Congresso Curupira

Pedro J. Bondaczuk

O atual Congresso não tem jeito mesmo. Parece aquele personagem do folclore brasileiro, o curupira, que tinha os pés virados para trás. Quando seguia em frente, os rastros que deixava indicavam um sentido exatamente oposto. Ressalte-se que nossas críticas e reparos não se destinam à instituição, mas aos integrantes da atual legislatura.

Infelizmente, em virtude da inércia, da incompetência e da corrupção dos maus, os bons deputados e senadores, aqueles operantes, pontuais e eficientes, acabam injustiçados e tão malvistos pela população quanto os gazeteiros, os que participam de negociatas e os que protegem os infratores e, portanto, são seus cúmplices.

Conseguem, como o curupira, caminhar ao contrário. Inocentam os sabidamente culpados, aprovam projetos medíocres e desnecessários e sequer apreciam as matérias sabidamente fundamentais. Não realizaram a aguardada e tão necessária revisão constitucional, a despeito de existir um espaço diário e obrigatório no rádio e na televisão para informar o "dia a dia" dessa ficção. Ou seja, de algo que não está sendo feito.

Já o Congresso, enquanto instituição, deve ser sempre prestigiado e defendido pelos verdadeiros democratas. Mas precisa ser escolhido com consciência, sabedoria e cautela pelo eleitorado. O escritor Gore Vidal, em seu livro "Lincoln", narra um episódio que ilustra como o ex-presidente norte-americano venerava o Parlamento.

"Quando o senhor Lincoln foi eleito para o Congresso, o oponente dele era um pregador metodista que não parava de acusá-lo de ser infiel. Uma noite, durante a campanha, o pregador estava fazendo um de seus sermões tonitruantes numa igreja, quando o senhor Lincoln entrou e sentou no fundo. O pregador quis apanhá-lo numa armadilha e gritou: 'Aqueles dentre vocês que esperam ir para o céu, levantem-se'!. O senhor Lincoln não se mexeu. O pregador então apontou para ele, de modo que todos soubessem que ele estava ali. 'Aqueles dentre vós que esperam ir para o inferno levantem-se'. O senhor Lincoln não se mexeu. O pregador então disse à congregação: 'Todos os que pensam que irão para o inferno se levantaram, mas o senhor Lincoln não se moveu. Para onde, afinal, imagina que irá, senhor Lincoln?' Ouvindo isso, o senhor Lincoln pôs-se de pé e disse: 'Bem, eu espero ir para o Congresso', e saiu da igreja". Foi eleito.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 19 de maio de 1994).

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