Treze países decidem por
todos
Pedro J. Bondaczuk
A
estratégia da Europa Ocidental e dos Estados Unidos em relação aos Estados
ditos terroristas do mundo árabe, no caso Líbia, Síria e Irã, é a de isolar
esses países, tanto econômica, quanto diplomaticamente. O objetivo, apregoado
pelos europeus, é tornar seu continente livre de atentados e dar mais segurança
a seus cidadãos na área do Mar Mediterrâneo. Dessa maneira, nos últimos dias
vimos uma sucessão de expulsões de diplomatas, de estudantes e até de
empresários, especialmente líbios, da Itália, da França e da Espanha, com a
correspondente represália do governo de Tripoli.
Desde
sábado, a Síria entrou nessa "ciranda maluca", diferente de tudo o
que já se viu em tempos de paz. Em relação ao Irã, desde 1979, quando do
incidente da ocupação da embaixada norte-americana em Teerã, esse país tem sido
considerado "non grato" à dita civilização ocidental.
Essas
medidas, ao nosso ver, são contraproducentes e até certo ponto perigosas. É
verdade que a curto prazo podem inibir o terrorismo. Isso, se os Estados
acusados de serem seus patrocinadores realmente forem aquilo que deles se diz.
Pelo menos enquanto o assunto ainda ocupa as manchetes e outro fato não esteja
desviando as atenções internacionais, eles não podem nem treinar, nem dar apoio
logístico e nem sequer esconder grupos terroristas. Se o fizerem, correm o
risco de ter seus interesses econômicos ainda mais comprometidos e, em caso
extremo, até de sofrer represálias armadas.
Como
medidas de emergência, para frear as ações terroristas, pode ser um expediente
válido, ainda que contestável. Mas as providências, para serem duradouras,
precisarão ter um caráter mais amplo. Ser mais discutidas, envolver maior
número de parceiros (se possível, toda a comunidade mundial) e não podem,
portanto, ficar restritas apenas aos "treze" cardeais do mundo
moderno.
Há
várias hipóteses a considerar quanto à questão, mas duas se destacam de
imediato. A primeira admite que os segregados são, realmente, Estados
terroristas. Neste caso, com o isolamento (que certamente será compensado por
uma aproximação maior com a União Soviética), eles terão condições de formar de
fato os "esquadrões-suicidas" de que tanto o líder líbio Muammar
Khadafy vem falando, nos últimos tempos, sem que sejam molestados por ninguém.
Nessas
circunstâncias, os futuros atentados seriam cometidos sem que se deixasse
nenhuma pista ligando os extremistas a seus patrocinadores. Isso não é muito
difícil e os europeus sabem que não é. A segunda hipótese, considera que os
Estados ora isolados nada têm a ver com o terror. Em tal circunstância, além
das ações extremistas não diminuírem em tempo algum, os diversos grupos
passarão a contar com a simpatia dos que foram acusados sem dever. Nesse caso,
nem mesmo um ataque nuclear limitado conseguirá conter a violência, que então
explodirá e tenderá a se generalizar.
Essa
história de um país punir a outro já trouxe muita dor de cabeça no presente
século a toda a comunidade mundial. Chegou, até, a causar duas guerras
mundiais, cujas conseqüências ninguém mais do que o europeu conhece tão bem.
Mesmo assim, o expediente volta a ser usado, somente aumentando ainda mais as
tensões e consolidando antagonismos. E a Organização das Nações Unidas, para o
que serve? E o Conselho de Segurança? E a Corte Internacional de Justiça de
Haia? O mundo, acaso, tornou-se feudo exclusivo da poderosíssima
"Trilateral"? Tudo leva a crer que sim!
(Artigo
publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 13 de maio de
1986)
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
No comments:
Post a Comment