Limite do intolerável
Pedro J. Bondaczuk
A violência urbana no Brasil,
em especial nas grandes cidades, vem atingindo níveis intoleráveis,
expondo a vida e o patrimônio dos cidadãos a permanente risco. Hoje
quando uma pessoa sai de casa, para o trabalho ou para o lazer, não
tem nenhuma segurança de que vai retornar ilesa ou até mesmo se vai
voltar.
Há perigo, virtualmente, em
cada esquina. E até mesmo no recesso do próprio lar existem riscos
crescentes de invasão de ladrões ou de sequestradores. É uma
sensação terrível de insegurança que afeta pessoas de todas as
camadas sociais.
E não são somente os
moradores das grandes metrópoles, como São Paulo, Rio de Janeiro,
Belo Horizonte ou Salvador que se sentem assim, acossados e
ameaçados, mas também os das cidades de médio porte, como
Campinas, Ribeirão Preto, Piracicaba ou Sorocaba.
A questão, porém, na maioria
das vezes, é tratada com passionalismo, quando não com demagogia, o
que dificulta a solução do problema. Cada vez que um crime de
grande repercussão acontece, surgem as invariáveis cobranças, por
parte de determinados setores, pela instituição da pena de morte ou
de outras medidas extremas, ditadas pela paixão e não pela razão,
sem qualquer fundamentação sólida para provar que elas possam
resolver a questão.
A segurança é um direito do
cidadão e dever do Estado. Ensina a História que as primeiras
cidades surgiram em função da proteção da vida e do patrimônio
das pessoas. Em tempos anteriores à civilização, os grupos eram
organizados por laços familiares. Quando o homem vivia da caça e da
predação, era nômade e fixava-se periodicamente onde o número de
animais fosse maior.
Os povos que desenvolveram a
agricultura e que estavam, portanto, em um estágio evolutivo mais
elevado, tinham que se fixar em um único lugar durante o preparo da
terra, a semeadura e a colheita.
Com isso, tornavam-se presas
fáceis dos bandoleiros, que preferiam pilhar em vez de produzir, já
que não estavam aptos para isso. Da necessidade de garantia da
segurança desses agricultores, surgiram os primeiros "acampamentos"
murados, com guerreiros para garantir a sua proteção, o que foi o
embrião das cidades e do conceito de Estado.
Hoje, os predadores não estão
mais "extra muros". Estão ao nosso redor, convivem conosco
e circulam nas mesmas ruas, à espreita da presa. Daí o combate à
violência se transformar em prioridade máxima para a maioria dos
campineiros, conforme revela recente pesquisa, em uma relação de 17
problemas urbanos.
Um estudo do jornal "Folha
de S. Paulo", publicado no domingo passado, com base em 26.256
atestados de óbito na Capital do Estado, do período janeiro a maio
deste ano, constatou que a maioria das mortes nessa cidade (entre as
três maiores do mundo) foi por causas violentas: homicídios,
atropelamentos e acidentes de trânsito.
Na faixa entre 15 e 24 anos,
ou seja, na adolescência e princípio da maturidade, os assassinatos
constituíram-se em 54,4% dos óbitos, verdadeira calamidade. Nem em
uma guerra a mortalidade chega a ser tão elevada. Daí as pessoas
estarem cobertas de razão quando exigem do Estado aquilo para o que
ele foi criado, pelo que elas pagam e que portanto têm pleno direito
de cobrar: segurança. Como garanti-la é problema dos
administradores.
(Editorial número um,
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 27 de julho
de 1996).
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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