Tema
apenas secundário
Pedro J. Bondaczuk
Os líderes dos sete países mais industrializados do
mundo capitalista, que iniciaram, ontem, em Paris, sua 15ª reunião de cúpula
econômica anual, não estão considerando a dívida externa do Terceiro Mundo, que
já anda na astronômica casa do US$ 1,3 trilhão, como assunto prioritário. Tanto
é que o tema não ganhou posição de destaque na pauta do encontro.
Isto deixa entrever mais um ano de imensas
dificuldades para os países endividados, alguns dos quais, não se pode negar,
correndo riscos iminentes de enfrentar explosões de grandes proporções, como a
verificada em fevereiro passado, na Venezuela. Ou ondas de saques a
estabelecimentos de venda de alimentos, como a que aconteceu em maio, na
vizinha Argentina.
Ao que parece, a reunião deve ser dominada por dois
temas que, no frigir dos ovos, deveriam ser secundários. Um deles envolve
diretamente o Brasil, que é o da tentativa do chanceler da Alemanha Ocidental,
Helmut Kohl, de criar um mecanismo que troque o endividamento externo pela
preservação de florestas. Ou seja, uma troca de dívida por árvores.
Houvesse sinceridade nesse propósito, ele até que
seria louvável. Afinal, ninguém discute a importância, por exemplo, de uma
Amazônia, para nós, brasileiros. Mas somente para o nosso povo. Afinal, os
pretensos salvadores do meio ambiente não conseguiram, preservar matas nem
mesmo em seus países, às voltas com depredações ecológicas criminosas, com uma
doentia poluição da atmosfera e freqüentes precipitações de chuvas ácidas.
No mínimo, portanto, como sempre aconteceu nos
contatos entre o Norte industrializado e o Sul subdesenvolvido, nas derradeiras
cinco décadas (para não se reportar a épocas mais longínquas) deve haver alguma
armadilha em tudo isso, que implique em lucros para eles, e prejuízos para nós.
Afinal, o próprio endividamento o é, e dos truques,
o mais indecente. É cômodo para qualquer detentor de capital fazer negócio na
base do um por três. Ou seja, para cada dólar emprestado, cobrar três, a título
de juros. Ocorre que a galinha dos ovos de ouro está exaurida. Já não consegue
botar mais, de tão raquítica que se apresenta.
O sensato seria alimentá-la, engordá-la a poder de
milhões (com o perdão do mau trocadilho), para que ela voltasse a ser
produtiva. Mas, ao que tudo indica, os sete bilionários mundiais não raciocinam
assim. Pelo que parece, estão dispostos a cozinhar a própria galinha, na
ausência dos seus preciosos ovos.
E tome sufoco para brasileiros, argentinos,
mexicanos, venezuelanos, peruanos e vai por aí afora, atolados num monumental
compromisso de US$ 1,3 trilhão, enquanto os ricos namoram com o Leste
europeu.
(Artigo publicado na página 11, Internacional, do
Correio Popular, em 15 de julho de 1989)
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