Tuesday, May 15, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - Limite do intolerável


Limite do intolerável

Pedro J. Bondaczuk

A violência urbana no Brasil, em especial nas grandes cidades, vem atingindo níveis intoleráveis, expondo a vida e o patrimônio dos cidadãos a permanente risco. Hoje quando uma pessoa sai de casa, para o trabalho ou para o lazer, não tem nenhuma segurança de que vai retornar ilesa ou até mesmo se vai voltar.

Há perigo, virtualmente, em cada esquina. E até mesmo no recesso do próprio lar existem riscos crescentes de invasão de ladrões ou de sequestradores. É uma sensação terrível de insegurança que afeta pessoas de todas as camadas sociais.

E não são somente os moradores das grandes metrópoles, como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte ou Salvador que se sentem assim, acossados e ameaçados, mas também os das cidades de médio porte, como Campinas, Ribeirão Preto, Piracicaba ou Sorocaba.

A questão, porém, na maioria das vezes, é tratada com passionalismo, quando não com demagogia, o que dificulta a solução do problema. Cada vez que um crime de grande repercussão acontece, surgem as invariáveis cobranças, por parte de determinados setores, pela instituição da pena de morte ou de outras medidas extremas, ditadas pela paixão e não pela razão, sem qualquer fundamentação sólida para provar que elas possam resolver a questão.

A segurança é um direito do cidadão e dever do Estado. Ensina a História que as primeiras cidades surgiram em função da proteção da vida e do patrimônio das pessoas. Em tempos anteriores à civilização, os grupos eram organizados por laços familiares. Quando o homem vivia da caça e da predação, era nômade e fixava-se periodicamente onde o número de animais fosse maior.

Os povos que desenvolveram a agricultura e que estavam, portanto, em um estágio evolutivo mais elevado, tinham que se fixar em um único lugar durante o preparo da terra, a semeadura e a colheita.

Com isso, tornavam-se presas fáceis dos bandoleiros, que preferiam pilhar em vez de produzir, já que não estavam aptos para isso. Da necessidade de garantia da segurança desses agricultores, surgiram os primeiros "acampamentos" murados, com guerreiros para garantir a sua proteção, o que foi o embrião das cidades e do conceito de Estado.

Hoje, os predadores não estão mais "extra muros". Estão ao nosso redor, convivem conosco e circulam nas mesmas ruas, à espreita da presa. Daí o combate à violência se transformar em prioridade máxima para a maioria dos campineiros, conforme revela recente pesquisa, em uma relação de 17 problemas urbanos.

Um estudo do jornal "Folha de S. Paulo", publicado no domingo passado, com base em 26.256 atestados de óbito na Capital do Estado, do período janeiro a maio deste ano, constatou que a maioria das mortes nessa cidade (entre as três maiores do mundo) foi por causas violentas: homicídios, atropelamentos e acidentes de trânsito.

Na faixa entre 15 e 24 anos, ou seja, na adolescência e princípio da maturidade, os assassinatos constituíram-se em 54,4% dos óbitos, verdadeira calamidade. Nem em uma guerra a mortalidade chega a ser tão elevada. Daí as pessoas estarem cobertas de razão quando exigem do Estado aquilo para o que ele foi criado, pelo que elas pagam e que portanto têm pleno direito de cobrar: segurança. Como garanti-la é problema dos administradores.

(Editorial número um, publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 27 de julho de 1996).


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