Prioridade e contradição
Pedro J. Bondaczuk
O número insuficiente de
ambulâncias na rede de saúde pública de Campinas provoca situações
alarmantes, como a que aconteceu com Claudecir Apolônio, deficiente
mental que ficou 15 dias à espera de socorro médico, em sua casa,
por falta de um veículo adequado que o transportasse até um
hospital psiquiátrico.
O drama da família do doente
é vivido por muita gente. Qualquer pessoa numa situação econômica
difícil, quando acometida de alguma doença que exija remoção
urgente, depende de ambulâncias. Estas, além disso, são destinadas
a salvar vidas, uma vez que conseguem transportar um paciente com
rapidez para os centros médicos equipados. Mas a falta de ambulância
é objeto de reclamação há anos. Tanto as autoridades municipais
como a população sabem dessa carência. Ocorre que equipar um
hospital adequadamente é tarefa cara, porém possível, desde que
haja vontade para isso.
O governo do Estado sempre
distribuiu, com objetivos eleitorais ou não, ambulâncias para os
municípios. Campinas, cidade com uma periferia significativa e
densamente habitada, apresenta prioridade na área de saúde pública.
Por isso, dotar de equipamentos médico-hospitalares e ambulâncias a
rede de saúde pública é imperioso. Bem como a ampliação do
número de leitos nos hospitais.
A responsabilidade do governo
do Estado cresce em relação à falta de ambulâncias, quando se
sabe que há quase vinte carros novos parados na garagem do batalhão
da PM à espera de motoristas e combustível para o policiamento
ostensivo da cidade há dois anos aproximadamente. Se houvesse o
estabelecimento de prioridades de fato, sem cunho eleitoreiro, o
governo do Estado poderia ter destinado parte dos recursos da compra
desses automóveis para a aquisição de ambulâncias. Se a segurança
pública provoca a necessidade de se equipar a polícia num País
doente e pobre como o Brasil, a estrutura médico-hospitalar é
exigida exatamente porque a sua falta pode causar a morte de muitos.
A Prefeitura, através da
Secretaria da Saúde, deveria dimensionar melhor seus projetos quanto
à infraestrutura do setor e desenvolver planos consequentes para
ampliar a frota de ambulâncias. Na administração anterior, com a
ajuda da iniciativa privada, conseguiu-se recursos para a compra de
dezenas de veículos para as Polícias Civil e Militar. A Prefeitura
poderia repetir a dose e desenvolver esforços para a compra de
ambulâncias, com urgência.
Enquanto na Polícia Militar
carros, caros por sinal, ficam parados por meses e meses, a rede de
saúde pública depende de ambulâncias para atender todos os
chamados de doentes que precisam de remoção com urgência. A
contradição é flagrante e denuncia, mais uma vez, como as
prioridades sociais são administradas.
(Editorial publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 29 de abril de 1990)
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
No comments:
Post a Comment