Vocação para a grandeza
Pedro J. Bondaczuk
A
inauguração, no dia 19 passado, do Parque Dom Pedro Shopping, o
maior centro de compras, lazer e entretenimento da América Latina,
recoloca Campinas no noticiário nacional, agora no seu lugar de
direito: no de uma das mais progressistas e laboriosas comunidades
urbanas nacionais.
Responsável
pela geração de 10% do Produto Interno Bruto do País, sua
importância não pode e nem deve jamais ser esquecida (e muito menos
desprezada), como parece estar ocorrendo, por parte de alguns
políticos despreparados e administradores incompetentes, tanto da
esfera estadual, quanto, e principalmente, da federal.
A cidade
faz por merecer – por sua localização estratégica, sua magnífica
malha viária, suas requisitadas universidades e seus eficazes
institutos de pesquisa (além do seu polo de alta tecnologia, da
produtividade e criatividade do seu povo e do efeito multiplicador de
ações que aqui são deflagradas) –, tratamento diferenciado, que
a rigor não vem recebendo nos últimos anos, por meras picuinhas
políticas. Todos perdem com isso. Perde, sobretudo, o País.
A
aceitação, por parte do público, do moderno e funcional novo
centro de compras e de lazer, atesta o acerto dos seus
empreendedores, ao escolherem Campinas para investimento de tamanho
porte. É uma aposta ousada, mas que tem tudo para ser bem sucedida.
O magnífico fluxo de pessoas (cerca de 300 mil) no primeiro fim de
semana de funcionamento do novo megashopping, supera a todas e mais
otimistas expectativas. Pode-se afirmar, por consequência, sem
receio de precipitação ou de excesso de otimismo, que o
empreendimento já é um sucesso. E isto reflete, melhor do que
qualquer coisa, o que Campinas de fato é.
O
campineiro é um cidadão criativo e operoso (e sobretudo generoso,
acolhendo pessoas de todas as partes e de todas as classes sociais) e
que tem contribuído, ao longo dos quase 228 anos de existência
desta dinâmica comunidade, de forma marcante e contínua, para o
desenvolvimento político, econômico, social, artístico, esportivo
e cultural do Brasil. Seria até redundante citar os feitos de seus
ilustres filhos, nos mais diversos campos de atividade, tantos e
tamanhos eles são.
Ultimamente,
porém, essa importância tem sido ofuscada (quando não esquecida)
por acontecimentos que todos gostariam de esquecer, mas que ainda não
podem. Entre estes destaca-se, evidentemente, a trágica morte do seu
jovem e idealista prefeito, Antônio da Costa Santos, assassinado em
circunstâncias ainda não devidamente esclarecidas, há quase oito
meses. Ganham relevo, também, os 613 casos de homicídio registrados
em 2001, além dos sequestros, roubos de cargas e de veículos,
assaltos, etc., etc., etc.
A
criminalidade na cidade, por omissão daqueles aos quais compete
garantir a segurança da população, atingiu níveis absolutamente
intoleráveis. O campineiro, porém, que tem revelado enorme
capacidade de mobilização na defesa dos seus direitos, continua
trabalhando, produzindo, criando e participando do desafio de ajudar
a desenvolver este País, com um mínimo de justiça social.
Por isso,
por causa dessa sadia e construtiva forma de reação, aos poucos
começa a deixar de ser refém de criminosos. De uns tempos a esta
parte (não sem motivos, infelizmente), Campinas vem sendo tratada
como uma espécie de “capital do crime organizado” no Estado de
São Paulo.
As
realizações do seu povo e a sua contribuição para economia do
Estado e do País, atestadas por inúmeras estatísticas, cederam
lugar, nos noticiários dos meios de comunicação, a informações
diárias, quase que exclusivas, sobre quadrilhas de bandidos que
praticam as mais diversas e variadas modalidades de delito. Os
índices de violência, em especial de homicídios, explodiram na
cidade, superando, em termos proporcionais, os de 25 das 27 capitais
estaduais.
Campinas,
evidentemente, não é, e nunca foi, isso. Não haverá de ser agora!
Tem dificuldades, é inegável, como tantas outras cidades do seu
porte (ou até menores), no que diz respeito à segurança. Mas seus
moradores não estão dispostos a entregar, de “mão beijada”, o
que conquistaram com tantos sacrifícios.
A
instalação do maior centro de compras da América Latina em
Campinas é, sem dúvida, mais um passo no sentido da recuperação
do verdadeiro e privilegiado status da cidade. É inequívoca
manifestação de confiança, por parte dos seus empreendedores, no
inegável potencial e na enorme capacidade de geração de riquezas
do campineiro. Outros empreendimentos, do mesmo porte, certamente
virão. Há espaço e potencial para absorvê-los.
E
os resultados positivos, com certeza, não tardarão a aparecer. Não
somente no campo econômico, que é a vantagem mais óbvia desse tipo
de investimento, mas (e sobretudo) no social, representado pela
geração de milhares de novos empregos, o que vai contribuir para
solucionar um dos problemas mais graves da atualidade (no País e em
várias partes do mundo) nestes tempos de globalização: o de
desemprego. Iniciativas como esta, ao lado da educação,
constituem-se no melhor caminho (talvez no único) para pôr fim à
violência que nos atormenta e apavora. Tudo o mais não passa de
“perfumaria”...
(Editorial
da Folha do Taquaral de 25 de março de 2002)
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