Saturday, May 19, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - Vocação para a grandeza


Vocação para a grandeza

Pedro J. Bondaczuk

A inauguração, no dia 19 passado, do Parque Dom Pedro Shopping, o maior centro de compras, lazer e entretenimento da América Latina, recoloca Campinas no noticiário nacional, agora no seu lugar de direito: no de uma das mais progressistas e laboriosas comunidades urbanas nacionais.

Responsável pela geração de 10% do Produto Interno Bruto do País, sua importância não pode e nem deve jamais ser esquecida (e muito menos desprezada), como parece estar ocorrendo, por parte de alguns políticos despreparados e administradores incompetentes, tanto da esfera estadual, quanto, e principalmente, da federal.

A cidade faz por merecer – por sua localização estratégica, sua magnífica malha viária, suas requisitadas universidades e seus eficazes institutos de pesquisa (além do seu polo de alta tecnologia, da produtividade e criatividade do seu povo e do efeito multiplicador de ações que aqui são deflagradas) –, tratamento diferenciado, que a rigor não vem recebendo nos últimos anos, por meras picuinhas políticas. Todos perdem com isso. Perde, sobretudo, o País.

A aceitação, por parte do público, do moderno e funcional novo centro de compras e de lazer, atesta o acerto dos seus empreendedores, ao escolherem Campinas para investimento de tamanho porte. É uma aposta ousada, mas que tem tudo para ser bem sucedida. O magnífico fluxo de pessoas (cerca de 300 mil) no primeiro fim de semana de funcionamento do novo megashopping, supera a todas e mais otimistas expectativas. Pode-se afirmar, por consequência, sem receio de precipitação ou de excesso de otimismo, que o empreendimento já é um sucesso. E isto reflete, melhor do que qualquer coisa, o que Campinas de fato é.

O campineiro é um cidadão criativo e operoso (e sobretudo generoso, acolhendo pessoas de todas as partes e de todas as classes sociais) e que tem contribuído, ao longo dos quase 228 anos de existência desta dinâmica comunidade, de forma marcante e contínua, para o desenvolvimento político, econômico, social, artístico, esportivo e cultural do Brasil. Seria até redundante citar os feitos de seus ilustres filhos, nos mais diversos campos de atividade, tantos e tamanhos eles são.

Ultimamente, porém, essa importância tem sido ofuscada (quando não esquecida) por acontecimentos que todos gostariam de esquecer, mas que ainda não podem. Entre estes destaca-se, evidentemente, a trágica morte do seu jovem e idealista prefeito, Antônio da Costa Santos, assassinado em circunstâncias ainda não devidamente esclarecidas, há quase oito meses. Ganham relevo, também, os 613 casos de homicídio registrados em 2001, além dos sequestros, roubos de cargas e de veículos, assaltos, etc., etc., etc.

A criminalidade na cidade, por omissão daqueles aos quais compete garantir a segurança da população, atingiu níveis absolutamente intoleráveis. O campineiro, porém, que tem revelado enorme capacidade de mobilização na defesa dos seus direitos, continua trabalhando, produzindo, criando e participando do desafio de ajudar a desenvolver este País, com um mínimo de justiça social.

Por isso, por causa dessa sadia e construtiva forma de reação, aos poucos começa a deixar de ser refém de criminosos. De uns tempos a esta parte (não sem motivos, infelizmente), Campinas vem sendo tratada como uma espécie de “capital do crime organizado” no Estado de São Paulo.

As realizações do seu povo e a sua contribuição para economia do Estado e do País, atestadas por inúmeras estatísticas, cederam lugar, nos noticiários dos meios de comunicação, a informações diárias, quase que exclusivas, sobre quadrilhas de bandidos que praticam as mais diversas e variadas modalidades de delito. Os índices de violência, em especial de homicídios, explodiram na cidade, superando, em termos proporcionais, os de 25 das 27 capitais estaduais.

Campinas, evidentemente, não é, e nunca foi, isso. Não haverá de ser agora! Tem dificuldades, é inegável, como tantas outras cidades do seu porte (ou até menores), no que diz respeito à segurança. Mas seus moradores não estão dispostos a entregar, de “mão beijada”, o que conquistaram com tantos sacrifícios.

A instalação do maior centro de compras da América Latina em Campinas é, sem dúvida, mais um passo no sentido da recuperação do verdadeiro e privilegiado status da cidade. É inequívoca manifestação de confiança, por parte dos seus empreendedores, no inegável potencial e na enorme capacidade de geração de riquezas do campineiro. Outros empreendimentos, do mesmo porte, certamente virão. Há espaço e potencial para absorvê-los.

E os resultados positivos, com certeza, não tardarão a aparecer. Não somente no campo econômico, que é a vantagem mais óbvia desse tipo de investimento, mas (e sobretudo) no social, representado pela geração de milhares de novos empregos, o que vai contribuir para solucionar um dos problemas mais graves da atualidade (no País e em várias partes do mundo) nestes tempos de globalização: o de desemprego. Iniciativas como esta, ao lado da educação, constituem-se no melhor caminho (talvez no único) para pôr fim à violência que nos atormenta e apavora. Tudo o mais não passa de “perfumaria”...


(Editorial da Folha do Taquaral de 25 de março de 2002)



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