Eleição
não se vence de véspera
Pedro J. Bondaczuk
As pesquisas de opinião pública, nos EUA, favorecem
o candidato republicano à presidência daquele país, o atual presidente Ronald
Reagan, dando-lhe uma vantagem de 9%. Entretanto, na última prévia nacional do
Instituto Harris, notou-se uma tendência ascendente do democrata Walter
Mondale, tirando, numa única semana, 3% de diferença.
A questão que surge é: até que ponto as pesquisas
pré-eleitorais são confiáveis? É muito difícil de se prever um fato que ainda
vai acontecer e que depende da vontade não apenas de uma pessoa, mas de milhões
delas. O primeiro obstáculo está na sinceridade dos que respondem os
questionários que compõem as prévias.
O cidadão pode, perfeitamente, afirmar antes das
eleições que vai votar num certo candidato e na hora de depositar o voto na
urna optar por outro. Nada o impede de agir assim e não há poder no mundo capaz
de prever isso.
Outra grande dificuldade tendente a reduzir a margem
de acerto é a grande abstenção que se verifica nos processos eleitorais
norte-americanos, onde a maior taxa de comparecimento dos eleitores, registrada
desde 1938, ou seja, nos derradeiros 13 pleitos, foi de 62,8% dos cidadãos
aptos a votar, em 1960, quando da vitória de John Kennedy sobre Richard Nixon.
A menor, por seu turno, foi em 1940, quando da terceira reeleição de Franklin
Delano Roosevelt.
Naquele ano, apenas compareceram para votar 51,1%
dos que tinham direito a esse exercício democrático, sendo que 48,9% deixaram
de se valer dele. A média de abstenção eleitoral, desde 1938, primeira eleição
em que as pesquisas de opinião foram realizadas, é de 42,64% (quase a metade de
todos os eleitores) e nada leva a crer que ela possa vir a baixar em 6 de
novembro próximo.
Pelo contrário, tudo conduz à presunção, pelo
desinteresse que a campanha vem despertando, e mantida a tendência declinante
de comparecimento verificada desde 1972, que essa taxa deverá crescer mais um
pouquinho.
Portanto, as pessoas que estão se baseando apenas
nas pesquisas para afirmar que o candidato republicano, Ronald Reagan, já é
vencedor, podem estar sendo induzidas a erro. Não queremos aqui afirmar que vá
ocorrer exatamente o contrário.
O atual presidente pode, até mesmo, reeleger-se e
com boa diferença. Entretanto, eleição não se ganha por antecipação. Se assim
fosse, não seria necessário fazer o gasto que se faz para realizar o pleito.
Bastaria apurar a vontade do eleitorado por amostragem, como se faz nas
prévias, e tudo estaria resolvido.
O próprio George Gallup, criador de um dos mais
respeitáveis institutos de pesquisas de opinião do mundo, admitiu, certa vez:
“A lei das probabilidades trabalha tanto a nosso favor como contra. Sabemos que
na maior parte das vezes acertaremos próximo ao alvo, mas também temos certeza
de que em certas ocasiões a diferença será suficientemente grande para
situar-nos do lado errado”. Eleições, num país onde o comparecimento para votar
não é obrigatório, costumam trazer constrangedoras surpresas. O ex-presidente
Jimmy Carter que o diga...E o presidente Reagan que se cuide...
(Artigo publicado na página 9, Internacional, do
Correio Popular, em 20 de outubro de 1984)
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