Guerra de desgaste
Pedro J. Bondaczuk
A guerra de desgaste que
Irã e Iraque travam, no Golfo Pérsico, desde 1980, lembra o movimento das
marés. Tem avanços e recuos. Períodos de atividade febril, em que parece que o
conflito será finalmente decidido, e épocas de uma quase catatonia, que dão a
impressão de que ambos desistiram da luta.
Atualmente,
a região está vivendo um de seus ciclos eruptivos mais violentos, com as
respectivas populações civis (como sempre acontece nesses casos), levando a
parte pior da controvérsia existente entre os dois governos.
Muita
gente tem especulado sobre quem será o ganhador dessa guerra. Se dependesse da
União Soviética, certamente seria o Iraque. Mas para os norte-americanos, o
melhor que poderia acontecer seria um virtual empate, ao cabo da exaustão de
ambos os contendores.
Se
o Irã vencesse, poderia sentir-se forte o suficiente para ameaçar as monarquias
árabes do Golfo (que ostensivamente financiam Bagdá), cortando abruptamente o
fornecimento de petróleo ao Ocidente e elevando os preços dessa indispensável
matéria-prima à estratosfera.
Uma
vitória do Iraque, todavia, daria aos russos, numa “salva de prata”, a
oportunidade que eles tanto sonham conseguir há séculos, ou seja, uma saída
para os mares quentes do Oceano Índico, através de território iraniano. E nem
precisariam se arriscar a uma invasão, nos moldes da feita no Afeganistão, para
obter isso.
As
bases que eles tanto almejam conquistar poderiam ser obtidas, sem sustos e nem
riscos, através dos iraquianos, fiéis aliados de Moscou. Porque, é lógico, se
Saddam Hussein realizasse seu sonho de entrar triunfalmente em Teerã, colocaria
no poder naquele país um regime que lhe fosse dócil, ou até mesmo servil. Daí
para a penetração soviética no Irã, através dos indefectíveis “assessores”,
seria um simples e fácil passo.
Queiram
ou não, tudo leva a crer que a vontade (ou pelo menos o secreto desejo)
norte-americano deverá prevalecer. Que os dois países do Golfo, com enormes
reservas de petróleo, vão combater até a mútua exaustão, para que, findo o
conflito, com um confortável empate (do ponto de vista do orgulho nacional),
precisem lançar mão correndo da sua principal riqueza para se recuperarem da
virtual falência, abarrotando, por conseqüência, o mercado. E trazendo, é claro,
os preços do produto quase ao “rés do chão”.
E
no dia em que isso acontecer (e pode ser mais perto do que muitos pensam), os
países industrializados do Ocidente estarão vingados das aflições que a Opep
causou ao sistema a partir de 1974. Alguém ainda tem dúvidas sobre qual será o
resultado desse conflito?
(Artigo
publicado na página 10, Internacional, do Correio Popular, em 15 de março de
1985).
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