Violência epidêmica
Pedro J. Bondaczuk
A
violência em Campinas, que em 1997 atingiu índices alarmantes,
apresenta nestes primeiros dias de 1998 --- período de férias,
quando muita gente está fora da cidade --- sintomas de que deverão
repetir, senão ampliar (se algo de eficaz não for feito) os números
do ano passado. Homicídios, assaltos à mão armada e furtos geraram
um clima de insegurança generalizado, com pessoas temendo até sair
às ruas por temor de perder seu patrimônio, quando não a vida.
As
vias públicas tornaram-se tão perigosas, a partir de determinada
hora da noite, que as próprias autoridades municipais decidiram
desligar os "espiões eletrônicos", para não favorecer a
abordagem de marginais.
O
trânsito igualmente foi violento. Matou, em média, onze pessoas por
mês nos entre 80 e 90 acidentes diários. Neste aspecto, existe pelo
menos a esperança de que a entrada em vigor, no próximo dia 23, do
novo código, melhore essa situação, tirando das ruas os maus
motoristas e aplicando punições severas aos infratores.
Muito
se escreveu, se falou e se comentou sobre as causas da violência,
fenômeno típico das grandes cidades, que em Campinas já se
transformou em "epidemia". As mais mencionadas foram a
exclusão social, a desagregação da família e em especial o
incremento do consumo, e consequente tráfico, de drogas. O uso de
crack, por exemplo, dissemina-se entre meninos e meninas com idades
cada vez menores. Não é raro encontrar crianças de 8 anos ou até
menos consumindo esse veneno, que produz danos, na maioria das vezes
irreversíveis, ao cérebro.
Algumas
metrópoles, contudo, lograram sucesso no combate à criminalidade,
reduzindo os índices a níveis "toleráveis". Foi o caso
de Nova York, por exemplo, onde a polícia moveu guerra sem trégua
aos traficantes. O prefeito nova-iorquino, Rudolph Giuliani, eleito
com a proposta de reduzir a violência na cidade, obteve tanto êxito,
que logrou reeleição.
Para
tanto, adotou medidas não apenas de caráter policial, mas sobretudo
social. No Brasil, esta é a área que menos atenção se dá. Por
isso, de ano para ano, aprofunda-se o verdadeiro apartheid dos que
são excluídos da cidadania, sem escola, sem qualificação
profissional, sem moradia que mereça esse nome, sem emprego e sem
perspectiva de futuro.
Estatísticas
divulgadas pela Polícia Civil nesta semana revelam a ocorrência de
8.950 assaltos à mão armada em 1997 em Campinas, número que pode
ser muito maior, em virtude da subnotificação. Muitas vítimas,
descrentes nas autoridades ou temerosas de represálias, preferem
arcar com o prejuízo em silêncio. Ainda assim, esse tipo de delito
teve um incremento de 44,6% sobre os 6.190 ocorridos em 1996. A média
mensal desse crime foi de 745, ou 24,8 por dia ou, pasmem, um por
hora!
Os
furtos --- praticados sem violência física --- também aumentaram,
em 24%, chegando a 9.456, contra 7.625 no ano anterior. Os homicídios
chegaram a 399 (em 1996 haviam sido 310), em uma média de mais de um
por dia. Quase 9 mil campineiros tiveram veículos furtados em 1997 e
um número muito pequeno de vítimas teve a felicidade de
recuperá-los.
A
violência chegou a tal ponto, que não mais admite medidas
simplistas ou meras experiências, tendo a população por cobaia.
Exige providências rápidas, inteligentes, eficazes, como as
aplicadas, por exemplo, em Nova York, em Los Angeles ou em Chicago. O
campineiro paga (e caro) pelo direito à segurança.
(Editorial
número um publicado na página 2 do Correio Popular em 18 de janeiro
de 1998).
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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