Convite para próprias
reflexões
Pedro
J. Bondaczuk
O livro “O mundo de
Sofia”, de Jostein Gaarder, é tão instigante, do ponto de vista intelectual,
que se me dispusesse a comentá-lo do primeiro ao último capítulo – ou se
qualquer outra pessoa se propusesse a isso – teria assunto não apenas para
algumas semanas, ou mesmo meses. Precisaria escrever, continuamente, todos os
dias sem exceção, por anos a fio e, ainda assim, não diria tudo o que pode ser
dito. Minha tentação é a de seguir esse fio condutor, comentando, por
conseqüência, a História da Filosofia, pois nesse processo, além de ampliar
meus próprios conhecimentos, poderia contribuir para trazer preciosas
informações aos que me dão a honra da sua leitura. Embora tenha prometido
fazê-lo, e apesar de muitos dos que me acompanham terem insistido para que eu o
fizesse, não o farei. E por várias razões.
O principal motivo para
encerrar esta série de comentários é em respeito ao autor. Quem quiser saber
mais sobre Filosofia e sopbre tudo o que ela enseja, em termos de reflexão,
deve adquirir (e ler, e meditar) o livro de Jostein Gaarder. Até porque, cada
qual extrairá dessa obra lições diferentes das que meus comentários sugiram, ou
talvez “induzam”, de acordo com sua personalidade e seu grau de conhecimento.
Ao citar isso, lembro-me do que Friedrich Nietzsche afirmou, certa feita, a
esse propósito. O polêmico (posto que genial) filósofo alemão escreveu: “Os
leitores extraem dos livros, consoante o seu caráter, a exemplo da abelha ou da
aranha que, do suco das flores retiram, uma, o mel, a outra, o veneno”. Não
quero, pois, interferir na natureza da extração de cada qual do conteúdo dessa
bem-sucedida obra do escritor norueguês. Até porque não sei em que mãos meus
modestos e imperfeitos comentários irão parar: se nas de “abelhas” ou se nas
“de aranhas”.
O outro motivo para mudar de assunto é que
tenho extensíssima pauta de temas a
desenvolver, de livros a comentar, de autores a apresentar. O mundo da
Literatura (felizmente) é dinâmico e, ademais, não sou do tipo que se atém a
uma espécie de “samba de uma nota só”, parodiando a famosa composição de João
Gilberto. Ou seja, de um único assunto, por mais relevante que pareça ou de
fato seja. Sou culturalmente inquieto e ávido por novidades, como boa parte dos
que me honram com sua leitura. Reitero, porém, a recomendação: leiam “O mundo
de Sofia”. Adquiram o livro (se puderem). Caso não possam, por alguma razão,
comprá-lo, procurem-no em alguma boa biblioteca. Leiam-no. Estudem-no. Meditem
sobre suas mensagens. Sejam, também, um pouco “filósofos”, exercendo o que o
homem tem de mais precioso e nobre: a racionalidade.
Não se preocupem com a
imensa quantidade de perguntas que a reflexão filosófica possa (certamente vai,
e infinitas) suscitar. Afinal, como afirmou o filósofo português Agostinho
Silva, “Filosofia é provocação e dúvida, jamais certeza e ensino”. Ela
“ensina”, sim, mas “a agir, não a falar”, como concluiu o romano Seneca. Esse
exercício de reflexão os tornará, com certeza, melhores e contribuirá, quem
sabe (dependendo do espírito prático de cada um) para tornar o mundo um
pouquinho (ou bastante) melhor.
Para não deixá-los na
mão, caríssimos e preciosos leitores, sinto-me obrigado a fazer importante
revelação sobre esta obra, para o que recorro à enciclopédia eletrônica
Wikipédia, que a faz com meridiana clareza: “Por ser um livro baseado em
filosofia... promete (e cumpre) explicar tudo no final, quando Sofia e Alberto
Knox escapam de Albert Knag. A explicação é que Albert Knag é o autor de um livro
chamado ‘O Mundo de Sofia’, onde Sofia e Alberto são dois meros personagens.
Ele dá esse livro a Hilde como presente de aniversário. O autor faz com que
seus personagens tomem consciência de sua condição e baseados em conhecimentos
filosóficos Sofia e Alberto são capazes de transcender a própria realidade do
‘autor’. ‘O mundo de Sofia’ é um exemplo de espontaneadade. O livro retrata
épocas e momentos diferentes da realidade que Sofia vive. Quando tudo parece
real e concreto, o que nos parece ser normal de uma hora para outra,
transforma-se em uma utopia. Quando Sofia descobre que não é real e que não
passa de personagem de uma história, história essa que muda sua vida, o enredo
do livro muda definitivamente e a realidade empírica mostra-se evidente”. Genial,
não é mesmo?
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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