Porte
ilegal de armas
Pedro J. Bondaczuk
A Câmara dos Deputados aprovou, e o presidente
Fernando Henrique Cardoso sancionou, nesta semana, o projeto que criminaliza o
porte ilegal de armas. Até aqui, esse delito era considerado, apenas,
contravenção penal. A pena (quando aplicada) era bastante leve, quase
insignificante.
Trata-se, portanto, de mais um dispositivo que as
autoridades de segurança passam a ter ao seu dispor, e que se incorpora ao
arsenal de recursos para tentar reduzir a violência (urbana e no campo, onde
fazendeiros e sem-terra estariam se armando) e que atinge níveis intoleráveis.
Claro que a simples existência de uma legislação,
por mais abrangente e perfeita que seja, não resolve, por si só, esse e nenhum
outro problema. É preciso, obviamente, que ela seja aplicada e com muito
critério e rigor.
Muitas pessoas condenadas pela Justiça acabam
recebendo penas alternativas e, dependendo do caso, não chegam sequer a cumprir
um único dia de prisão, por motivos vários.
Há casos e mais casos de indivíduos que por
banalidades – como discussão no trânsito, ou porque alguém olhou com
insistência para sua namorada, por exemplo – ferem o "ofensor" com
gravidade, muitas vezes o incapacitando fisicamente.
No entanto, ou porque as vítimas sobrevivem, ou por
serem réus primários, ou por alguma outra razão qualquer, acabam não cumprindo
as penas que lhes são impostas. Esta impunidade, sem dúvida, é um grande
estimulante (senão o maior) para o crime.
Outro problema, para punir com prisão os que andarem
armados e não tiverem o respectivo porte, como prevê a nova lei (que ainda
carece de regulamentação, embora já esteja em vigor), é a falta de vagas no
sistema carcerário brasileiro, que está muitíssimo além da sua capacidade,
superlotado, violento, perigoso e repleto de distorções.
Milhares de criminosos condenados estão nas ruas
simplesmente por que não há onde os colocar. Alguns, inclusive, são de
reconhecida e comprovada periculosidade. Há muitos sentenciados pela justiça
que permanecem em cadeias, absurdamente superlotadas e insalubres, por não
existir lugar em penitenciárias, que é onde deveriam estar.
Não se nega que seja um avanço a aprovação da
criminalização do porte ilegal de armas, medida defendida há tempos por
entidades através de várias campanhas. Mas é preciso que haja uma
conscientização sobre o valor da vida.
É indispensável que as pessoas desarmem, antes de
tudo, os espíritos e desenvolvam regras de boa convivência, na base do diálogo
e da tolerância mútuos. É necessário, sobretudo, que as drogas (incluindo o
álcool) sejam coibidas com rigor.
Só assim, teremos uma sociedade minimamente segura.
É preciso acabar com a aberração das mortes violentas (homicídios e suicídios)
constituírem-se, como hoje, na terceira causa de mortalidade no País. A
violência não pode prosperar.
(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio
Popular, em 22 de fevereiro de 1997).
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