Votar é muito
importante mesmo que não se saiba como
Pedro
J. Bondaczuk
O presidente argentino,
Raul Alfonsin, enfrenta, amanhã, nas urnas, teste decisivo, que pode marcar o
perfil de como vai ser seu final de mandato. Se ele terá ou não condições de cumprir
seu arrojado programa reformista, visando modernizar a economia e a sociedade
do seu país, ou se ficará com as mãos amarradas por causa de um Parlamento
hostil, será decidido nestas eleições. Mais de 19 milhões de eleitores irão
votar, neste domingo, para renovar a metade da Câmara dos Deputados, onde o
partido do governante, a União Cívica Radical, dispõe de fragílima maioria de
somente três cadeiras. E o peronismo jogou todas as suas fichas nessa campanha
eleitoral, cujo brilho foi empanado na última hora pela violência sectária que
tomou conta, anteontem, dos militantes das duas principais facções políticas.
Os justicialistas
usaram uma tática velha para recuperar o prestígio que perderam. Promoveram
greves e mais greves em todo o país, aproveitando-se das dificuldades
enfrentadas pelas autoridades econômicas com o Plano Austral, que no seu começo
foi decantado como a oitava maravilha do mundo atual, mas que agora demonstra
ser (a exemplo do seu irmão brasileiro, o Cruzado) um barco cheio de rombos,
fazendo água por todos os lados (embora tenha sobrevivido por muito mais tempo
do que o seu similar). Parte considerável dos comícios em praças públicas foi
ocupada com o tema da dívida externa.
Mágicos maravilhosos,
desses acostumados a tirar coelhos da cartola (quer no final das contas se
revelam não passar de ratos) fizeram as mesmas promessas mirabolantes e
irrealísticas de sempre. Pregaram rupturas espetaculares com o sistema
financeiro internacional, como se isso fosse simples, ou sequer factível, num
mundo a cada dia mais caracterizado pela interdependência. Outros prometeram
acabar com o desemprego, com a inflação e com a recessão, num abrir e fechar de
olhos, como se soluções desse porte estivessem dando sopa por aí. Enfim, foram
usadas as velhas e manjadas artimanhas políticas de sempre para ludibriar os
incautos, como em todos os lugares em que a atividade pública é considerada
mera sinecura, neste atrasado e infeliz Terceiro Mundo.
Mas os eleitores,
certamente, saberão separar o joio do trigo. E mesmo que não saibam, e mais uma
vez venham a se equivocar em sua escolha, a simples realização de uma eleição,
num continente não muito acostumado à democracia, é algo que deve ser
festejado. De tanto errar, um dia as pessoas vão aprender a votar, se puderem
praticar. Tudo é uma questão de tempo e de exercício.
(Artigo publicado na Editoria
Internacional, do Correio Popular, em 5 de julho de 1987)
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