Thursday, May 10, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - Trânsito neurotizante


Trânsito neurotizante


Pedro J. Bondaczuk


O trânsito, nas grandes cidades do País e do mundo (e Campinas, obviamente, é uma delas), é importante fator de estresse para os motoristas e para a população, além de representar prejuízos incalculáveis, quando não flui, quer de ordem econômica, quer ambiental ou de outros tipos.

São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, entre outras megacidades, sofrem muito com o problema, que se arrasta há anos, sem que se vislumbrem soluções. Campinas também não escapa, e nem poderia, desse lado negativo do progresso. O volume de veículos que circulam nas ruas e avenidas da cidade, nitidamente precárias e inadequadas para o seu porte, é muito maior do que manda o bom senso.

Os engarrafamentos, notadamente em horários de “pico”, tão irritantes e prejudiciais, tendem a se multiplicar, com o passar do tempo. Afinal, Campinas (felizmente) não para de crescer. Além de atrair pessoas de todas as partes do País para cá, para compartilhar do seu desenvolvimento, conta com aumento constante e expressivo na frota de veículos, fruto até da sua prosperidade.

Daí ser explicável, e até louvável, a preocupação do atual secretário de Transportes, Marcos Bicalho, de alterar a circulação do transporte coletivo (ônibus e peruas) na área central. É sua função (ou uma delas). Trata-se de pelo menos uma tentativa de aliviar o pesado trânsito no quadrilátero conhecido como “Rótula”, implantado em 1996 por Jurandir Fernandes, e que hoje já não satisfaz às necessidades de Campinas.

Espera-se, porém, que mais uma vez não se trate de mera medida paliativa, como tantas que foram adotadas, em outras épocas e outras administrações, que não apenas não resolveram a questão, como ainda a agravaram. Há problemas muito antigos, que se não solucionados, vão inviabilizar qualquer providência futura, se não definitiva (em assuntos de trânsito nada é definitivo), pelo menos de longa duração. Dois deles, e os mais graves são: a regulamentação de carga e descarga de caminhões na área central e a proibição de estacionamentos nessa sensível região.

O progresso tem suas consequências. Tudo tem o seu preço. E os problemas se multiplicam na razão direta desse crescimento invejável de Campinas. Principalmente no trânsito. No caso da Rótula, por exemplo, em 1996, quando foi implantada, o fluxo de veículos, que já estava no limite, era de 1.340 por hora. Atualmente, se aproxima dos dois mil por hora. Está mais do que saturado, portanto.

Espera-se, pois, que as mudanças, que devem ser implantadas em seis etapas, não sejam de natureza “empírica”, na base de tentativa e erro, e nem somente paliativas, mas frutos de cuidadosos e competentes estudos. Afinal, o trânsito mexe com a vida de todos os que vivem, trabalham ou apenas transitam pela cidade, tenham ou não automóveis.

(Editorial publicado na página 2, Opinião, do jornal Roteiro, em 28 de setembro de 2002).


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