carros novos parados na garagem do batalhão da PM à espera de motoristas e combustível para o policiamento ostensivo da cidade há dois anos aproximadamente. Se houvesse o estabelecimento de prioridades de fato, sem cunho eleitoreiro, o governo do Estado poderia ter destinado parte dos recursos da compra desses automóveis para a aquisição de ambulâncias. Se a segurança pública provoca a necessidade de se equipar a polícia num País doente e pobre como o Brasil, a estrutura médico-hospitalar é exigida exatamente porque a sua falta pode causar a morte de muitos.

A Prefeitura, através da Secretaria da Saúde, deveria dimensionar melhor seus projetos quanto à infraestrutura do setor e desenvolver planos consequentes para ampliar a frota de ambulâncias. Na administração anterior, com a ajuda da iniciativa privada, conseguiu-se recursos para a compra de dezenas de veículos para as Polícias Civil e Militar. A Prefeitura poderia repetir a dose e desenvolver esforços para a compra de ambulâncias, com urgência.

Enquanto na Polícia Militar carros, caros por sinal, ficam parados por meses e meses, a rede de saúde pública depende de ambulâncias para atender todos os chamados de doentes que precisam de remoção com urgência. A contradição é flagrante e denuncia, mais uma vez, como as prioridades sociais são administradas.

(Editorial publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 29 de abril de 1990)


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