Friday, May 18, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - Voto de confiança


Voto de confiança



Pedro J. Bondaczuk


O prefeito eleito de Campinas, Hélio de Oliveira Santos, do PDT, começou a tomar pé, tão logo obteve a consagradora vitória nas urnas, no Segundo Turno, da real situação do Município, através da sua equipe de transição, composta, certamente, por técnicos da maior competência, seriedade e envergadura, com vistas à sua posse em 1º de janeiro de 2005. Simultaneamente, deve negociar com a atual Câmara Municipal – pelo menos é o que se espera dela – a aprovação de um orçamento que não seja muito restritivo.

É certo que os primeiros dias da nova administração não serão um "mar de rosas". E nem poderiam ser, dadas as circunstâncias e o atual momento que a cidade vive. Por maior sucesso que o novo administrador venha a ter em suas negociações com os vereadores, é possível afirmar, com alta dose de segurança, que o seu primeiro ano de mandato vai ser repleto de obstáculos, de tensões, de descontentamentos e de cobranças.

Principalmente se for levada em conta a enorme dívida do Município, acumulada nas últimas quatro ou cinco administrações e que, bem ou mal, vem sendo "rolada", o que limita demais a capacidade de investimento do Poder Executivo. É verdade que Hélio de Oliveira Santos contou com o apoio explícito do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o que faz prever que tenha sucesso em obter as verbas necessárias para Campinas. Mas pode ter problemas junto ao governo do Estado, embora não se acredite que tenha pelo menos maiores do que as que sua antecessora, Izalene Tiene, vem tendo.

Compete, porém, ao administrador consciente e responsável, definir prioridades e fazer o dinheiro disponível render o máximo possível, seja qual for o seu montante. É necessária, por isso, grande dose de paciência e de compreensão, por parte da população, que não pode, e nem deve, sair por aí exigindo grandes coisas do novo prefeito, tão logo ele assuma o cargo, como se fosse possível, num toque de mágica, resolver todas as questões do Município de uma só vez. Milagres até que existem, mas são extremamente raros e não fazem parte de nenhuma cartilha política.

Espera-se, sim, do novo prefeito, trabalho, trabalho e trabalho. E uma grande, uma imensa, uma inesgotável capacidade de diálogo com os mais variados setores da sociedade, notadamente com a nova Câmara de Vereadores, onde não conta com maioria.. Além disso, é desejável que faça uma administração absolutamente límpida e transparente e, sobretudo, de olhos voltados tão só e exclusivamente para os legítimos interesses da cidade, sem privilegiar (ou prejudicar) "a", "b" ou "c", por quaisquer motivos. Que saiba separar, no exato limite da prudência, partido de governo. Ele é o chefe do Poder Executivo e não o PDT e nem o PFL e PMDB, que se aliaram para o conduzir ao Palácio dos Jequitibás. Compete-lhe, portanto, "sempre" a última palavra em toda e qualquer decisão.

Além disso, Doutor Hélio precisa ter sempre em mente que a campanha eleitoral já acabou. E que não vai (e não deve) governar somente para os que lhe garantiram a consagradora vitória nas urnas. Tem que buscar, permanente e incansavelmente, a conciliação, dentro dos limites do possível, dos interesses de "todos" os campineiros, mesmo daqueles que optaram nas urnas pelo nome do seu adversário direto no Segundo Turno, ou dos mais de 20% dos eleitores que se omitiram e sequer compareceram para votar.

À oposição, que é maioria na Câmara de Vereadores, por seu turno, cabe papel dos mais relevantes e fundamentais numa democracia que se preze. Compete-lhe, sim, fiscalizar "com lupa" a nova administração. Mas sem ranços de sectarismos e sem espírito destrutivo e de vingança. É seu dever detectar todos os problemas possíveis, de qualquer natureza, é certo. Porém é, também, sua obrigação apontar as possíveis soluções.

Deve opor-se a tudo o que, de fato, julgar errado. Mas agindo sempre com honestidade de propósitos, com sinceridade, com ética e com um sentido absolutamente construtivo. Caso contrário, estará se opondo não ao novo prefeito e muito menos ao seu programa de governo, mas aos legítimos interesses da cidade, o que é inconcebível para quem tem o dever e a responsabilidade de representar determinado segmento da população.

(Editorial publicado na página 2, Opinião, do jornal Interbairros, em 6 de novembro em 2004)

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