Natal da crise
Pedro J. Bondaczuk
O
dia de hoje, na maioria dos lares brasileiros, é mais de incertezas
quanto ao amanhã, que se desenha com perspectivas sombrias – o
próprio presidente Fernando Collor previu um 1991 “cinzento” –
do que de comemorações.
Os
que ainda dispõem de recursos, podem festejar, posto que agora com
mais moderação, em virtude da crise. Estatísticas acerca de vendas
demonstram que este Natal está sendo um dos mais difíceis dos
últimos anos para os brasileiros. Principalmente para aqueles que,
mesmo em períodos de “vacas gordas”, têm dificuldades para
tornar esta data diferente das demais do seu penoso cotidiano.
Todavia,
por se tratar da celebração de um aniversário, o do nascimento
daquele que veio ao mundo pregar uma mensagem de paz e de
solidariedade entre os homens, é lícito que aqueles que podem,
festejem a ocasião.
Seria
desejável, igualmente, que esses que possuem condições para
festejar, praticassem uma boa ação e contribuíssem para que os
desvalidos que os cercam tivessem ao menos um dia, um único do ano,
de sonho e de fantasia.
Que
houvesse, ao menos, o que comer em suas mesas, já que em muitas,
alimentos sofisticados e, às vezes, até impróprios para nossas
condições de clima, não apenas abundam, mas acabam sendo
esbanjados. Quem experimentar agir dessa forma verá a enorme
satisfação íntima que irá sentir.
Essa
sensação de utilidade, de ter feito alguém sorrir, de haver
conseguido, ao menos, uma imitação de felicidade, é indescritível.
Os que já a experimentaram sabem como ela é boa. Para aqueles aos
quais a vida não tem sido pródiga em satisfações, ultimamente –
a maioria dos brasileiros está nessa condição desde o nascimento –
o conselho ideal está contido nos versos do poeta Gonçalves Dias,
na “Canção do Tamoio”:
“Não
chores meu filho;
não
chores que a vida
é
luta renhida,
viver
é lutar.
A
vida é combate
que
os fracos abate,
que
os fortes, os bravos
só
pode exaltar”.
O
jeito é não se deixar abater pelas dificuldades, por piores que
sejam as circunstâncias, pois o mesmo acaso que atua contra as
pessoas, lhes trazendo surpresas sumamente dolorosas, age, às vezes,
a seu favor, mudando toda a sua biografia.
Ninguém
tem o direito de abrir mão da esperança, embora ela, isoladamente,
sem uma ação concreta que a acompanhe, jamais mudará para melhor a
situação de ninguém. Que este ano crítico seja deixado para trás
e ninguém sofra por antecipação com as dificuldades potenciais
vindouras.
Sobretudo,
que todos tenham um feliz Natal. O depois será o capítulo da
biografia de cada um, que será escrito de acordo com o seu ânimo de
ser forte, e não se deixar abater, ou fraco, e ser esmagado pela
vida.
(Editorial
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 25 de
dezembro de 1990).
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