Pessimismo alienante
Pedro
J. Bondaczuk
A
vida das grandes metrópoles, nesta época especial da História,
quando estamos no limiar do início do terceiro milênio da Era
Cristã, é caracterizada pela angústia. Torna-se cada vez mais raro
surpreender-se alguém com um sorriso de genuína satisfação nos
lábios.
O
cotidiano é composto por correrias, preocupações com contas, luta
por uma posição melhor, verdadeira batalha, por esse lema
extremamente vago e de sentido ambíguo, que se denomina “vencer na
vida”. Para cada pessoa, isto tem um significado diferente. Os
meios de comunicação, por outro lado, a pretexto de pintarem o
quadro do que se convencionou classificar de realidade, passam, na
verdade, mensagens negativas.
Entendem,
certos profissionais, que a comunidade está ávida somente por
notícias ruins; por crimes, escândalos, aberrações sexuais e
outras tantas distorções de comportamento do animal homem. Só o
negativo é manchete. Por quê? Dificilmente alguém conseguirá
explicar isto de maneira plausível.
Será
que a vida é caracterizada apenas por atos nefastos, por desastres
naturais ou provocados, por lágrimas, sofrimentos, dor? Não deveria
haver um equilíbrio na informação de desgraças, com atos
abnegados e esforços desprendidos? E estes últimos existem, caso
contrário, se o mundo, a vida, a realidade que nos cerca fossem
constituídos apenas de infelicidades e aberrações, em pouco tempo,
nada mais existiria. Ninguém suportaria tanta tragédia.
A
pretexto de evitarem a alienação, determinados meios de
comunicação, na verdade, alienam seus consumidores do lado positivo
da existência. Suprimem informações que deflagrem a alegria de
viver nas pessoas. Daí estar surgindo uma nova doença – que
talvez, até, existisse antes, mas que somente agora surge à tona e
vem afetando um número crescente de indivíduos – que é a
síndrome do pânico.
Especialistas
estimam que tal problema já atinja a 2% da população. Há quem
eleve essa cifra para 5%. Trata-se, pois, de um universo
significativo de afetados. A difusão da filosofia do pessimismo, do
catastrofismo, do negativismo, certamente tem muito a ver com este
mal, se não tudo.
A
realidade é muito complexa para ser retratada. Cada um tem uma, que
é própria, de acordo com o meio em que vive, a educação que teve,
as oportunidades que lhe foram proporcionadas. Passar a toda a
população a ideia implícita de que tudo está perdido, de que o
mal tende sempre a prevalecer, de que a humanidade caminha,
inexoravelmente, para a catástrofe, não passa de um conto da
carochinha.
É
o outro extremo da atitude alienada e alienante de se divulgar que
tudo é róseo, maravilhoso, espetacular. O correto, a mais simples
das lógicas diz, é o tempero, o equilíbrio, o meio-termo.
(Editorial
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 23 de
dezembro de 1990).
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