Grandes epidemias e a
Literatura
Pedro
J. Bondaczuk
A grande “vedete” do
noticiário nacional (e de uns dias para cá, também internacional), rivalizando
com as onipresentes notícias políticas –
que polarizam os veículos de comunicação de todo o mundo – e com
informações de caráter policial, referem-se ao célere alastramento do zika
vírus pelas Américas e que já está chegando à Europa, ameaçando se transformar
da epidemia que já é em uma pandemia, de conseqüências imprevisíveis. Tanto
isso é real, que a Organização Mundial de Saúde decretou, anteontem, dia 1º de
fevereiro de 2016, em sua sede, em Genebra, na Suíça, estado de emergência
sanitária, por conta dessa ameaça. Destaque-se que providências radicais, como
esta, são adotadas, somente, em casos de extremo risco global, como
provavelmente, é mais este grave perigo à população não mais de áreas
restritas, mas de todo o Planeta.
Este, que é o maior
nível de alerta mundial do organismo vinculado à Organização das Nações Unidas,
foi adotado principalmente por causa da provável (embora ainda não confirmada)
vinculação entre o zika vírus e a microcefalia. Um leitor solicitou-me que
comentasse mais esta ameaça à humanidade e tentarei atendê-lo da melhor maneira
possível. Todavia, lembro que, embora tenha inegável fascínio pela Medicina,
não sou médico. Meu enfoque, portanto, não pode ser este, até para não escrever
bobagens. Ademais, meus conhecimentos de Biologia são, apenas, aqueles que me
possibilitaram ser aprovado em Vestibular, há quase meio século. Ou seja, é de
leigo, não de especialista. Só posso (e devo), pois, enfocar a questão sob o
ponto de vista literário, pois esta é, mesmo que com muitas lacunas, a minha
praia.
Entendo que a melhor
forma de tratar do tema, sem correr nenhum risco de desinformar os leitores, é
a de abordar como escritores de ficção trabalharam o assunto referente a
epidemias – reais e fictícias –, tanto em romances, quanto em contos, peças de
teatro e roteiros de cinema. Aliás, a literatura a respeito nem mesmo é tão
farta. Não me consta que algum ficcionista já tenha tratado do zika vírus, até
porque, este agente patogênico é ainda relativamente recente. Mas se ninguém
tratou dele, vários já trataram do seu agente contaminador, o teimoso e
resistente Aedes Aegypti, transmissor de outras tantas doenças, como a dengue,
o chicongunia e... a febre amarela.
Sobre as duas primeiras
patologias citadas, não conheço nenhum livro, se é que algum já tenha sido
escrito, no que não acredito. Mas, sobre a febre amarela, há vários, e bons,
romances, cujo teor e cujos autores abordarei oportunamente, na sequência desta
série de comentários. Aliás, uma epidemia dessa doença quase varreu a cidade em
que resido, Campinas, do mapa, em finais do século XIX. Reduziu sua população,
que na época, se não me engano, era maior do que a de São Paulo, de cerca de
100 mil pessoas, para algo em torno de cinco mil. Quem não fugiu daqui, acabou
morrendo de febre amarela, que também grassou no Rio de Janeiro, onde
igualmente fez muitas vítimas fatais. Neste caso, cito dois grandes romances,
ambos escritos por escritores meus amigos. O primeiro é “A febre amorosa”, do
saudoso Eustáquio Gomes (falecido em 2014). Trata-se de magnífico escritor
(além de incomparável figura humana), que não foi devidamente valorizado como
merecia. Tive o privilégio e a honra de ser não somente seu companheiro de
trabalho, na redação do Correio Popular (era jornalista exemplar, modelo para
as novas gerações do jornalismo), mas, sobretudo, seu amigo.
O segundo romance tendo
por tema a epidemia de febre amarela, que dizimou Campinas e cujo pico ocorreu
em 1889, é “O ovo da serpente”. Seu autor é o advogado e ex-procurador da
Prefeitura de Campinas, Jorge Alves de Lima, de 75 anos. Além de presidente do
Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Campinas, ele é membro da
Academia Campinense de Letras, que tenho orgulho de também integrar e...
principalmente (para mim) é meu amigo.
Esse mosquitinho
terrível, originário do Egito, transmissor da febre amarela, dengue,
chicongunia e zika, bem que merece o nome científico que os biólogos lhe deram.
“Aedes”, em grego, significa “odioso”. Pudera! Amoroso é que não poderia ser!
Lembro o leitor, o que me sugeriu este assunto, que já tratei dele aqui mesmo,
neste espaço, em forma de editorial, intitulado “Epidemias como temas de
romances”, publicado em 15 de abril de 2015. O ilustre amigo virtual certamente
não leu o referido texto. Não faz mal. Espero que leia a série de comentários
que me proponho a escrever doravante, para atender sua solicitação. Desta vez,
todavia, proponho-me a estender a abordagem, trazendo novas informações a
propósito, o que, espero, virá a ampliar o conhecimento dos que me derem a
honra de sua leitura diária, e o meu também, (por que não?) que serei forçado a
pesquisar novas fontes, para não escrever bobagens.
Para deixar-lhes um
“gostinho de quero mais”, tomo a liberdade de reproduzir o primeiro parágrafo
do referido editorial que citei, que foi adaptado e publicado em vários outros
espaços da internet ao meu dispor com o mesmo título:
“A maior ameaça à vida
humana – das tantas e tantas que podem extinguir nossa frágil espécie – talvez
não seja o choque de algum cometa, ou de um meteorito de grande porte com o
Planeta (possibilidade que não é nada remota) e nem mesmo uma impensável, porém
possível, guerra mundial, com o uso maciço de armas nucleares, como
prognosticam os “profetas do apocalipse”. Convenhamos, esses perigos são
concretos. São como uma roleta russa para a humanidade. São catástrofes que
podem ocorrer sem nenhum aviso, a qualquer momento, e acabar com nossa
arrogante espécie. Todavia, para muitos especialistas, o risco maior á nossa
sobrevivência talvez venha de seres vivos minúsculos, microscópicos, tão diminutos
que são invisíveis a olho nu. Refiro-me a vírus e bactérias sumamente mortais,
como os do ebola e de tantas outras doenças letais, muitos sequer não
identificados ainda, que podem causar uma pandemia global incontrolável. Esse
sempre foi meu temor”. Por enquanto...
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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