Quando a cautela jamais é excessiva
Pedro J.
Bondaczuk
Os vários grupos terroristas que agem, em especial na
Europa e no Oriente Médio, estão (felizmente) numa espécie de recesso durante
este quase um semestre de 1987, após um início de ano fulminante,
principalmente no Líbano, quando em apenas uma semana de janeiro, cerca de 15
personalidades estrangeiras foram seqüestradas.
Entre estes reféns estava o
negociador da Igreja Anglicana, Terry Waite, de quem não se ouviu falar mais
desse o dia 20 desse tenso e violento mês. Entretanto, estes estados de
hibernação do terror – conforme a experiência através dos anos tem mostrado –
costumam ser, muitas vezes, catastróficos.
E tudo leva a crer que a
temporada de verão na Europa, que começa em junho próximo, deverá ser das mais
agitadas. Não somente em virtude da ameaça, deixada ontem, na sede de uma
agência de notícias ocidental, em Paris, através de uma carta dos terroristas,
mas por causa de outras evidências até mais preocupantes.
Esses grupos de fanáticos, que
têm no terror o seu único argumento, vivem procurando pretextos para agir. No
ano passado, eles sofreram inúmeros reveses, na França, na Itália, na Alemanha
Ocidental e na Áustria, com vários de seus membros capturados, julgados e
condenados a longas penas de prisão.
No entanto, com base em situações
análogas anteriores, é possível de se prever que essas entidades estejam agora
se movimentando mais do que nunca nas sombras, maquinando retaliações as mais
sinistras e bestiais. Bastará uma ligeira abertura na guarda, uma mínima
vacilação das forças de segurança, para que mais bombas voltem a atingir
pessoas inocentes e alheias às controvérsias ideológicas.
Quanto aos seqüestros no Líbano,
não se deve esperar nada de dramático, pelo menos até o mesmo período de meio
de ano de 1988, quando a França e os Estados Unidos estarão ultimando suas
campanhas presidenciais para as respectivas sucessões de François Mitterrand e
de Ronald Reagan.
No mês passado, uma facção xiita
libanesa e um membro influente do clero dessa seita anunciaram, explicitamente,
isso. Disseram que os reféns dessas duas nacionalidades não seriam executados e
nem postos em liberdade antes dessa ocasião. Ou seja, essas entidades radicais
pretendem pressionar a opinião pública desses dois países para influenciar nos
correspondentes resultados eleitorais, se é que isso é possível.
A ser válido e verdadeiro esse
raciocínio, talvez os cativos alemães ocidentais e britânicos venham a ser
postos em liberdade até agosto próximo. O primeiro desses dois Estados já teve
suas eleições, com a tranqüila reeleição dos integrantes da coalizão que
sustenta politicamente o chanceler Helmut Kohl, que garantiu, sem muitos
sustos, um novo mandato.
Na Grã-Bretanha, a votação vai
ocorrer no dia 11 próximo. Aguarda-se, sobretudo, e com muita expectativa,
qualquer notícia acerca de Terry Waite, que foi ao Líbano com uma missão
bastante nobre, qual seja, a de negociar a liberdade de cativos estrangeiros, e
acabou sendo retido por lá.
Entretanto, o representante da
Igreja Anglicana calculou mal a época de iniciar sua humanitária tarefa. Foi a
Beirute no auge de uma disputa entre facções muçulmanas, outrora aliadas, pelo
controle do setor ocidental da capital. Assim que desembarcou no país, a
milícia drusa o tomou sob a sua proteção, com a melhor das intenções, ciente
dos perigos que os estrangeiros estavam correndo na oportunidade.
Foi o que bastou para transformar
o negociador britânico, candidato ao Prêmio Nobel da Paz de 1987, no alvo
predileto dos xiitas, justamente aqueles com quem ele iria negociar e de cuja
presença não poderia, portanto, escapar.
Desde que ele desapareceu, muita
coisa já foi dita a esse respeito. O jornal alemão “Bild” chegou a informar que
Waite teria sido gravemente ferido por seus captores, notícia que não foi
confirmada por nenhuma fonte (e nem desmentida), embora deixasse muita
inquietação atrás de si.
O risco, portanto, no próximo
verão do Hemisfério Norte, salvo alguma dramática mudança no quadro atual, não
vai residir no Oriente Médio. Estará focado na Europa e, mais especificamente,
na França, Itália, Áustria e Alemanha Ocidental.
Os extremistas prometeram uma
temporada muito quente, virtualmente fervendo, no continente. E convém que eles
sejam levados a sério, para que tragédias possam ser evitadas e não se lamente
depois pela falta de cautela. Em tais ocasiões, todo o zelo que se tenha, por
maior que seja, jamais chega a ser excessivo.
(Artigo publicado na página 10, Internacional, do Correio Popular, em 26
de maio de 1987).
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