Especulações sobre a
origem
Pedro
J. Bondaczuk
O eminente filósofo
inglês dos séculos XVI e XVII, Francis Bacon, que se notabilizou pela defesa do
uso do método científico, caracterizado pelo empirismo, para explicar os
fenômenos do universo, escreveu, em um de seus tantos textos: “Um pouco de
filosofia leva a mente humana ao ateísmo, mas a profundidade da filosofia
leva-a para a religião”. Uma das tantas questões que os nossos remotíssimos
ancestrais levantaram, para complementar as clássicas perguntas “quem sou”,
“onde estou”, “de onde venho”, “para onde vou” foi, certamente, esta: Quem
criou tudo isso? Ou seja, a Terra, os planetas, as estrelas, as galáxias, o
homem, as demais criaturas vivas etc.etc.etc. enfim, o macro-universo? O micro,
obviamente, no início do exercício humano de racionalidade, aqueles pensadores
primitivos sequer desconfiavam que existisse. Nem poderiam.
Surgiu, então, o
conceito de Deus. Ou, para ser exato, de “deuses”. Em princípio as divindades
eram relacionadas, todas, aos fenômenos da natureza: o sol, a lua, as chuvas, a
vida etc.etc.etc. Essa especulação primitiva, puramente filosófica, ensejou o
surgimento das religiões. Caso “filosofemos” de maneira superficial, sem
nenhuma profundidade, seremos induzidos a negar a existência de qualquer
divindade. Todavia, se nos aprofundarmos nas cogitações... talvez (isso depende
de cada um) cheguemos à conclusão da existência de um ser onisciente,
onipotente, onipresente e eterno, que não teve começo e nem terá fim, embora
tal conceito de infinitude e de eternidade não caiba em nossa mente finita e
efêmera.
Não entrarei, óbvio,
nessa discussão, porquanto não sou teólogo. Tenho minha crença a propósito, mas
não quero e nem vou tentar fazer proselitismo. Reservo-a exclusivamente a mim.
É convicção íntima demais para ser exposta a críticas e contestações. Tenho
convicção, que se acentua quanto mais penso no assunto, de que não existem os
chamados ateus. Os que se confessam como tal, podem não crer num deus
específico (ou em deuses) como é apregoado pela infinidade de religiões que há
por aí. Têm, no entanto, “explicações” (que julgam racionais) para como tudo
isso (incluindo nós, óbvio) surgiu, mesmo que não tenham competência para
verbalizá-las. Por exemplo, muitos fazem da Teoria do Big-Bang um dogma – para
mim muito mais absurdo do que o conceito de um deus – para “explicar” a origem de tudo. Explicam?
Obviamente não. Apenas especulam. Não conseguem, entre outras coisas,
justificar como o suposto super-aglomerado, tão concentrado que podia ser
comparado a ínfima parcela da cabeça de um alfinete, se formou. Formou-se do
que? Procedeu de onde? Onde estava antes da super-explosão? E esse lugar,
supostamente o vácuo, como surgiu? Tais pessoas não chamam nada disso de
“deus”, por isso se declaram “ateus”,
mas é como consideram a origem. Para mim, é só questão de semântica.
Como o norueguês
Jostein Gaarder trata desse assunto em sua obra-prima “O mundo de Sofia”, que
é, simultaneamente, atrativo, estimulante e inteligente romance e seguro guia
para o estudo da história da filosofia? Dedica pouco espaço a essa
consideração, pelo menos no capítulo inicial do livro, intitulado “O Jardim do
Eden”. Estende, porém, bastante as informações quando trata das diversas
escolas filosóficas, desde a Grécia antiga, aos tempos atuais. Gaarder escreve,
na página 19: “(...) Na escola ensinavam que Deus havia criado o mundo, e agora
Sofia procurava acalmar sua mente achando que aquela era a melhor explicação
para o problema (...)”.
Pondera, todavia:
“(...) Mas logo ela retomou o pensamento. Podia muito bem lidar com a idéia de
que Deus havia criado o universo, mas e quanto ao próprio Deus? Ele havia
criado a Si mesmo, do nada? De novo, algo dentro dela rejeitava aquilo. Apesar
de Deus conseguir criar um homem atrás de outro, Ele jamais conseguiria criar a
Si mesmo antes de ter se tornado ‘um ser’ capaz de criar outro. Logo, só
restava uma possibilidade: Deus sempre existiu. Mas essa possibilidade ela já
afastara. Tudo que existia tinha que ter tido um começo (...)”.
Jostein Gaarder
explicou alguma coisa, ao tratar de tão delicado e misterioso tema? Não! Claro
que não! Todavia, o papel da Filosofia não é, e nunca foi, o de explicar o que
quer que seja, o de trazer respostas e esclarecimentos, mas o de provocar a
mente e gerar dúvidas e mais dúvidas. E isso, convenhamos, faz à perfeição. Em
outro trecho de “O mundo de Sofia” o escritor nos lembra: “(...) No fundo, não
há tantas questões filosóficas para fazermos. Nós já fizemos algumas das mais
importantes. Mas a história nos mostra muitas respostas diferentes para cada
uma das perguntas que fazemos.
Portanto, é mais fácil
chegar às questões filosóficas do que respondê-las.
Da mesma forma, hoje em
dia cada um deve encontrar suas próprias respostas para as mesmas perguntas.
Não é possível encontrar numa enciclopédia se Deus existe ou se há vida após a
morte. As enciclopédias também não nos dizem como devemos viver. Ler como
pensam outras pessoas, no entanto, pode nos ajudar quando precisamos elaborar
nosso próprio juízo sobre a vida (...)”. E isso não vale a pena? Óbvio que
sim!!!
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