Respeito aos idosos
Pedro J. Bondaczuk
Os
povos antigos, que lançaram os fundamentos da civilização, concediam um status
todo especial aos seus cidadãos de maior idade. Na Grécia, por exemplo, o
Legislativo de Atenas, composto por 400 membros, era vedado a quem tivesse
menos de 30 anos. Tratava-se da "Bulé", cuja tradução seria "A
Razão".
Em
Roma, havia o culto dos antepassados, os "deuses lares", para os
quais eram erguidos altares no interior das casas, as tão conhecidas
"lareiras", que hoje têm função de apenas aquecer as moradias nos
países mais frios e de mera decoração no Brasil.
Na
China, a Assembléia dos Anciãos dava sempre a última palavra, antes de uma
decisão dos imperadores, o mesmo ocorrendo no Japão e entre outros povos. A
Rússia, nos seus primórdios, tinha uma câmara semelhante: a dos boiardos.
E
o que ocorre no Brasil contemporâneo? Total e absoluto desrespeito pelos mais
idosos. A partir dos 30 anos, por exemplo, quando o indivíduo atinge o seu
apogeu em termos de razão, já é considerado ultrapassado por aqui e enfrenta
dificuldades para arranjar emprego.
Parte
considerável dos cidadãos mais velhos passa a ser encarada como um trambolho,
um estorvo e sofre toda a espécie de agressões à sua dignidade humana,
principalmente por parte dos parentes. Há milhares de asilos espalhados por
este País, muitos dos quais autênticos depósitos onde os que lá vivem são
tratados como sombras, como zumbis, como tudo, menos como gente.
Agora,
a controvérsia em torno do reajuste de 147% nos minguadíssimos ganhos dos
pensionistas e aposentados traz à tona, para que todos vejam e se critiquem, a
forma covarde, absurda, ignóbil e sem sentido com que os construtores do pouco
progresso que o Brasil obteve são tratados, agora que deveriam gozar, pelos
méritos que reuniram, seu "ócius cum dignitate". Seu descanso digno.
Além
de espoliados por um sistema mal administrado e apodrecido nas bases, de verem
seu patrimônio comum, a Previdência Social, que ajudaram a formar com suas
contribuições, ser dilapidado por marajás e fraudadores, também são agredidos
fisicamente quando se dispõem a exercer a cidadania a que têm direito.
As
agressões praticadas por alguns policiais que exorbitaram de suas funções e
praticaram o crime de "abuso de autoridade" --- previsto no Código
Penal --- na Ponte Colombo Salles, que liga Florianópolis ao continente, foram
um dos fatos mais indignos e revoltantes que os brasileiros puderam tomar
conhecimento nos últimos tempos, através das imagens da televisão.
Velhinhos
frágeis e indefesos, que nada mais faziam do que reivindicar aquilo que a
própria Justiça vem reconhecendo ser seu, foram tratados como marginais, como
perigosos agitadores, dispersados a poder de cassetetes e bombas de gás
lacrimogêneo.
Dificilmente
quem ainda tem capacidade de raciocínio e de discernimento deixou de projetar
na cena bárbara e grotesca mostrada pela TV seu pai ou seu avô encarnados na
pele, por exemplo, do aposentado Quintino Cechinel, de 70 anos, que teve o
queixo fraturado na infeliz e incompetente intervenção daqueles aos quais
competia restabelecer a ordem e que somente souberam exibir brutalidade.
Mais
do que nunca o sofrido cidadão, portanto, se conscientiza de que é sumamente
verdadeira a afirmação de que o homem contemporâneo não passa de um pigmeu que
somente aparenta ser grande porque está de pé nos ombros dos antepassados.
Um
país que não respeita e nem protege seus verdadeiros heróis --- em geral
anônimos --- ou seja, aqueles que o construíram, não pode aspirar a nenhum
futuro. Não tem memória, não tem tradições, não tem história.
(Artigo
publicado na página 3, Opinião, do Correio Popular, em 2 de fevereiro de 1992).
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