Tuesday, February 09, 2016

Tema apenas secundário



Pedro J. Bondaczuk


Os líderes dos sete países mais industrializados do mundo capitalista, que iniciaram, ontem, em Paris, sua 15ª reunião de cúpula econômica anual, não estão considerando a dívida externa do Terceiro Mundo, que já anda na astronômica casa do US$ 1,3 trilhão, como assunto prioritário. Tanto é que o tema não ganhou posição de destaque na pauta do encontro.

Isto deixa entrever mais um ano de imensas dificuldades para os países endividados, alguns dos quais, não se pode negar, correndo riscos iminentes de enfrentar explosões de grandes proporções, como a verificada em fevereiro passado, na Venezuela. Ou ondas de saques a estabelecimentos de venda de alimentos, como a que aconteceu em maio, na vizinha Argentina.

Ao que parece, a reunião deve ser dominada por dois temas que, no frigir dos ovos, deveriam ser secundários. Um deles envolve diretamente o Brasil, que é o da tentativa do chanceler da Alemanha Ocidental, Helmut Kohl, de criar um mecanismo que troque o endividamento externo pela preservação de florestas. Ou seja, uma troca de dívida por árvores.

Houvesse sinceridade nesse propósito, ele até que seria louvável. Afinal, ninguém discute a importância, por exemplo, de uma Amazônia, para nós, brasileiros. Mas somente para o nosso povo. Afinal, os pretensos salvadores do meio ambiente não conseguiram, preservar matas nem mesmo em seus países, às voltas com depredações ecológicas criminosas, com uma doentia poluição da atmosfera e freqüentes precipitações de chuvas ácidas.

No mínimo, portanto, como sempre aconteceu nos contatos entre o Norte industrializado e o Sul subdesenvolvido, nas derradeiras cinco décadas (para não se reportar a épocas mais longínquas) deve haver alguma armadilha em tudo isso, que implique em lucros para eles, e prejuízos para nós.

Afinal, o próprio endividamento o é, e dos truques, o mais indecente. É cômodo para qualquer detentor de capital fazer negócio na base do um por três. Ou seja, para cada dólar emprestado, cobrar três, a título de juros. Ocorre que a galinha dos ovos de ouro está exaurida. Já não consegue botar mais, de tão raquítica que se apresenta.

O sensato seria alimentá-la, engordá-la a poder de milhões (com o perdão do mau trocadilho), para que ela voltasse a ser produtiva. Mas, ao que tudo indica, os sete bilionários mundiais não raciocinam assim. Pelo que parece, estão dispostos a cozinhar a própria galinha, na ausência dos seus preciosos ovos.

E tome sufoco para brasileiros, argentinos, mexicanos, venezuelanos, peruanos e vai por aí afora, atolados num monumental compromisso de US$ 1,3 trilhão, enquanto os ricos namoram com o Leste europeu.    

(Artigo publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 15 de julho de 1989)


Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk       

No comments: