Corrida contra o tempo
Pedro J. Bondaczuk
O presidente em exercício,
Itamar Franco, vem sendo acossado pelos setores mais diversos da complexa
sociedade brasileira, por críticas e cobranças e até cercado de descrédito em
alguns círculos, embora sequer tenha completado o segundo mês na Presidência.
Uns
acusam-no de ser lerdo na tomada de decisões. Outros, ao contrário, falam que
ele é precipitado, principalmente nas declarações que faz. Há, também, os que
deblateram acerca de seu suposto “populismo”, como se neste País fosse crime
hediondo alguém se preocupar com a calamitosa situação social, com os cerca de
115 milhões de seres humanos vegetando na mais absoluta miséria. Na verdade,
ele corre contra o tempo.
Todavia,
sem querer fazer o papel de advogado do presidente, até que ele fez muito
nestes 55 dias na Presidência se forem levados em conta o estado e as
circunstâncias em que assumiu o governo. Ademais, Itamar Franco já declarou a
reiterou que quem tiver alguma contribuição a dar ao País, aquele que possuir
soluções para problemas tão graves quanto os enfrentados pelos brasileiros deve
se juntar a ele.
Trata-se
do primeiro chefe do Poder Executivo a aceitar a codivisão das
responsabilidades inerentes à sua função com o Legislativo. Age mais como um primeiro-ministro,
que tenha que prestar contas ao Parlamento, do que como presidente que é, ao
contrário pelo menos dos que o País se acostumou a ter nestes 103 anos de
República.
O
próprio ministério tem características tipicamente parlamentaristas. Praticamente
não há tecnocratas nesse gabinete, integrado, em sua esmagadora maioria, por
parlamentares, das mais diversas correntes ideológicas, desde o PPS (ex-Partido
Comunista de Roberto Freire), ao conservador PFL.
A
pergunta que se impõe é: Itamar estaria realmente sendo lento na tomada de
decisões? Nem tanto. Por exemplo, nestes quase dois meses de governo, elaborou
e encaminhou ao Congresso um projeto de reforma fiscal que, se não é o ideal,
parece, pelo menos, bem melhor do que aquele feito durante o governo do
presidente afastado, Fernando Collor.
Além
disso, estão em fase adiantada programas atinentes a reajustes das tarifas
públicas, de nova política salarial, de defesa dos grupos mais carentes da
sociedade contra os efeitos da recessão (no caso, a cesta básica subsidiada
para a população mais pobre), além dos planos econômicos de curto e de médio
prazo. Se mais ainda não foi feito, é porque a extensão da atual crise na
economia é muito mais profunda do que parece à primeira vista.
Não
se pode esquecer, igualmente, o fato de Itamar Franco ser presidente apenas
interino. Embora em sã consciência ninguém acredite que Fernando Collor possa
escapar do afastamento definitivo, tal o volume e a contundência das provas
apresentadas contra ele, essa possibilidade, apesar de remotíssima, existe.
Este
País costuma Ter uma trajetória absolutamente imprevisível. Em geral, os
presidentes que chegaram ao poder cercados de grande credibilidade fracassaram.
Tomara que Itamar faça exatamente o contrário. Que seja uma agradável surpresa
e faça os dois anos que lhe restam de mandato se transformarem na grande virada
com que todos sonhamos.
(Artigo
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 27 de novembro de 1992).
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