Wednesday, February 03, 2016

Corrida contra o tempo


Pedro J. Bondaczuk


O presidente em exercício, Itamar Franco, vem sendo acossado pelos setores mais diversos da complexa sociedade brasileira, por críticas e cobranças e até cercado de descrédito em alguns círculos, embora sequer tenha completado o segundo mês na Presidência.

Uns acusam-no de ser lerdo na tomada de decisões. Outros, ao contrário, falam que ele é precipitado, principalmente nas declarações que faz. Há, também, os que deblateram acerca de seu suposto “populismo”, como se neste País fosse crime hediondo alguém se preocupar com a calamitosa situação social, com os cerca de 115 milhões de seres humanos vegetando na mais absoluta miséria. Na verdade, ele corre contra o tempo.

Todavia, sem querer fazer o papel de advogado do presidente, até que ele fez muito nestes 55 dias na Presidência se forem levados em conta o estado e as circunstâncias em que assumiu o governo. Ademais, Itamar Franco já declarou a reiterou que quem tiver alguma contribuição a dar ao País, aquele que possuir soluções para problemas tão graves quanto os enfrentados pelos brasileiros deve se juntar a ele.

Trata-se do primeiro chefe do Poder Executivo a aceitar a codivisão das responsabilidades inerentes à sua função com o Legislativo. Age mais como um primeiro-ministro, que tenha que prestar contas ao Parlamento, do que como presidente que é, ao contrário pelo menos dos que o País se acostumou a ter nestes 103 anos de República.

O próprio ministério tem características tipicamente parlamentaristas. Praticamente não há tecnocratas nesse gabinete, integrado, em sua esmagadora maioria, por parlamentares, das mais diversas correntes ideológicas, desde o PPS (ex-Partido Comunista de Roberto Freire), ao conservador PFL.

A pergunta que se impõe é: Itamar estaria realmente sendo lento na tomada de decisões? Nem tanto. Por exemplo, nestes quase dois meses de governo, elaborou e encaminhou ao Congresso um projeto de reforma fiscal que, se não é o ideal, parece, pelo menos, bem melhor do que aquele feito durante o governo do presidente afastado, Fernando Collor.

Além disso, estão em fase adiantada programas atinentes a reajustes das tarifas públicas, de nova política salarial, de defesa dos grupos mais carentes da sociedade contra os efeitos da recessão (no caso, a cesta básica subsidiada para a população mais pobre), além dos planos econômicos de curto e de médio prazo. Se mais ainda não foi feito, é porque a extensão da atual crise na economia é muito mais profunda do que parece à primeira vista.

Não se pode esquecer, igualmente, o fato de Itamar Franco ser presidente apenas interino. Embora em sã consciência ninguém acredite que Fernando Collor possa escapar do afastamento definitivo, tal o volume e a contundência das provas apresentadas contra ele, essa possibilidade, apesar de remotíssima, existe.

Este País costuma Ter uma trajetória absolutamente imprevisível. Em geral, os presidentes que chegaram ao poder cercados de grande credibilidade fracassaram. Tomara que Itamar faça exatamente o contrário. Que seja uma agradável surpresa e faça os dois anos que lhe restam de mandato se transformarem na grande virada com que todos sonhamos.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 27 de novembro de 1992).


Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk      

No comments: