Tuesday, February 16, 2016

Guerra de nervos



Pedro J. Bondaczuk


O conflito do Golfo Pérsico, pelo menos por parte do Irã, vem se caracterizando mais pela retórica, do que pela ação. A rigor, até aqui, desde quando a fragata norte-americana “USS Stark” foi atingida por dois Mirages iraquianos na região, deflagrando o atual estado de tensão, os persas não tomaram nenhuma atitude agressiva, em termos práticos. Limitaram-se a fazer ameaças e dar uma inócua demonstração de força e nada mais.

O problema com o petroleiro do Kuwait, o “Bridgeton”, que se chocou com uma mina submarina, foi atribuído a Teerã. Os iranianos, todavia, não apenas negaram a operação de minagem, como ainda ironizaram o fato. Seu presidente, Ali Khamenei, assegurou que no incidente estava a mão de Deus, punindo, ao acaso, os que chamou de “agressores”.

Enquanto isso, os iranianos tiveram entre 400 e 600 peregrinos mortos em Meca (os números variam de acordo com as versões saudita e iraniana, respectivamente), viram um seu terminal petrolífero ser alvejado por caças do Iraque e, para completar suas desventuras, um navio-tanque fretado, que havia acabado de carregar num de seus portos, se chocou, ontem, com uma mina, fora dos limites do Golfo, já no Mar de Oman, perdendo parte da carga.

Mas a passividade do Irã não significa que não haja mais nenhum risco de confronto na área. Os perigos aumentam a cada dia, virtualmente, de hora para hora, à medida que mais embarcações de guerra seguem para a zona.

Estima-se que, atualmente, as belonaves que navegam nessas turbulentas águas, ou nas cercanias, já sejam 25, com bandeiras dos Estados Unidos, Grã-Bretanha, França e União Soviética. Enquanto os iranianos estiverem fazendo, apenas, ameaças verbais, não há muito com que se preocupar. O pior será quando, e se, eles passarem das palavras para a ação.

É verdade que há todo um trabalho diplomático de bastidores em desenvolvimento, que sequer chega ao conhecimento do público, tentando evitar confrontos armados. Mas a pergunta que fica é: até quando os diplomatas conseguirão seguir consertando as bobagens cometidas por pessoas de cabeça quente, que não medem as conseqüências de suas bravatas e de suas políticas incoerentes?    

(Artigo publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 11 de agosto de 1987)


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