Tuesday, February 02, 2016

Guerra de desgaste


Pedro J. Bondaczuk


A guerra de desgaste que Irã e Iraque travam, no Golfo Pérsico, desde 1980, lembra o movimento das marés. Tem avanços e recuos. Períodos de atividade febril, em que parece que o conflito será finalmente decidido, e épocas de uma quase catatonia, que dão a impressão de que ambos desistiram da luta.

Atualmente, a região está vivendo um de seus ciclos eruptivos mais violentos, com as respectivas populações civis (como sempre acontece nesses casos), levando a parte pior da controvérsia existente entre os dois governos.

Muita gente tem especulado sobre quem será o ganhador dessa guerra. Se dependesse da União Soviética, certamente seria o Iraque. Mas para os norte-americanos, o melhor que poderia acontecer seria um virtual empate, ao cabo da exaustão de ambos os contendores.

Se o Irã vencesse, poderia sentir-se forte o suficiente para ameaçar as monarquias árabes do Golfo (que ostensivamente financiam Bagdá), cortando abruptamente o fornecimento de petróleo ao Ocidente e elevando os preços dessa indispensável matéria-prima à estratosfera.

Uma vitória do Iraque, todavia, daria aos russos, numa “salva de prata”, a oportunidade que eles tanto sonham conseguir há séculos, ou seja, uma saída para os mares quentes do Oceano Índico, através de território iraniano. E nem precisariam se arriscar a uma invasão, nos moldes da feita no Afeganistão, para obter isso.

As bases que eles tanto almejam conquistar poderiam ser obtidas, sem sustos e nem riscos, através dos iraquianos, fiéis aliados de Moscou. Porque, é lógico, se Saddam Hussein realizasse seu sonho de entrar triunfalmente em Teerã, colocaria no poder naquele país um regime que lhe fosse dócil, ou até mesmo servil. Daí para a penetração soviética no Irã, através dos indefectíveis “assessores”, seria um simples e fácil passo.

Queiram ou não, tudo leva a crer que a vontade (ou pelo menos o secreto desejo) norte-americano deverá prevalecer. Que os dois países do Golfo, com enormes reservas de petróleo, vão combater até a mútua exaustão, para que, findo o conflito, com um confortável empate (do ponto de vista do orgulho nacional), precisem lançar mão correndo da sua principal riqueza para se recuperarem da virtual falência, abarrotando, por conseqüência, o mercado. E trazendo, é claro, os preços do produto quase ao “rés do chão”.

E no dia em que isso acontecer (e pode ser mais perto do que muitos pensam), os países industrializados do Ocidente estarão vingados das aflições que a Opep causou ao sistema a partir de 1974. Alguém ainda tem dúvidas sobre qual será o resultado desse conflito?


(Artigo publicado na página 10, Internacional, do Correio Popular, em 15 de março de 1985).

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