Sucessão suscita indagações
Pedro J. Bondaczuk
A subida, ontem, de Mikhail
Gorbachev ao cargo máximo da União Soviética, embora esperada há tempos por
observadores ocidentais e prevista por nós com grande insistência desde
dezembro do ano passado (quando do agravamento da enfermidade de Constantin
Chernenko, desperta em todos esperanças, expectativas e uma série de
indagações.
Pelo
fato do novo secretário-geral do PC da URSS ser o primeiro da geração
pós-Stalin, espera-se que imprima um ritmo mais moderno à administração da
superpotência do Leste e que liberalize o regime, seguindo o exemplo chinês,
aproximando-se um pouco mais do Ocidente e quebrando o permanente clima de
tensão reinante no mundo.
Enquanto
ele não se manifesta, contudo, em algo que realmente seja importante em nível
internacional, permanece a expectativa de como costuma agir, como encara os
problemas do nosso tempo e qual a contribuição que tem para oferecer à promoção
da paz mundial. E o que não faltam, em relação a Gorbachev, são interrogações.
O
que o levou a ter um crescimento tão meteórico na rígida estrutura do poder
soviético, onde geralmente os grandes comandantes têm que galgar com enervante
lentidão os postos secundários, até atingir o topo da escada da fama?
Qual
a sua visão do confronto Leste-Oeste e da exportação da revolução? O que ele
pensa da “détente” e da estratégia MAD (“Mutual Assured Destruction), o chamado
“equilíbrio do medo”, segundo o qual, enquanto existir a possibilidade da mútua
destruição garantida das duas superpotências, não haverá um conflito nuclear?
E
em relação ao Terceiro Mundo (que é o que nos interessa mais de perto), qual
será a sua forma de agir? Continuará baseada na permanente tentativa de
infiltração nos países mais pobres, se valendo de seus problemas internos para
desestabilizar seus regimes e colocar no poder governos marxistas que orbitem
ao redor da irresistível influência de Moscou?
Ou
se limitará a conservar o marxismo (posto que profundamente descaracterizado)
apenas no âmbito da própria União Soviética? E em relação aos satélites do
Leste europeu? Permitirá que cada um siga seu próprio caminho, de acordo com as
características e peculiaridades próprias, ou prosseguirá imitando Kruschev e
Brezhnev, invadindo (a exemplo do que fizeram aqueles dois líderes em relação à
Polônia, Hungria e Checoslováquia) os que ousarem ao menos pensar em
liberalização?
Como
se vê, indagações existem até de sobra. Embora haja, também, muita esperança de
que o mundo possa, finalmente, respirar um pouco mais aliviado, sem uma
competição tão acirrada e ostensiva, que envolve indistintamente a todos, como
a atual guerra sem declaração formal de União Soviética e Estados Unidos.
Que
possamos assistir ao início de uma nova era (que ainda não passa de mera e
delirante utopia dos que teimam em crer no bom senso humano) de cooperação e
respeito entre as nações para a solução de questões muito mais urgentes do que
saber qual dos gigantes é o maior, tais como a fome, o desemprego, as
moléstias, a mortalidade infantil...
(Artigo
publicado na página 21, Internacional, do Correio Popular, em 12 de março de
1985).
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