Tuesday, February 23, 2016

O que é fato na História?


Pedro J. Bondaczuk

A História, tal como a conhecemos e a estudamos na escola, é constituída por pelo menos 95% (ou muito mais) de especulações, ficção, imaginação, invenção enfim (por mais verossímeis que pareçam, ou que sejam) do que propriamente de fatos que são, quando muito, só 5% (exagerando para mais). Embora afirmação como esta irrite historiadores e faça os descerebrados (que se recusam a raciocinar) tentarem ridicularizar quem a faz, é questão, até, de puríssima lógica. Afinal, por muitíssimo tempo (quanto? Ninguém sabe!), o homem não dispunha de escrita. Supõe-se que por milênios e mais milênios (quantos?) os povos primitivos, todos eles sem exceção, não contaram com nenhuma forma para registrar, minimamente, acontecimentos, idéias, especulações etc.etc.etc. Tudo e todos dessa época (de quanto tempo?) perderam-se no absoluto esquecimento. Para a história e para a cultura, não existiram, embora tivessem nascido, amado, odiado, sofrido, pensado e morrido.

Quem aqueles homens e mulheres foram, como e onde viveram, o que fizeram? Ninguém sabe e jamais saberá. Há quem creia, sem o menor laivo de dúvida, nas versões existentes (e consagradas) dos historiadores desse remotíssimo período, como sendo lídima expressão da verdade. Quem age assim, contudo, não exercita o espírito científico. A ciência exige provas de tudo o que se afirma. Não se satisfaz, portanto, com simples crenças, por mais verossímeis que sejam. Que houve civilizações até mesmo prósperas e razoavelmente evoluídas, a arqueologia comprova. Até a antiguidade de muitas dessas tantas cidades de passado tão distante pode ser razoavelmente determinada mediante o científico método de datação do Carbono 14. Mas é impossível de se saber quais os personagens que as erigiram, habitaram, e governaram. Quais foram essas pessoas que moveram guerras, que amaram, odiaram, construíram, destruíram, pensaram, tiveram crenças, concordaram, divergiram etc.etc.etc?. Não há como saber!

Essa longuíssima digressão destina-se a tentar responder perguntas de alguns leitores sobre quando o homem começou a filosofar e quem foi o primeiro a se preocupar e tentar responder as quatro questões fundamentais que, ao fim e ao cabo não foram respondidas, ainda, até hoje. Óbvio que jamais iremos saber. Não há como. Primeiro, porque, reitero, não havia sido inventada a escrita. E depois da invenção desta, a totalidade dos registros dos primitivos filósofos se perdeu, ora por causa de guerras, ora por desastres cósmicos ou da natureza (terremotos, furacões, vulcões etc.etc.etc.), ora por tantos outros motivos. O fato é que eles não existem.

Jostein Gaarder escreveu, no livro “O mundo de Sofia” a propósito dos filósofos da natureza (que certamente viveram milênios, e não se sabe quantos, depois dos verdadeiros pioneiros da Filosofia): “(...) A maior parte das coisas que os filósofos da natureza disseram e escreveram ficou para sempre perdida no passado. O pouco que restou chegou até nós através dos textos de Aristóteles, que viveu cerca de duzentos anos depois dos primeiros filósofos (...)” Gaarder, aqui, referiu-se, obviamente, aos primeiros cujas obras Aristóteles conheceu e cujas idéias registrou para a posteridade. Com isso, prestou inestimável serviço à Filosofia e à cultura.

O escritor norueguês prossegue em sua explanação: “(...) Aristóteles apenas resumiu as conclusões a que os filósofos antes dele haviam chegado. Isso significa que jamais saberemos como eles chegaram a tais conclusões. Mas sabemos o suficiente para afirmar com certeza que o ‘projeto’ dos primeiros filósofos gregos era especular sobre a substância primordial e sobre as transformações da natureza (...)”.Dessas especulações “nasceram” as ciências, tal como as conhecemos. É possível, se não provável, que esses filósofos da natureza, aos quais Aristóteles identificou, abasteceram-se de idéias, de princípios e de conceitos de antecessores. Mas dos quais? De quando? De onde? Infelizmente não sabemos e certamente jamais saberemos. Uma pena!!! Esses pensadores não lograram conseguir a única forma de “imortalidade” acessível ao homem: a da memória. 

É possível (será provável?) que esta nossa tão avançada (e badalada) civilização tecnológica desapareça, em consequência de algum cataclismo cósmico ou de uma guerra nuclear (o que parece mais iminente) que deixe escassíssimos sobreviventes. Nesse caso, o homem, certamente, retroagirá à barbárie. Todo o vastíssimo conhecimento acumulado por milênios pode (e nesse caso vai) se perder. Se tal ocorrer, a tendência é de nossos descendentes desse hipotético (mas não impossível) futuro ignorarem por completo quem foram, por exemplo, um Einstein, um Newton, um Freud, um Steve Jobs etc.etc.etc., que fizeram do nosso tempo o que ele é. Pense nisso, caro leitor. Já aconteceu no passado, conforme descobertas de arqueólogos. Por isso não dá para jurar que não ocorrerá de novo no futuro.


Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk 

No comments: