Signo da insegurança
Pedro J. Bondaczuk
O ano recém findo foi marcado
pelo signo perverso da violência em Campinas, embora trouxesse,
também, coisas boas, tanto individual, quanto coletivamente, como
todos os outros por sinal. Afinal, trata-se de uma cidade criativa,
de uma metrópole viva, dinâmica, produtiva e com grande tradição
cultural, artística e desportiva no Estado e no País.
A coletividade pontepretana,
por exemplo, teve a grata surpresa, a felicidade de ver e participar
de maneira ativa do retorno do time ao palco principal do futebol
brasileiro: a Primeira Divisão.
O campineiro trabalhou,
produziu, criou, teve esperanças, alegrias e tristezas. Grandes
shows foram apresentados, peças foram encenadas, exposições foram
feitas. Se vidas foram suprimidas, outras tantas foram salvas por
nossos médicos. Professores ensinaram, operários produziram, a vida
seguiu seu curso.
Mas uma sombra pesou sobre a
cabeça do campineiro nos 365 dias que passaram. A marca principal, a
característica pela qual certamente 1997 será (tristemente)
lembrado, foi a insegurança, que predominou nos noticiários da
imprensa, que é o espelho da comunidade, refletindo seus
comportamentos e maneira de ser.
Estão aí as estatísticas
sobre homicídios --- que passaram de 400, com média de mais de um
por dia --- para comprovar que a segurança se tornou quase uma
ficção na cidade. Foram 400 vidas suprimidas, não importa por qual
motivo, já que nada justifica esse ato extremo, terrível, cruel.
Assaltos, roubos de
automóveis, sequestros, etc., ajudaram a compor um quadro sombrio e
desolador. O trânsito também matou, e muito. E mutilou pessoas,
além de trazer enormes prejuízos materiais. Invasões de áreas
particulares e públicas ajudaram a aumentar as tensões.
No aspecto de segurança,
portanto, o ano foi nitidamente de conflitos, o que desperta a
necessidade de um mutirão cívico que possibilite uma mudança.
Esta, porém, para ser efetiva, precisa ser consensual, negociada,
envolvendo todas as camadas da população e jamais de confronto. A
questão da violência não é exclusivamente policial.
Aliás, há um paradoxo enorme
em Campinas e no País. De um lado, exige-se mais rigor em relação
a determinados delitos, com penas mais amplas e atingindo mais
pessoas. De outro, há cadeias e presídios superlotados, focos de
rebeliões, cujo número, em 1997, aumentou em 147% em relação a
1996. Seria mais barato e inteligente investir em escolas para não
precisar construir mais prisões.
O momento não é para
cobranças insensatas e propostas de confronto. É de mobilização,
de união de forças, de desarmamento dos espíritos. É necessário
atacar as causas, não as consequências, da violência.
Algumas são fartamente
conhecidas, como os bolsões de miséria, a crise social, o
desemprego, a falta de perspectiva de ampla faixa da população, o
tráfico e consumo de drogas, as crianças abandonadas e sobretudo, a
deficiência na educação.
Embora graves, nossos
problemas têm solução. O sociólogo alemão Ralf Daherendorf, em
conferência que pronunciou na entrega do Prêmio Arnold Toynbee, no
Saint Anthony's College, em Oxford, em 20 de outubro de 1990,
observou: "O conflito é o grande estímulo à mudança, e nossa
tarefa, em um mundo no qual a mudança é a única esperança, é
domesticar o conflito, por meio de normas e da constituição da
liberdade". Domestiquemo-lo, pois, para transformar 1998 no ano
da segurança e do entendimento.
(Editorial número um,
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 1 de janeiro
de 1998).
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