O preconceito de gênero
Pedro J. Bondaczuk
O “pai” da Teoria da Relatividade, Albert Einstein, reconhecido como um
dos gênios do século XX (e de todos os tempos), escreveu, em seu livro “Como
vejo o mundo”: “É mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito”. E não
é?! Esse comportamento estúpido acompanha o homem desde as cavernas primitivas,
através de todos os tempos, e já causou, causa e desconfio que ainda causará
males sem fim nos relacionamentos tanto interpessoais, quanto entre os povos. E
preconceitos existem às centenas. Os mais evidentes são os de raça, de religião
e... de gênero. Este último é tão estúpido e irracional quanto os outros.
Pergunto-me, abismado, a todo o momento: Qual a razão minimamente objetiva para
se considerar alguém superior a outro alguém apenas por que nasceu homem (ou
vice-versa)? Obviamente, nenhuma. Mas...
Li, dia desses, excelente artigo a esse propósito, no site “Overmundo”,
de autoria da jornalista amazônica (se não me engano, de Rondônia) Aureni
Ribeiro, que cabe a caráter nestas minhas reflexões sobre a razão de haver tão
escassos registros da participação feminina na História da Filosofia. As
mulheres deram decisiva e importante contribuição para o surgimento, fixação,
desenvolvimento e evolução dessa que é a “mãe de todas as ciências”. Por que,
então, conhecemos tão pouco do seu pensamento? Diz-se, eufemisticamente, que
isso ocorreu em decorrência de “questões culturais”. Leia-se, todavia, que se
deveu a explícito “preconceito de gênero”.
Aureni Ribeiro escreve em seu citado artigo: “A imagem de fragilidade e
submissão sempre esteve ligada à mulher na história, principalmente na
antiguidade, idade média e moderna. Muitos pensadores, teólogos e filósofos
contribuíram para aumentar sua posição de inferioridade, o que não impediu que
muitas mulheres se rebelassem contra tal atitude em todos os tempos”. Não
impediu mesmo. E não foram poucas essas “rebeldes”, embora a história do
pensamento registre o nome de raríssimas delas. Quem perdeu com isso foi a
humanidade. O que o sexo de uma pessoa tem a ver com sua inteligência,
criatividade e competência? Nada! Absolutamente nada! Porém...
Aureni prossegue: “Muitos são eles (os filósofos) que contribuíram para o
preconceito contra o sexo feminino ao longo dos tempos. Veja alguns deles. Na
antiguidade Platão dizia ‘que os homens covardes que foram injustos durante sua
vida, serão provavelmente transformados em mulheres quando reencarnarem’.
Aristóteles afirmava que ‘a fêmea é fêmea em virtude de certas faltas de
qualidade’”. A jornalista cita, apenas, dois filósofos gregos, mas ambos dos
mais importantes e respeitados mundo e tempo afora. Muitos outros, porém,
pensaram e agiram da mesma forma ou de maneira até pior.
O preconceito de gênero é tão antigo, ou até mais, quanto todos os
outros, atravessando séculos e milênios e chegando até nós. Hoje ele não mais
existe? Ora, ora, ora. Transcrevo mais alguns trechos do artigo de Aureni,
pelas preciosas informações que contêm. Como este: “Na idade média as mulheres
foram classificadas de três formas: como prostitutas, bruxas ou santas,
servindo como modelo a virgem Maria. As prostitutas eram as que se entregavam
aos vícios da carne e utilizavam seus corpos para saciar os desejos ou para
ganho. As mulheres bruxas eram as que de alguma forma iam contra os dogmas da
igreja. Muitas mulheres que tinham de alguma forma acesso ás artes, ás ciências
ou á literatura padeceram nas mãos da santa inquisição”.
Destaco mais este trecho: “Buscar alguma forma de conhecimento custou à
vida de milhares de mulheres. As mulheres da idade média tinham que ser moldes
de virtudes da Virgem Maria: dóceis, puras e devotadas aos seus maridos.
Religiosos como São Tomas de Aquino diziam que ‘ela era um ser acidental e
falho e que seu destino é o de viver sob a tutela de um homem. Por natureza é
inferior em força e dignidade’. Tertuliano dizia que ‘era a porta do Demônio’”.
E vai por aí afora. Hoje há muita gente que ainda pensa assim, embora não tenha
coragem de expressar esse pensamento. Mas agem nesse sentido.
Muitos, por exemplo, já me questionaram pelo fato de eu tratar desse
assunto: o da escassez (para não dizer completa ausência) de meras referências
a filósofas, principalmente do passado, na já longa história da Filosofia.
Claro que não são questionamentos “explícitos”. São observações indiretas,
“cheias de dedos”, praticamente subliminares, dando-me a entender que estou
entrando numa “roubada”. Estou? Essas reações só me dão a certeza de que, ao
contrário do que me insinuam, estou no caminho certo, no papel que me auto
atribuí: o de “provocador”, que estimula debate franco, honesto, educado e
disposto a encarar qualquer tema em busca da verdade sem considerar nada como
“tabu”. Fico pensando com meus botões se estes que acalentam, ou estimulam, ou
mantêm o preconceito de gênero não têm mães, irmãs, avós, tias, filhas, esposas
ou amigas que admirem, amem e respeitem. Se tiverem, as estão obviamente
desrespeitando, mesmo que apenas subconscientemente. Ou não?!!!
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