Ianomâmis
em extinção
Pedro J. Bondaczuk
As notícias sobre o processo de extermínio dos
índios ianomâmis, par parte de garimpeiros no Estado de Roraima, se sucedem. A
imprensa dá ampla cobertura aos fatos, as autoridades prometem tomar
providências, mas o tempo passa e tudo continua na mesma.
Enquanto isso, dezenas, centenas, quando não
milhares de seres humanos, que outrora constituíram nações fortes e orgulhosas,
seguem morrendo, pelo simples “crime” de terem concepções de vida, costumes e
visão do mundo diferentes dos praticados pelos ditos civilizados.
Nos últimos dias, divulgaram-se duas informações
envolvendo tais comunidades. Uma dá conta de que os garimpeiros que ocupam
ilegalmente as terras dos ianomâmis mataram, na quinta-feira passada, dois líderes
desse povo, sendo um deles o cacique Lourenço, num estúpido massacre praticado
na Maloca Halomais, a 500 quilômetros de Boa Vista.
A outra notícia é, inclusive, mais preocupante, a
ponto de mobilizar o próprio ministro da Saúde, Alceni Guerra. Trata-se de um
surto de oncocercose, doença que destrói o globo ocular e cega as pessoas que a
contraem, e que já se espalhou entre cinco mil índios. Além disso, a malária
dizima aldeias inteiras, acompanhada de outras moléstias igualmente mortais,
como o sarampo e a tuberculose.
É lamentável que em plena era da comunicação total,
às vésperas do século XXI, ainda haja tantos e tão tolos preconceitos entre os
ditos civilizados. Os indígenas – e isto não vale apenas para o Brasil, mas
para Equador, Venezuela, Bolívia e Peru, entre outros – são tratados como se
não fossem humanos. Basta que se lhes imponha esse rótulo de “índios” – por
sinal, inadequado, surgido do equívoco de Cristóvão Colombo, que ao descobrir a
América, pensou ter chegado à Índia – para que tais pessoas sejam despidas da
sua humanidade.
A sociedade, por desencargo de consciência, faz um
certo alarido quando casos como o massacre na Maloca Halomais ou do surto de
oncocercose são divulgados. Intelectuais deblateram, grupos que buscam mais
aparecer do que fazer algum bem a quem quer que seja promovem marchas,
passeatas e “happenings”, até que outro assunto da moda desperte sua atenção.
Em pouco tempo, ianomâmis ou sejam lá que tribos
forem, serão rapidamente esquecidos. Suas terras são ilegal e impunemente
invadidas, seus membros são dizimados em confrontos armados com os invasores,
sua gente é contaminada por doenças que no seu isolamento sadio nunca antes
havia tido, tudo isso nos bastidores. Longe das câmeras de televisão, dos
editoriais e das manifestações dos eternamente festivos “salvadores da pátria”.
Triste destino.
(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio
Popular, em 12 de setembro de 1990)
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