Líder
populista passa a ser vidraça
Pedro J. Bondaczuk
A
República da Rússia, maior, mais rica e mais populosa da União Soviética, vai
viver, amanhã, uma experiência inédita em sua milenar história, que será a
primeira eleição livre e democrática para a escolha de seu dirigente máximo, o
presidente executivo, cargo que foi criado oficialmente em maio passado.
A
criação dessa função, por outro lado, foi resultado também da manifestação
soberana do seu povo nas urnas, no plebiscito de 17 de março passado, outro
fato positivo que merece destaque. Além da Federação Russa escolher seu líder
máximo, Moscou, hoje uma metrópole de 9 milhões de habitantes, irá eleger seu
prefeito, que ficará, assim, legitimado democraticamente para modernizar a
cidade, que hoje cresce caoticamente.
Apesar
de votações democráticas nunca serem isentas de surpresas, pouquíssima gente
duvida que o principal rival do presidente Mikhail Gorbachev e atualmente o
político que goza de maior popularidade em toda a URSS, Bóris Yeltsin, irá
colher uma consagradora vitória.
Doravante,
todavia, esse reformista radical, que há seis anos é freqüentador das manchetes
da imprensa internacional pelas declarações bombásticas e gestos impulsivos de
desafio ao regime, terá a sua "hora da verdade".
Há
os que o consideram o homem do momento e os que o acham "um
embusteiro". Ao passar a deter efetivo poder de mando na República que
constitui a essência, a própria alma da União Soviética, os olhares, tanto do
seu próprio povo, quanto do mundo inteiro, estarão concentrados em sua
administração.
Têm
sido tantas e tão espetaculares as promessas de palanque que ele tem feito, que
seu julgamento, como administrador, será certamente implacável.
De
duas, uma: ou Yeltsin se consagra, ofuscando e até apagando a estrela de
Gorbachev, que tem resistido teimosamente às crises e desacertos, ou desaparece
de vez do cenário político. Afinal, o que o reformista radical está postulando,
com tamanho empenho, não é nenhum cargo honorífico ou comenda por suas idéias
supostamente liberais. Está, isto sim, assumindo uma responsabilidade maiúscula
perante os russos, que o têm como verdadeiro "salvador da pátria",
neste momento crítico que a superpotência do Leste europeu atravessa.
Seus
concorrentes, dos quais dois se destacam, por sua nítida vinculação com
Gorbachev, têm poucas chances de vitória, a se acreditar nas pesquisas de
opinião e nas projeções que circulam por aí. Um deles é o ex-primeiro-ministro
Nikolai Ryzhkov, que foi forçado a renunciar em dezembro de 1990, depois de
haver "bombardeado" o decantado "Plano dos 500 Dias",
elaborado por economistas vinculados a Yeltsin, e que se propunha a pôr fim à
crise econômica soviética nesse curto prazo. O outro, apresenta um perfil mais
"palatável" para o eleitorado, por ser tido como notório liberal e
que por essa razão teria sido afastado da chefia do Ministério do Interior, no
ano passado.
Trata-se
de Vadim Bakatin, contra quem pesa o fato de não ter conseguido desfazer o
clima de guerra civil no país, em especial nas regiões do Báltico e do sempre
agitado território delimitado pelos Montes Urais. Reitere-se que nenhuma
eleição é vencida na véspera.
Todavia,
caso prevaleça um mínimo de lógica, Yeltsin conta, nos momentos que antecedem
essas históricas eleições, com mais de 80% de possibilidades de vir a ser o
primeiro presidente da República da Rússia eleito pelo voto direto e o segundo
em toda a história da URSS, já que essa primazia cabe ao georgiano Zviad
Gamsakhurdia, que venceu de forma esmagadora o pleito presidencial de fins do
mês passado na rebelde Geórgia.
(Artigo
publicado na página 17, Internacional, do Correio Popular, em 11 de junho de
1991).
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
No comments:
Post a Comment