Monday, February 15, 2016

Eleição não se vence de véspera



Pedro J. Bondaczuk


As pesquisas de opinião pública, nos EUA, favorecem o candidato republicano à presidência daquele país, o atual presidente Ronald Reagan, dando-lhe uma vantagem de 9%. Entretanto, na última prévia nacional do Instituto Harris, notou-se uma tendência ascendente do democrata Walter Mondale, tirando, numa única semana, 3% de diferença.

A questão que surge é: até que ponto as pesquisas pré-eleitorais são confiáveis? É muito difícil de se prever um fato que ainda vai acontecer e que depende da vontade não apenas de uma pessoa, mas de milhões delas. O primeiro obstáculo está na sinceridade dos que respondem os questionários que compõem as prévias.

O cidadão pode, perfeitamente, afirmar antes das eleições que vai votar num certo candidato e na hora de depositar o voto na urna optar por outro. Nada o impede de agir assim e não há poder no mundo capaz de prever isso.

Outra grande dificuldade tendente a reduzir a margem de acerto é a grande abstenção que se verifica nos processos eleitorais norte-americanos, onde a maior taxa de comparecimento dos eleitores, registrada desde 1938, ou seja, nos derradeiros 13 pleitos, foi de 62,8% dos cidadãos aptos a votar, em 1960, quando da vitória de John Kennedy sobre Richard Nixon. A menor, por seu turno, foi em 1940, quando da terceira reeleição de Franklin Delano Roosevelt.

Naquele ano, apenas compareceram para votar 51,1% dos que tinham direito a esse exercício democrático, sendo que 48,9% deixaram de se valer dele. A média de abstenção eleitoral, desde 1938, primeira eleição em que as pesquisas de opinião foram realizadas, é de 42,64% (quase a metade de todos os eleitores) e nada leva a crer que ela possa vir a baixar em 6 de novembro próximo.

Pelo contrário, tudo conduz à presunção, pelo desinteresse que a campanha vem despertando, e mantida a tendência declinante de comparecimento verificada desde 1972, que essa taxa deverá crescer mais um pouquinho.

Portanto, as pessoas que estão se baseando apenas nas pesquisas para afirmar que o candidato republicano, Ronald Reagan, já é vencedor, podem estar sendo induzidas a erro. Não queremos aqui afirmar que vá ocorrer exatamente o contrário.

O atual presidente pode, até mesmo, reeleger-se e com boa diferença. Entretanto, eleição não se ganha por antecipação. Se assim fosse, não seria necessário fazer o gasto que se faz para realizar o pleito. Bastaria apurar a vontade do eleitorado por amostragem, como se faz nas prévias, e tudo estaria resolvido.

O próprio George Gallup, criador de um dos mais respeitáveis institutos de pesquisas de opinião do mundo, admitiu, certa vez: “A lei das probabilidades trabalha tanto a nosso favor como contra. Sabemos que na maior parte das vezes acertaremos próximo ao alvo, mas também temos certeza de que em certas ocasiões a diferença será suficientemente grande para situar-nos do lado errado”. Eleições, num país onde o comparecimento para votar não é obrigatório, costumam trazer constrangedoras surpresas. O ex-presidente Jimmy Carter que o diga...E o presidente Reagan que se cuide... 

(Artigo publicado na página 9, Internacional, do Correio Popular, em 20 de outubro de 1984)


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