Saturday, February 27, 2016

Convite para próprias reflexões



Pedro J. Bondaczuk

O livro “O mundo de Sofia”, de Jostein Gaarder, é tão instigante, do ponto de vista intelectual, que se me dispusesse a comentá-lo do primeiro ao último capítulo – ou se qualquer outra pessoa se propusesse a isso – teria assunto não apenas para algumas semanas, ou mesmo meses. Precisaria escrever, continuamente, todos os dias sem exceção, por anos a fio e, ainda assim, não diria tudo o que pode ser dito. Minha tentação é a de seguir esse fio condutor, comentando, por conseqüência, a História da Filosofia, pois nesse processo, além de ampliar meus próprios conhecimentos, poderia contribuir para trazer preciosas informações aos que me dão a honra da sua leitura. Embora tenha prometido fazê-lo, e apesar de muitos dos que me acompanham terem insistido para que eu o fizesse, não o farei. E por várias razões.

O principal motivo para encerrar esta série de comentários é em respeito ao autor. Quem quiser saber mais sobre Filosofia e sopbre tudo o que ela enseja, em termos de reflexão, deve adquirir (e ler, e meditar) o livro de Jostein Gaarder. Até porque, cada qual extrairá dessa obra lições diferentes das que meus comentários sugiram, ou talvez “induzam”, de acordo com sua personalidade e seu grau de conhecimento. Ao citar isso, lembro-me do que Friedrich Nietzsche afirmou, certa feita, a esse propósito. O polêmico (posto que genial) filósofo alemão escreveu: “Os leitores extraem dos livros, consoante o seu caráter, a exemplo da abelha ou da aranha que, do suco das flores retiram, uma, o mel, a outra, o veneno”. Não quero, pois, interferir na natureza da extração de cada qual do conteúdo dessa bem-sucedida obra do escritor norueguês. Até porque não sei em que mãos meus modestos e imperfeitos comentários irão parar: se nas de “abelhas” ou se nas “de aranhas”.

 O outro motivo para mudar de assunto é que tenho  extensíssima pauta de temas a desenvolver, de livros a comentar, de autores a apresentar. O mundo da Literatura (felizmente) é dinâmico e, ademais, não sou do tipo que se atém a uma espécie de “samba de uma nota só”, parodiando a famosa composição de João Gilberto. Ou seja, de um único assunto, por mais relevante que pareça ou de fato seja. Sou culturalmente inquieto e ávido por novidades, como boa parte dos que me honram com sua leitura. Reitero, porém, a recomendação: leiam “O mundo de Sofia”. Adquiram o livro (se puderem). Caso não possam, por alguma razão, comprá-lo, procurem-no em alguma boa biblioteca. Leiam-no. Estudem-no. Meditem sobre suas mensagens. Sejam, também, um pouco “filósofos”, exercendo o que o homem tem de mais precioso e nobre: a racionalidade.

Não se preocupem com a imensa quantidade de perguntas que a reflexão filosófica possa (certamente vai, e infinitas) suscitar. Afinal, como afirmou o filósofo português Agostinho Silva, “Filosofia é provocação e dúvida, jamais certeza e ensino”. Ela “ensina”, sim, mas “a agir, não a falar”, como concluiu o romano Seneca. Esse exercício de reflexão os tornará, com certeza, melhores e contribuirá, quem sabe (dependendo do espírito prático de cada um) para tornar o mundo um pouquinho (ou bastante) melhor.

Para não deixá-los na mão, caríssimos e preciosos leitores, sinto-me obrigado a fazer importante revelação sobre esta obra, para o que recorro à enciclopédia eletrônica Wikipédia, que a faz com meridiana clareza: “Por ser um livro baseado em filosofia... promete (e cumpre) explicar tudo no final, quando Sofia e Alberto Knox escapam de Albert Knag. A explicação é que Albert Knag é o autor de um livro chamado ‘O Mundo de Sofia’, onde Sofia e Alberto são dois meros personagens. Ele dá esse livro a Hilde como presente de aniversário. O autor faz com que seus personagens tomem consciência de sua condição e baseados em conhecimentos filosóficos Sofia e Alberto são capazes de transcender a própria realidade do ‘autor’. ‘O mundo de Sofia’ é um exemplo de espontaneadade. O livro retrata épocas e momentos diferentes da realidade que Sofia vive. Quando tudo parece real e concreto, o que nos parece ser normal de uma hora para outra, transforma-se em uma utopia. Quando Sofia descobre que não é real e que não passa de personagem de uma história, história essa que muda sua vida, o enredo do livro muda definitivamente e a realidade empírica mostra-se evidente”. Genial, não é mesmo?


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