Seria
o fim das ditaduras?
Pedro J. Bondaczuk
O presidente norte-americano George Bush, cuja linha
política básica, em geral, é a mesma do seu antecessor, Ronald Reagan, e que,
portanto, tem uma alergia patológica a ditaduras e a ditadores, assinalou, ontem,
durante cerimônia realizada em Washington, que os anseios de liberdade e de
democracia estão mais fortes do que em qualquer outro tempo no mundo.
A despeito de tudo isso, porém, dos 159 países com
assento nas Nações Unidas, cerca de 90 (portanto, bem mais da metade) vivem,
tecnicamente, sob alguma espécie de tirania. Calcula-se que cerca de 4 bilhões
de seres humanos, em conseqüência, estejam com a liberdade tolhida, vivendo sob
algum regime de exceção.
Mas o importante em tudo isso é que, após a ascensão
de Reagan na Casa Branca, e durante os seus dois mandatos, o número de golpes
de Estado caiu abruptamente. E dos poucos acontecidos, muitos foram para
derrubar ditaduras de muitos anos, como foram os casos do Haiti, de “Baby Doc”
e das Filipinas, de Ferdinand Marcos.
Ficou claro, de uns tempos a esta parte, que a
própria mentalidade da sociedade mais democrática do mundo, sofreu uma certa
mudança neste aspecto. Agora, os norte-americanos já admitem que aquilo que é
bom, desejável e até vital para eles, tende a ser, igualmente, excelente para
outros povos menos evoluídos, econômica e culturalmente.
Em seu discurso de ontem, Bush reafirmou o que havia
dito ao tomar posse. Ou seja, que seu mandato estava inaugurando tempos muito
difíceis para ditadores. Como que correspondendo às suas palavras, em 3 de
fevereiro passado caía, na nossa América do Sul, uma das ditaduras mais antigas
do mundo, a do general Alfredo Stroessner, no Paraguai.
Logo a seguir, acelerava-se o processo de abertura
política nos países do Leste europeu, mormente na Polônia, onde o ex-proscrito
sindicato Solidariedade deu um banho, nas urnas, nos comunistas, e os
legisladores que elegeu tomaram posse, normalmente. E na Hungria, onde até Imre
Nagy foi plenamente reabilitado pela Justiça e pelo governo, e teve funerais,
três décadas depois da morte, com honras de chefe de Estado. Quem diria!
Isto, para não falar da União Soviética, onde mesmo
enfrentando uma série de problemas, o líder Mikhail Gorbachev vem dando
continuidade ao seu dramático programa de abertura, sem interrupções. Esta
onda, ao que tudo indica, tende, somente, a crescer.
Os tempos em que vivemos, onde, como disse Reagan
recentemente, um simples disquete de computador pode derrubar uma ditadura, não
comportam mais tiranetes caricatos, que só chegam ao poder quando respaldados
por muitos dólares.
(Artigo publicado na página 11, Internacional, do
Correio Popular, em 22 de julho de 1989)
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