Apenas
palpites
Pedro J. Bondaczuk
A reunião econômica anual dos sete países mais ricos
do mundo capitalista acabou, anteontem, em Paris e, conforme o previsto, a
questão da dívida externa do Terceiro Mundo, tida e havida por cientistas
políticos, sociólogos e economistas das mais variadas tendências como o
problema mais sério do nosso tempo, por envolver dois terços da humanidade,
ganhou importância meramente secundária.
Aliás, estes encontros têm primado pela
informalidade. Não passam de meras trocas de pontos de vista entre chefes de
Estado e de governo aliados, sem nenhum caráter decisório. Costumam ganhar
grandes manchetes, são temas de editoriais variados apenas pelas personalidades
que reúnem, mas de tais conversas nunca surgiram decisões para os grandes temas
contemporâneos.
O que se disse acerca da dívida externa foi,
exatamente, o que todos já previam que seria dito. Apelou-se, por exemplo, aos
bancos credores, para que reduzissem o custo dos débitos, o que eles podem
atender ou deixar de atender. Afinal, o capital investido foi o dessas
instituições e não o dos governos, cujos representantes confabularam em Paris.
Muito mais impacto tiveram as declarações de caráter
político do grupo do que as de ordem econômica. Repercutiu bastante, por
exemplo, a condenação à repressão do movimento estudantil na China,
interpretada, pelo regime chinês, como velada ameaça e respondida, por tal razão,
com outra, de idêntico teor. Ou seja, a de que qualquer sanção econômica,
militar ou política contra Pequim será interpretada, por suas autoridades, como
interferência em seus assuntos nacionais internos. E que uma atitude dessa
espécie pode redundar em sério risco à paz e à estabilidade mundiais.
Outro ponto enfocado pelos ricos foi o do
narcotráfico internacional. Aí também, no entanto, os sete dirigentes se
limitaram a fazer apelos, comentários e exortações para produtores e
consumidores, no sentido de que adotem uma estratégia comum para conter esse
flagelo, a cada dia mais presente em todas as partes.
De prático, mesmo, contudo, como sempre tem ocorrido
em encontros dessa espécie, nada! Tudo não passou, ao que se depreende, de uma
agradável tertúlia de compadres, prontos a defender seus interesses, e apenas
eles, sem se importar com o que ocorre com os demais povos.
Em termos de tratamento para a dívida, foi mantido o
esquema perverso que até aqui persistiu. Ou seja, o de exigir que cada devedor
reorganize a sua casa, economicamente falando, como se isso fosse possível,
face à monumental sangria de capitais que ocorre, anualmente, no Terceiro
Mundo, para os bancos das sete potências, perpetuando um estado de tensão
impossível de se atinar até onde poderá chegar. E que Deus tenha piedade de
nós, insensatos terceiromundistas endividados!
(Artigo publicado na página 16, Internacional, do
Correio Popular, em 18 de julho de 1989)
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